Ele é o queridinho dos brasileiros – 15% dos seus hóspedes são daqui. Fica fácil perceber o quanto esse público é importante para o Plaza. É comum ouvir pessoas conversando em português na aprazível La Galerie enquanto tomam um café ou se deliciam com o The Croque-Plaza – versão chique do famoso prato francês, que na releitura especial do Plaza traz frango e trufas negras na receita. Com a reforma concluída em agosto deste ano, o empreendimento levou o charme de suas vizinhas, as mundialmente famosas maisons da Avenue Montaigne, para o interior de seus ambientes.
Um dos motivos da reforma foi buscar uma diferenciação dos concorrentes. Fundado em 1913, o Plaza Athénée tinha uma decoração bastante parisiense, que inspirou até mesmo seus rivais. O resultado da reforma é surpreendente. O hotel abraçou definitivamente o universo da haute couture. Não pense, entretanto, que o empreendimento perdeu o charme e elegância característicos de seus 100 anos de história com a modernização. Você continuará sentindo-se imerso em um luxo clássico, ao mesmo tempo em que desfrutará das maravilhas do mundo moderno e tecnológico. Quer um exemplo? Ligar uma bela televisão Bang & Olufsen e ali encontrar centenas de canais de TV do mundo inteiro – as principais emissoras brasileiras estão lá para quem é viciado(a) em novelas – e uma seleção gigantesca de faixas de áudio, além de coletâneas musicais dos mais variados estilos. Adeus radinho de cabeceira.
Após a compra de alguns prédios vizinhos, o Plaza foi ampliado e ganhou 14 novas acomodações, sendo oito suítes e seis apartamentos. A designer de interiores Marie-José Pommereau, responsável por decorar os quartos do empreendimento nos últimos 14 anos, também assinou os ambientes recém-construídos. Sedas foram espalhadas por janelas, poltronas e camas, mais uma inspiração vinda dos luxuo- sos ateliês de costura parisienses. Os espelhos e paredes dos banheiros foram revestidos com mármore Calacata nas cores branca e cinza. Os seis novos apartamentos possuem vista para a Av. Montaigne e, se o cliente desejar, podem ser unificados e se transformam em um único imóvel. Entre as suítes, destacam-se as chamadas Eiffel. Com estilo art déco predominante e móveis em ébano e mogno, todas possuem uma incrível vista para a famosa dama de ferro francesa.
A Eiffel 750 tem dois andares e um terraço privativo com vista de 360 graus para Paris – sem dúvida uma das mais belas e imponentes suítes que já visitei em todo o mundo. Sair da suíte e subir um lance de uma escada externa até um roof top privé com a Torre Eiffel ao fundo e rodeado por Paris é uma experiência difícil de traduzir em palavras e quase impossível de replicar. Localizada no sétimo andar, essa suíte apresenta decoração um pouco mais contemporânea e, digamos, masculina quando comparada às demais. Os tons pastel predominam. Um exemplo é a sala de estar equipada com dois sofás de veludo bege bordados com fios de bronze. O hóspede dessa suíte conta ainda com academia e sauna privativas.
Na Eiffel 888, os tons de lilás e cinza se destacam. Os sofás, também de veludo, são bordados com fios de prata. Na janela da sala de estar, levíssimas cortinas de linho e seda se abrem como em um espetáculo teatral e revelam a personagem principal da decoração: a vista para a Torre. Na Eiffel 361, a Dame de Fer novamente protagoniza a cena. A janela voltada para o principal ponto turístico de Paris recebeu uma moldura de prata e se transformou em um quadro vivo. Agora, o hotel conta com um total de 154 apartamentos e 54 suítes. Também foram agregados à construção dois espaços para eventos de negócios e um salão de festas.
