Está fazendo 24 graus, é um dia quente em São Francisco, mas Adam Vollmer não está suando ao subir uma ladeira em direção ao Mission Dolores Park. “Eu odiava ir ao trabalho de bicicleta”, diz ele enquanto pedala. “Ao lado da minha casa tem um morro que é quase vertical. Agora não é tão ruim.” Isso porque Vollmer, um engenheiro mecânico de 36 anos, agora recebe um “empurrão” do motor escondido em sua bicicleta.
Como fundador e CEO da Faraday, empresa de bikes elétricas com quatro anos de existência, ele acredita que conseguirá uma fatia considerável do embrionário mercado norte-americano. O consumidor alvo de suas máquinas de US$ 2.500 são pessoas como ele, que querem ir do ponto A ao ponto B num ambiente urbano denso, onde dirigir e estacionar um carro pode ser um pesadelo. Muitos preferem as bicicletas elétricas às mecânicas porque elas permitem que se vá ao trabalho a velocidades de até 32 km/h sem transpirar. Outros simplesmente acham um prazer andar nelas. As bikes elétricas permitem que pessoas que já deixaram de pedalar devido à artrite ou à má forma física voltem às ruas.
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Os usuários das Faraday têm opções. Se não pressionarem o botão azul situado na parte traseira do controlador, uma caixa retangular do tamanho de uma carteira grande que fica sob o selim, a Faraday funcionará como uma bicicleta comum. Uma vez ligado o motor, que vai embutido no eixo dianteiro da bike, o farol e a lanterna se acendem, e um interruptor no guidão esquerdo permite escolher potência média ou alta. Comece a pedalar, e um sensor no pedal ativa o motor. Quanto mais intensas as pedaladas, maior a ajuda motorizada, o que faz com que os morros pareçam planos.
A Faraday tem muita concorrência nesse mercado, que é pequeno, mas crescente. No ano passado, as vendas de bicicletas elétricas nos EUA chegaram a US$ 400 milhões – bem mais que os US$ 100 milhões de 2012 –, de acordo com Edward Benjamin, presidente da Light Electric Vehicle Association, grupo comercial do setor. É um valor diminuto perto das vendas de US$ 5 bilhões na Europa em 2015 e das vendas de US$ 10,8 bilhões na China. Mas os usuários chineses usam as bicicletas elétricas por causa da necessidade econômica e da poluição sufocante. Os europeus adotaram as bicicletas há muito tempo, inclusive os modelos elétricos, como meio de transporte para ir e voltar do trabalho. Nos EUA, onde a cultura do carro predomina e o ciclismo é visto como lazer, só agora as bicicletas elétricas começaram a se popularizar. “Os EUA estão dez anos atrás da Europa”, diz Benjamin. Mesmo assim, mais de 150 marcas se aglomeram no mercado norte-americano.
Até as montadoras de automóveis vêm dando sinais de interesse. Em outubro do ano passado, na conferência mundial de negócios da GM em Milford, Michigan, a empresa apresentou um modelo-conceito. Em 2015, a Ford desenvolveu protótipos de três bikes elétricas dobráveis: uma para ir ao trabalho, outra para serviços de entrega e a terceira para lazer.
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O que distingue a Faraday é seu design elegante. Enquanto as concorrentes tendem ao desajeitado e ao utilitário, os dois modelos da Faraday, Porteur e Cortland, imitam as bicicletas de passeio britânicas da década de 1960. Ambos ostentam para-lamas laqueados de bambu e empunhaduras de couro marrom. Impulsionadas pela melhoria das ciclovias em cidades como Nova York, Miami e Los Angeles, as vendas deram um salto, passando de US$ 1 milhão em 2014 para US$ 2 milhões em 2015. Ele espera receitas de US$ 4 milhões em 2016 e prevê obter lucro em 2017.
Em 2008, com diplomas de engenharia mecânica por Stanford e pelo MIT, Vollmer foi para a Ideo, empresa de design de Palo Alto que ficou famosa por criar o primeiro mouse da Apple. Quando um grupo chamado Oregon Manifest convidou a Ideo a participar de um concurso para reinventar a bicicleta moderna, em 2011, ele montou uma equipe e pôs a mão na massa, fazendo horas extras à noite e nos fins de semana. O objetivo era projetar uma bicicleta que fosse eficiente, gostosa de usar e linda. Um dia, ao passar pelo showroom da Tesla, a equipe decidiu pelo nome Faraday, que remete ao britânico pioneiro da tecnologia eletromagnética no século 19.
A Faraday ganhou o concurso e, em troca de uma pequena participação acionária, a Ideo concordou em fornecer capital inicial e prestar serviços de design. Desde então, Vollmer fez duas campanhas no Kickstarter que, juntas, angariaram US$ 365 mil e obteve recursos com investidores anjos como Biz Stone, cofundador do Twitter, e Matt Eggers, ex-vice-presidente de vendas da Tesla. Vollmer e seus seis funcionários trabalham num escritório de 140 m2, escondido numa travessa entre as sedes do Airbnb e do Pinterest, em São Francisco. O empresário logo descobriu que quase toda a fabricação se mudou para a Ásia. Assim, o pessoal da Faraday projeta os quadros e a parte eletrônica, as peças são adquiridas na Ásia e as bicicletas são montadas em Taiwan.
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A maioria das elétricas chinesas custa US$ 300 e usa as pesadas baterias de chumbo-ácido, cuja carga acaba depois de 30 quilômetros. Desde 2003, praticamente todos os modelos europeus e norte-americanos contam com leves conjuntos de baterias de íon de lítio, que fornecem energia para até 160 quilômetros. Os modelos da Faraday usam a tecnologia “pedal assist”, por meio da qual o motor só é ativado quando o ciclista começa a pedalar. “As pessoas querem a sensação de andar de bicicleta e querem fazer exercício”, diz Vollmer. “Elas só não querem suar feito loucas.” O mercado dele são “pessoas que já pedalam um pouco”. É o caso do próprio Vollmer, que admite que ainda sai com seu Mazda 2006 quando quer passar o fim de semana no Vale de Napa. “Mas de segunda a sexta”, diz, “faço tudo que posso para evitar dirigir meu carro.”