Empregados com 5 anos de experiência tem uma média de apenas 14 dias de férias pagas por ano, segundo um estudo do Bureau of Labor Statistics. Com uma quantidade tão pequena de tempo para viajar, os funcionários sentem uma pressão exagerada para tornar perfeito o período de descanso. Mas será que essa busca pelas férias ideais produz efeitos negativos?
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Todos os anos, meus amigos do setor corporativo investem recursos consideráveis nas cobiçadas férias de duas semanas, em um planejamento de meses de antecedência e sem poupar gastos. No entanto, mesmo assim, eles voltam cansados, insatisfeitos e mais ansiosos para trabalhar do que antes. Então, o que acontece?
Claro, há quem se sinta “culpado” por tirar férias e ficar fora da empresa em períodos de grande esforço coletivo, mas a causa real da infelicidade depois do descanso está mais na mente do que no escritório.
Imagine que estamos em 1999, na noite anterior à chegada do novo milênio. As pessoas festejavam como se o mundo fosse acabar. Pesquisadores descobriram algo surpreendente quando isso não aconteceu: quanto mais recursos as pessoas investiram, menos diversão elas relataram ter, segundo um artigo publicado em 2003 na revista “The Psychology of Economic Decisions”.
Jamie Kurtz, professora de psicologia na James Madison University, abordou esse enigma de viagem e felicidade, e muitos outros, em seu livro “The Happy Traveler: Unpacking the Secrets of Happy Vacations” (O Viajante Feliz: Desempacotando os Segredos das Férias Felizes, em tradução livre). Segundo ela, “os estudos de acompanhamento esclarecem o motivo de pessoas voltarem frustradas das férias: o monitoramento constante dos estados emocionais (“Estou feliz agora? Isso é tão divertido quanto eu esperava?”) combinado à pressão para desfrutar da melhor forma um dos momentos raros da vida”. Isso prejudica o simples prazer do momento.
Segundo Jamie, quando você soma todo esse tempo e dinheiro investidos, sabendo que o tempo é curto e com o compromisso de que as férias sejam divertidas, tem uma receita para expectativas incrivelmente altas e muita pressão. Essas expectativas podem sabotar seu caminho para a felicidade.
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A professora recomenda desligar o monitor interno de felicidade e, em vez de rastrear seu humor a todo momento, apenas se perder em novas culturas, desafios e conexões. Eu faço isso há anos sem nem perceber, e ler sobre isso foi um momento de luz para mim.
Na minha mais recente viagem a Mônaco para uma conferência global de empreendedorismo, por exemplo, não tive como planejá-la muito, mas acabei aproveitando mais do que as viagens anteriores que planejei e gastei consideravelmente mais. Em retrospectiva, o conforto dos planos prévios não só contribuiu para a minha decepção, mas também me impediu de fazer muitas escolhas valiosas.
Ao contrário da minha última vez no Principado, que foi planejada minuciosamente, desta vez eu pude fazer amizade com vários patrocinadores do evento, funcionários do hotel e outros convidados de todo o mundo. Mas não foi tudo apenas diversão e lazer. O trabalho foi imersivo e desafiador também. Na verdade, semanas depois, eu ainda não trocaria o tempo gasto por um período igual de tempo sentado em uma praia em algum lugar.
Outra parte da equação de viagem que Jamie menciona de forma tão eloquente: só porque seu ambiente muda, não significa que o mesmo acontece com você. Assim como você faria em casa, é importante se manter envolvido. O tempo ocioso na areia é bom, mas só depois que você teve a chance de se expor a uma variedade de experiências mais dinâmicas.
Então, para as próximas duas semanas de férias, planeje, mas não planeje demais. Arranje tempo para atividades como observar as estrelas e beber algo na praia.
E não tenha medo de caminhar, correr, aprender, conectar-se com estranhos e ultrapassar novos limites.