
A startup de reflorestamento Mombak irá receber R$100 milhões em crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em negócio que envolveu também o Santander Brasil, disse nesta segunda-feira a empresa, que mira um crescimento rápido no mercado de remoção de carbono.
Com o acordo, a Mombak – que compra terras degradadas de agricultores e pecuaristas, ou faz parcerias com proprietários de terras para replantar espécies nativas na floresta amazônica – se torna a primeira empresa a acessar capital do “Novo Fundo Clima” para projetos de restauro florestal.
A versão reformulada do fundo, com apoio do governo, foi lançada em 2023 e prevê aportes para projetos “verdes”.
No acordo com a Mombak, o Santander Brasil forneceu uma garantia bancária, em movimento que sublinha o interesse crescente de bancos privados no setor de remoção de carbono.
O BNDES já havia aprovado uma linha de crédito de até R$160 milhões para a Mombak em agosto do ano passado, mas a startup precisava de um agente financeiro que apresentasse as garantias necessárias para ter acesso ao capital.
“Há um desafio entre obter essa aprovação e realmente poder usar o capital. Acho que estamos atingindo um marco muito importante, que é poder acessar esse capital, e a forma pela qual fizemos isso foi estabelecendo a relação com o Santander”, disse Gabriel Silva, cofundador da Mombak, em entrevista à Reuters.
A Mombak atualmente administra 18 mil hectares, uma área três vezes maior que Manhattan, e até junho espera ter plantado 8 milhões de árvores na floresta amazônica.
Ao reflorestar terras degradadas, a empresa trabalha para gerar créditos de carbono, que outras companhias podem então comprar para compensar suas próprias emissões de gases de efeito estufa.
A Mombak, que tem acordos com compradores como Microsoft, Google e McLaren, possui contratos de remoção de carbono que totalizam US$150 milhões, mas espera triplicar ou quadruplicar o valor este ano, segundo o presidente-executivo Peter Fernandez.
Acesso a capital
Algumas empresas no nascente mercado de carbono do Brasil ainda reclamam da dificuldade de obter empréstimos para reduzir custos de capital e financiar suas operações – que são caras, uma vez que elas precisam comprar terras e costurar parcerias. Muitos investidores ainda veem o setor como arriscado.
A diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello, disse que o acordo com a Mombak pode ajudar a aliviar algumas dessas preocupações. O banco vê o Brasil, onde quase 60% da floresta amazônica está localizada, como bem posicionado para se tornar um líder no mercado de compensação de carbono.
“Esse é o papel de um banco de desenvolvimento… Nós estamos tomando a iniciativa”, disse Campello à Reuters, destacando que a carta-fiança obtida pela Mombak junto ao Santander também foi um sinal positivo.
“Para nós isso é ótimo, porque a gente fica mostrando que o mercado é viável e não só o BNDES está apostando, como outras instituições financeiras estão acreditando”.
O head sênior de sustentabilidade do Santander, Leonardo Fleck, afirmou que acordos como este facilitam o avanço das teses de reflorestamento no mercado, ajudando as empresas a escalar suas operações ao mesmo tempo em que ganham mais confiança junto ao setor financeiro.
“Eles estão vendo que o capital está fluindo, as empresas estão plantando, estão conseguindo contratos de ‘offtake’ desses créditos de carbono com grandes empresas internacionais… Eu vejo muito como um quebra cabeça, você começa a encaixar as peças”, disse Fleck em entrevista.
Com o novo capital, a Mombak espera ampliar seus projetos de reflorestamento no Pará, reforçando o modelo de parceria rural com proprietários de terra locais.
O financiamento à empresa inclui R$80 milhões do Fundo Clima e R$20 milhões obtidos pelo BNDES Finem.
“A primeira operação do Novo Fundo Clima para restauro florestal é simbólica como marco da atuação do governo federal no reflorestamento da Amazônia e da atuação do BNDES como impulsionador de um novo mercado, de um novo caminho para o desenvolvimento do Brasil”, afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.