Assumi o risco de ser mal compreendido pelo título deste texto – hoje em dia, afinal, as pessoas leem apenas essa parte das matérias e já partem para ataques ou defesas nos comentários de redes sociais – porque a maneira como a estilista Adriana Barra escolheu comunicar o fechamento de suas lojas (uma em São Paulo, outra no Rio) está entre as coisas mais interessantes que vi nos últimos tempos. Merecia, portanto, um tratamento diferenciado.
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Não precisa muito para notar que atravessamos tempos complicados para quem vive de criação, o que se torna ainda mais tenso no caso do pessoal da moda e, principalmente, quando entram na equação os custos de manter lojas físicas. É o famoso (infame?) “não tá fácil pra ninguém”, que poderia ser o tom fúnebre de reportagens do tipo “estilista fecha as portas”. Adriana, em um passo muito bem orquestrado com sua RP, Helena Augusta, driblou esse peso.
Primeiro com um minidocumentário, “Ponto de Partida de Mim”, dirigido pelo craque e gato (pronto, falei) João Wainer. Quem é que fecha loja lançando filme, gente? A Adriana Barra. No teaser que vi, ela lembra que suas clientes viveram histórias mágicas com seus vestidos, mas que há outros momentos na rotina da cliente. E que pode estar nesses momentos também.
Além do doc, um texto com cara de cardápio de restaurante hipster de Pinheiros conta os próximos passos dela – isso não foi um chocho, prometo. Torci o nariz quando comecei a ler, confesso. Porque usava termos como “novos voos” e “período de transição”, o que me fez pensar que era enrolação demais para informar que ia fechar as lojas. Até porque, né, tudo bem fechar lojas. Vida que segue.
Daí fui lendo.
E o “menu” oferecido me pegou, tanto que cá estou escrevendo em detalhes sobre o assunto. Concluí, a partir da quantidade de coisas que o novo estúdio criativo da marca Adriana Barra pretende servir, que largar as analógicas lojas físicas foi uma decisão sábia. A melhor coisa que ela poderia fazer.
Não só pelos custos de que falei acima, mas porque é uma tendência mundial (deixo aqui o link sobre o assunto que escrevi a partir de material da consultoria Bain & Co) e, sobretudo, porque permitirá realmente que ela tenha chance de ir mais longe. Igual em filme, quando o povo se livra de uns sacos de areia pro balão subir mais, sabe?
Em vez de apenas roupas – especialmente os célebres vestidões que marcaram época – a designer terá serviços que são a cara do futuro sustentável, como transformar peças de seu acervo num guarda-roupa compartilhado. Vai criar coleções surpresa, com garimpos de viagem que vão de quimonos a “loucas louças estampadas”. Além de trabalhar com linhas de tecidos com série numerada e assinada.
Adriana pretende expandir sua área de atuação trabalhando com consultoria para outras marcas e eventos, em design de interiores, além de dar palestras e workshops. De quebra, criar peças em colaboração com outros designers.
Só não entendi muito bem o conceito de “retiros de criatividade”, mas tem cara de coisa que eu adoraria fazer. Então me chama, Adriana. Eu levo o vinho.
P.S.: De hoje, até o dia 13 de abril, a estilista promove uma venda especial — que a gente poderia chamar de queima de estoque, mas não combina aqui, então beleza — de criações marcantes de sua trajetória. Ela estará na loja no cabalístico horário das 13h13 “para abraços”.
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