Finalmente teve início a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU – COP26, em Glasgow, na Escócia. Em boa hora, mais de 190 líderes mundiais e investidores privados se reúnem no evento climático global mais significativo em meia década.
A conferência das Nações Unidas se autodenomina “a última e a melhor chance de salvar o mundo”. Ao longo de 12 dias de negociações, a COP26 promete entregar planos de ação vinculantes para atingir as metas do Acordo de Paris definidas na COP21. Com certeza, os líderes e os investidores mundiais estarão sob pressão para intensificar seus compromissos e suas metas de redução de emissões de CO2.
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Embora muitas dessas promessas climáticas estejam compreensivelmente focadas em sistemas de energia, também é necessário olhar para outras estratégias para enfrentar a mudança climática. A peça que falta no complexo quebra-cabeça dos impactos ambientais negativos é olhar além das energias renováveis, é olhar também para a economia circular.
A recém pesquisa conduzida pela Ellen MacArthur Foundation mostra que a transição para a energia renovável pode resolver apenas 55% das emissões globais de gases de efeito estufa. Soluções circulares são necessárias para lidar com os 45% restantes das emissões geradas pela indústria, agricultura e uso da terra. A economia circular tem um papel crítico a desempenhar para nos ajudar a atingir as metas climáticas.
Assim, não se pode deixar passar em branco e afirmar que o comportamento humano é o grande responsável pelas mudanças climáticas. Basta observar que, desde a revolução industrial, o planeta segue na direção desenfreada de produção e consumo. O apelo global está na direção de um freio de arrumação desse consumo exacerbado e uma tomada de decisão que coloque o consumo circular como premissa global para o desenvolvimento equilibrado do mundo.
Estamos desperdiçando muito, repito, pois é o que tenho escrito nesse espaço reiteradamente. A nossa cultura e economia é de pegar e desperdiçar. Descartamos produtos e materiais muito rapidamente no intervalo entre a produção e o final do uso. Há uma dependência total de sistemas de “resíduos”, o que torna ainda mais desafiadora a mudança de mentalidade para o consumo circular.
O nosso desperdício está fora de controle. Hoje, o mundo produz mais de 2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos e a estimativa é que cresça para 3,4 bilhões de toneladas até 2050, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Cerca de um terço desses resíduos não é gerenciado adequadamente. Em volume, o lixo global inclui 44% de alimentos e orgânicos, 17% de papel e 12% de plástico – todos valiosos.
Desperdiçamos comida todos os dias, mesmo quando milhões passam fome. Do setor de alimentos, são originados 22% das emissões globais e 30% do consumo de energia. Ao mesmo tempo, quase um terço de todos os alimentos produzidos é desperdiçado e o desperdício de alimentos continua a ser o principal produto encontrado em aterros sanitários. Estamos jogando dinheiro no lixo.
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Uma economia circular elimina o conceito de desperdício, produz um sistema de ciclo mais fechado, onde os materiais e produtos são mantidos em uso pelo maior tempo possível. Em outras palavras, é um sistema onde jogar fora bens valiosos não é mais uma opção. Ao fazer isso, os modelos de negócios criam valor econômico e estimulam a inovação.
Já existe uma infinidade de inovadores abordando os desafios de hoje. Empresas como a Enjoei e a Rede Asta, que fomentam plataformas digitais de mercados de roupas vintage ou de segunda mão, a ecycle, que implementa sistemas de embalagem reutilizável para alimentos e a bio-bean, que transforma restos de café em energia limpa. Mesmo corporações globais como a Danone estão a bordo dessa agenda.
É premente que cada um de nós repensemos nossas atitudes em relação ao meio ambiente. A nova regra está no consumo de produtos de marcas que possuem um propósito ético de gerar impactos sociais e ambientais positivos. Ainda há tempo, temos a última e melhor chance de salvar o planeta.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
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