Belize, um minúsculo país da América Central, localizado no Mar do Caribe, é um dos lugares de maior diversidade cultural do mundo, composto por crioulos, maias e menonitas. O turismo é o principal motor econômico, com pessoas que chegam ao local para mergulhar nas águas cristalinas do oceano e desfrutar de seus recifes de corais imaculados. Eles querem, ainda, ver a maior população de onças do mundo e 800 espécies de aves. A agricultura também gera dinheiro, com o país vendendo bananas, frutas cítricas e açúcar para os mercados mundiais.
Seus 450.000 habitantes vivem em 57.000 km quadrados, compostos por 60% de florestas tropicais – a força vital de sua população indígena. A maior parte é terra não perturbada. É importante ressaltar que ela está atraindo a atenção de corporações e governos nacionais – aqueles que desejam investir em soluções baseadas na natureza para lidar com as mudanças climáticas. Belize venderá 5,6 milhões de toneladas de créditos de carbono até o final do ano.
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De fato, os dados mais recentes dos cientistas mais proeminentes do mundo mostram que as florestas são vitais para mitigar os efeitos do aquecimento. Se a comunidade global está comprometida com o acordo climático de Paris, deve compensar as nações com florestas tropicais por preservarem suas árvores e limitarem a extração de madeira e a agricultura.
“Vamos vender nossos créditos com qualidade e credibilidade. Temos ricas florestas tropicais, que fornecem água e alimentam centenas de espécies de pássaros, plantas e onças”, diz Orlando Habet, ministro do Desenvolvimento Sustentável de Belize. “Belize manteve sua integridade ambiental por anos”, disse ele na COP27, que termina amanhã, em Sharm el-Sheikh, no Egito.
Os “créditos soberanos” valem entre US$ 50 milhões (R$ 270 milhões na cotação atual) e US$ 100 milhões (R$ 540 milhões) para Belize – dinheiro distribuído às comunidades locais e para proteger as florestas tropicais. O governo venderá os créditos soberanos — gerados pelo mecanismo REDD+ sigla para Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal), aprovado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima porque as florestas são medidas e monitoradas. Os créditos são emitidos com base na taxa que os países estão reduzindo o desmatamento.
Pierre Friedlingstein, cientista climático da Universidade de Exeter, no Reino Unido, disse que os níveis de CO2 aumentaram 1% no ano passado – principalmente em função da recuperação da economia. Mas o desafio é garantir o cumprimento das metas estabelecidas pelo acordo climático de Paris, que limita o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius até meados do século em comparação com os níveis pré-industriais. Em termos gerais, as emissões de carbono aumentaram de 10 bilhões de toneladas em 1960 para 36 bilhões de toneladas por ano agora – um número que deve cair drasticamente para evitar a catástrofe climática e manter a saúde econômica.
Os aumentos de temperatura estão agora perto de 1,2 graus. Se não fizermos nada para mitigar as emissões, levará menos de uma década para atingir a marca de 1,5 grau, levando a um clima mais extremo: aquecimento recorde, inundações maciças e derretimento de geleiras. “Quanto maior o aquecimento, maiores os impactos. Já está acontecendo e ficará mais caro”, diz Friedlingstein, principal autor do relatório Global Carbon Budget.
Aí está o valor das árvores e dos oceanos. O ecossistema armazena carbono. Segundo o professor Friedlingstein, para cada tonelada de CO2 emitida, metade fica na atmosfera enquanto a outra metade fica armazenada em florestas ou oceanos. À medida que a dependência do petróleo persiste, as soluções basead as na floresta aumentam de valor. O objetivo é, portanto, administrar a terra e impedir o desmatamento.
Para tanto, as florestas são sumidouros de carbono, absorvendo anualmente 7,6 bilhões de toneladas métricas. Mas devemos reduzir as emissões de carbono em 500 bilhões de toneladas até 2050, de acordo com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Quanto a Belize, usará as receitas do crédito de carbono para conservação, restauração e adaptação climática – ou para se ajustar às mudanças econômicas e sociais causadas pelo aquecimento. Os recursos serão repassados aos tradicionais gestores ambientais e para o desenvolvimento nacional, diz o ministro Habet.
Além disso, Belize negociou um “título azul”. Foi a Nature Conservancy e o Credit Suisse que desenvolveram esse instrumento financeiro. A Nature Conservancy concordou em comprar a dívida soberana do país, se Belize proteger pelo menos 30% de suas áreas marinhas. Belize promete economizar mais de 75%.
O veículo financeiro tem potencial porque os oceanos do mundo também estão aquecendo, o que está matando os recifes de corais e fazendo com que uma alga marinha conhecida como “sargassum” apodreça e polua as praias da América do Sul e do Caribe. A dívida de Belize é complicada, mas o acordo de US$ 364 milhões (R$ 1,9 bilhão) pode preservar a vida marinha do país, que abriga a maior barreira de corais viva do mundo.
Os créditos de carbono estão ligados à preservação da floresta: países ou empresas que não conseguem cumprir suas metas de redução de emissões usando mais energia renovável e eficiência energética podem comprar créditos de nações com florestas tropicais que podem fazê-lo. Muitos países e empresas estão interessados em ver Belize prosperar – desde os Estados Unidos, Europa e China, que consomem seus produtos agrícolas, até a American Sugar Refinery e a Fyffes, que compram suas bananas.
“Nossas florestas tropicais são um patrimônio especial e temos o maior recife de coral vivo do mundo”, diz o Ministro Habet. “Administramos devidamente nossa conservação e conquistamos o direito de vender créditos de carbono. É hora de monetizar isso.”
Os olhos do mundo estarão em Belize – para admirar seus recifes de corais, florestas tropicais e vida selvagem natural, garantindo que suas vendas de carbono sejam transparentes e beneficiem as comunidades locais. A natureza agora tem valor pelos serviços que presta. Uma venda bem-sucedida ajuda Belize e a causa climática, talvez se tornando um exemplo para outros países.
* Ken Silverstein é colaborador da Forbes EUA. Cobre o setor de energia desde os anos 1990.