Acompanhar Jackie Stewart no paddock do Grande Prêmio São Paulo de Fórmula 1 dá uma ideia de sua importância para a principal categoria do automobilismo mundial. Apesar de sua estatura modesta (1,63 m), não há quem não reconheça de longe o escocês voador e pare para pedir uma foto ou um autógrafo ao piloto tricampeão de Fórmula 1 e maior rival do brasi-leiro Emerson Fittipaldi na época (eram rivais porém amigos).
Aos 82 anos, Sir Stewart ainda é figura frequente no circo da F-1 em todo o mundo. Não apenas por ser embaixador da Rolex, uma das patrocinadoras do evento, mas também por sua carreira como comentarista de automobilismo e por sua atuação em prol da segurança na categoria na década de 1970. “Tivemos quatro pilotos mortos em quatro Grandes Prêmios consecutivos. Éramos uma comunidade, e nossos amigos estavam morrendo. Algo tinha de ser feito”, relembra com sua voz aguda e seu sotaque carregado.
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Depois de sofrer um grave acidente que o deixou afastado das pistas e ver os colegas de grid morrerem, Jackie Stewart tornou-se um grande ativista pela segurança de pilotos, carros e autódromos da categoria. Como presidente da associação de pilotos (Grand-Prix Drivers’ Association), o escocês brigou pelo uso de capacetes fechados e macacões antichama. Foi um dos responsáveis pela exclusão de algumas pistas, como o antigo traçado de Nurburgring. “O esporte se desenvolveu muito. A TV e a mídia também têm muito a ver com isso”, acredita.
Para o tricampeão, o perigo é o que atrai o público para a Fórmula 1, mas a evolução dos carros e da segurança dos pilotos faz com que o esporte esteja mais forte do que nunca. Hoje o orçamento anual de equipes e pilotos gira em torno de US$ 2,6 bilhões.
Mais segura, o próximo desafio da categoria é se tornar mais sustentável. A meta, definida pelos próprios organizadores, é que a F-1 se torne neutra em carbono até 2030. Mas se engana quem pensa que são os carros os maiores responsáveis pela enorme pegada de carbono – estimada em cerca de 260 toneladas em 2018.
Equipados com motores híbridos de última geração, os bólidos do grid respondem por ínfimos 0,7%. Já as viagens e todo o aparato logístico para que as provas aconteçam em todo o mundo produzem, juntos, cerca de 70% do carbono gerado pela categoria. A F-1 planeja compensar essas emissões por meio de uma combinação de replantio de árvores e uso do know-how de engenharia no esporte para desenvolver novas tecnologias que possam capturar carbono da atmosfera.
Reportagem publicada na edição 92, lançada em novembro de 2021.