Pode-se dizer que o espírito da alta-costura sempre rondou o hotel. Em 1947, Christian Dior abriu sua maison bem ao lado do Plaza para se beneficiar do público sofisticado que se hospedava por lá. O próprio Dior era visto frequentemente nas dependências do hotel, seja como hóspede ou usuário de seus serviços estéticos. Em homenagem a essa relação, o Plaza Athénée inaugurou, há seis anos, um centro de beleza batizado de Instituto Dior. O espaço dentro do hotel possui seis salas de tratamento. Assim como na haute couture, lá a experiência personalizada também é essencial e os tratamentos de rejuvenescimento são definidos de acordo com as necessidades do cliente. Monsieur Dior está presente em vários ambientes do hotel e, às vezes, em pequenos detalhes como a cor (o tradicional cinza Dior) que estampa algumas cadeiras do bar do Plaza.
A moda ganhou até os ambientes do estrelado Alain Ducasse au Plaza Athénée, um dos mais badalados restaurantes condecorados com a honrosa categoria de três estrelas no Guia Michelin. Embora as refeições aconteçam no mesmo espaço, a atmosfera se tornou completamente diferente no almoço e no jantar graças ao projeto assinado pelos designers Patrick Jouin e Sanjit Manku. É como se o restaurante trocasse de roupa para as diferentes ocasiões. Isso porque as luzes, os arranjos de mesa e os assentos mudam durante o crepúsculo. À noite, a parede do fundo do restaurante se abre e revela um armário com objetos ligados à culinária que contam um pouquinho da história dos utensílios de mesa. Muitos deles pertencem ao acervo pessoal do chef Alain Ducasse. As mesas de madeira cercadas por esculturas de aço inoxidável e couro formam a parceria perfeita com o imponente lustre de cristais Swarovski, que mais parecem delicadas pedras de gelo. O cenário fica ainda mais impressionante quando se percebe os pequenos cristais refletidos nos sofás em formato de conchas prateadas.
Ducasse criou o menu com predominância de peixes, vegetais e cereais. A ideia do chef é promover uma alimentação saudável, com ingredientes simples e que não agridam o meio ambiente. Pescados como lula e sardinha são provenientes da atividade sustentável, realizada por embarcações pequenas. A mesma preocupação existe em relação aos vegetais e cereais, que são cultivados por pequenos agricultores familiares. A comuna francesa de Saint-Gilles, Bernard Poujol, fornecedor do restaurante, optou por colocar patos para proteger sua plantação de arroz. Os animais eliminam os insetos que atacam o arrozal e tornam desnecessário o uso de agrotóxicos.
Na cozinha, Ducasse cria combinações inesperadas. A doçura do melão acompanha a lagosta, assim como tomates marinados interagem com o “tofu sesame”. Tive a deliciosa oportunidade de almoçar no Ducasse (veja o meu menu do dia 31/10/14 na foto) e a comida é divina. Escolhi para a entrada lentilhas verdes da região de Puy com caviar e uma delicada geleia. Depois, frango com trigo de Khorasan e tartufo. Fui recebido pelos chefs de plantão que explicaram sobre o conceito do local e me mostraram a cozinha. Lá, encontrei uma sala de jantar, chamada de aquário, de uso reservado do chef Ducasse e seus convidados. Com as portas fechadas, os comensais não ouvem o barulho de uma cozinha que trabalha em ritmo frenético.
As pinturas de peixes nas paredes completam o decór. Um dos chefs de plantão era um carioca de 26 anos, que vive há cinco em Paris, e já teve passagens por outros restaurantes estrelados. Dele, ouvi um comentário que traduz com perfeição o que é a cozinha de Ducasse: “Ele é um chefe que cozinha cozinhando”. Ele quis dizer, nada mais, nada menos, que apesar das estrelas e da fama, na cozinha de Ducasse se faz comida de verdade, sem muitas invenções ou modismos passageiros. Você come bem… muito bem! Para os amantes de vinho, o restaurante oferece uma seleção exclusiva de Bordeaux da Table Cabane. É uma ótima oportunidade de acesso aos rótulos vintages de um dos mais incríveis vinhedos da França, sem contar que a maior parte deles não está mais disponível no mercado.
O luxo sempre teve um significado todo especial no Plaza Athénée, mas com a recente reforma o hotel garante sua permanência no topo da disputadíssima e seleta categoria de hotéis de superluxo do mundo. É muito difícil encostar-se ao balcão da recepção e pronunciar três simples palavras (em inglês mesmo): “Check-out, please”. Não dá vontade de sair dali nunca mais.