Grandes presidentes têm fome de poder. Mas há um caminho para saciá-los que não passa por uma economia forte, popularidade em alta ou alianças bilaterais bem-sucedidas. E Régis Ferey, ex-chef pâtissier e boulanger do Palais de L’Élysée, a residência oficial do presidente da França, conhece muito bem a resposta: doces e pães feitos com perfeição. Em 2013, ele recebeu o M.O.F. (Meilleur Ouvrier de France) na categoria melhor chef boulanger da França. Graças ao prestigiado título, Ferey tem o direito de ostentar as cores da bandeira de seu país no dólmã, o que o torna uma espécie de embaixador oficial da cultura francesa.
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Em quase 14 anos de trabalho no Palais de L’Élysée, Ferey serviu Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande. “Chirac e Hollande não opinavam em quase nada. O maior desafio foi com o presidente Sarkozy, um amante das sobremesas com chocolate e de sorvete de café, que degustava quase todos os dias”, afirma Ferey.
O marido da cantora Carla Bruni mantinha uma dieta bastante restrita e nunca ingeria bebida alcoólica, optando por água mineral como acompanhamento de todas suas refeições, mas não resistia às delícias açucaradas preparadas pelo chef. “Em relação a sobremesas, ele era o mais gourmet dos presidentes”, diz.
Ferey entrou no Palais de L’Élysée em 2001, no final do primeiro mandato de Jacques Chirac, como chef pâtissier responsável pela decoração dos doces servidos nos banquetes de Estado. Nessa época, o chef costumava trocar a cozinha pelo laboratório de informática. Na frente do computador, ele e sua equipe criavam a decoração das sobremesas em um programa de 3D, tamanha é a perfeição exigida na apresentação. Depois entregavam uma espécie de “piloto” de cada doce para a análise da equipe do cerimonial. Sim, todo esse trabalho era feito apenas para definir como as guloseimas seriam enfeitadas.
“O desafio era inovar a cada apresentação e evitar que a decoração anterior influenciasse na próxima”, diz.
Em 2005, Ferey tornou-se chef pâtissier e boulanger com a missão de organizar jantares de Estado e grandes recepções para a Presidência, tanto na França como no exterior. Ele tinha total liberdade para elaborar as opções de sobremesas e pães, que eram apresentadas ao chef do cerimonial e ao chef executivo do L’Élysée. Nessas situações, o cardápio também é informado aos assessores dos dignatários convidados com o objetivo de atender eventuais restrições alimentares. Apesar da autonomia para realizar os banquetes, uma regra sempre é seguida pelos chefs: o menu precisa ser francês. “Temos muito orgulho de apresentar nossas criações gastronômicas a convidados de todas as latitudes”, afirma.
Ferey deixou o L’Élysée em dezembro do ano passado e atualmente é responsável pelo curso de pós-graduação da escola de culinária Ferrandi, em Paris. Ele também ministra aulas pelo mundo e, em agosto deste ano, esteve na capital paulista para falar sobre doces e pães na unidade da Vila Nova Conceição do mercado Emporium São Paulo. Antes de se dedicar aos presidentes, o chef passou por renomados restaurantes franceses como o Taillevent e Le Grand Véfour e elaborou o programa de confeitaria da Le Cordon Bleu de Lima, no Peru.