As delicadas e coloridas casas enraizadas em rochas e a inebriante vista para o Mar Mediterrâneo fazem jus a toda a fama que o microestado adquiriu em seus mais de 700 anos de história. Essa é a sensação que se tem logo ao pisar no principado. Com tempo e calma para explorar sua beleza imaculada, o encanto fica guardado para sempre na memória.
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A convite do grupo Société des Bains de Mer (SBM), FORBES explorou a terra dos Grimaldi e pôde ver como novas iniciativas de nosso anfitrião preservam, valorizam e reinventam o icônico balneário. O grupo SBM é dono e responsável pela gerência do mundialmente conhecido Casino de Monte-Carlo, palco de uma noite inesquecível que relataremos a seguir, de diversos hotéis – como o Hôtel Hermitage (onde nos hospedamos), o Hôtel de Paris, o Monte-Carlo Bay Hotel & Resort e o Monte-Carlo Beach –, além de restaurantes, empreendimentos imobiliários, bares e spas, entre outros negócios.
Jantar surrealista reuniu a princesa Caroline, celebridades e os habitués do cassinoPode-se afirmar que, literalmente, não existe tempo ruim em Mônaco – são cerca de 300 dias de sol por ano, levando ainda mais vida e graça aos 2,2 quilômetros quadrados que compõem o principado. E, a qualquer hora do dia, não há como esperar menos do que um serviço impecável, gastronomia de chefs estrelados e experiências únicas.
O conforto, a atenção com os hóspedes e o cuidado com os detalhes do cinco-estrelas Hermitage são nítidos desde a chegada à propriedade. No quarto, rosas brancas e pequenos macarons da francesa Ladurée dão as boas-vindas. A perfeita decoração clássica em tons claros de azul é complementada pela ampla janela com vista para o Mediterrâneo.
Para os amantes de arquitetura, o hotel reserva atrações à parte: incontáveis vitrais, lustres e pisos dignos de um palácio. O mezanino, onde o lauto café da manhã é servido, ostenta uma cúpula surpreendente, de autoria de Gustave Eiffel. É mais que um convite para apreciar a infinita variedade de queijos franceses, croissants e opções internacionais, preparadas na hora. Para relaxar, basta descer ao subterrâneo do hotel e aproveitar as Thermes Marins de Monte-Carlo e seu spa, reconhecido como um dos melhores do mundo.
No verão, Mônaco é um dos destinos mais procurados da Côte D’Azur por seu agradável percurso à beira do oceano, pela visão dos incontáveis iates atracados e pela badalada Place du Casino, onde fica o cassino de Monte-Carlo, o Café e Casino de Paris e o recém-reformado Hôtel de Paris. Bem próximo, a passos de distância, estão os Pavillons Monte-Carlo, charmoso centro de compras a céu aberto, com as principais grifes mundiais – Bottega Veneta, Miu Miu, Piaget e outras de igual estirpe. Aqui, um detalhe importante: se subidas não o incomodam, tudo em Mônaco pode ser feito a pé – mas, considerando que as ruas da cidade se transformam em pista para uma das etapas mais famosas da Fórmula 1 e a profusão de supermáquinas que normalmente trafegam por suas vias, é provável que a vontade de acelerar fale mais alto.
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O que independe da estação do ano, do sol e até mesmo da hora do dia é o funcionamento dos cassinos. Pascal Camia, diretor geral de cassinos da SBM, contou à FORBES como os estabelecimentos funcionam. O Café de Paris é focado em máquinas eletrônicas e apostas mais baixas, com um fluxo maior de pessoas; funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, e atrai uma clientela mais jovem. Já o Casino de Monte-Carlo, o ícone máximo da arte dos jogos, é uma joia da Belle Époque, em funcionamento desde 1863. Em seus suntuosos salões desfila a nata dos apostadores mundiais.
Foi ali que vivenciamos o mais que surpreendente “Jantar Surrealista”, um evento para 120 convidados seletos, incluindo a princesa Caroline, as atrizes Catherine Deneuve, Isabelle Huppert e Chiara Mastroianni, além dos melhores clientes do cassino.
Foi a segunda noite do tipo promovida pelo grupo SBM junto do designer e artista plástico belga Charles Kaisin. O objetivo da performance era “levar uma experiência inesquecível” aos presentes, uma experiência única. A temática da noite, “The Game of Love and Chance”, ficava clara conforme as horas iam passando. Logo na entrada, os convidados eram recebidos em uma instalação batizada de “Let’s Fall in Diamonds”, também de autoria do artista. O ambiente inteiro estava decorado com tecido estampado de padronagem de losangos nas cores branco e vermelho. Após a recepção, os convidados foram levados à Salle Blanche, ambientada com sons similares aos de uma floresta, onde foi servido um jantar com diversos tempos, elaborado por Franck Cerutti, chef executivo do Hôtel de Paris Monte-Carlo.
Para surpresa do público, não havia mesas no salão, o que foi logo resolvido com a chegada do primeiro prato. Ele foi servido em “mesas humanas”. Homens com a cabeça enfiada em mesas com um buraco no meio surgiram em fila e se ajoelharam na frente dos convidados – cada um deles ficou ali, com a cabeça no meio da mesa, assustadoramente, durante todo o jantar. Que começou com uma delicada sopa à base de flores e vegetais. Terminada a sopa, os homens se levantaram e saíram, “vestindo” cada um sua mesa apoiada nos ombros e a cabeça atravessando o buraco no tampo. Então bailarinas trouxeram o segundo prato, um estranho caldo verde, servido em um tubo de ensaio!
Uma reprodução do quadro Three Graces, do artista Paul Jean Gervais, era a peça central do salão – até que, em determinado momento, ganhou vida. Três artistas saíram dele e apresentaram-se ao público, representando três cortesãs que fizeram parte da história do Casino: Émilienne d’Alençon, Liane de Pougy e Belle Otéro. Nesse meio-tempo, colocaram diante de nós mesas de verdade – três fileiras para 40 pessoas cada uma. Araras e cacatuas sobrevoaram os convidados de maneira sincronizada, seguindo as ordens da treinadora.
Antes do prato principal, delicados brioches com a forma e as cores dos naipes das cartas de baralho foram servidos aos convidados, abrindo caminho para a grande estrela do cardápio: peixe branco com uma camada generosa de trufas da região de Alba (Itália) e alcachofras.
No fim da refeição, a “nova” mesa também reservou uma surpresa: seu tampo foi removido e tornou-se um imenso pebolim que trazia, no lugar dos jogadores, cartas de baralho. Bonito, mas bastante esquisito. Após o jantar, todos os convidados foram levados à Salle Médecin, onde mesas de carteado e roletas nos aguardavam. Ali foram servidos chocolates e doces. E assim, alternando momentos de surpresa, sorte e azar, encerrei o tour mais surreal de minha vida.
Reportagem publicada na edição 58, lançada em abril de 2018