Cuba está se tornando um destino cada vez mais popular entre os norte-americanos. Em 2018, cerca de meio milhão de pessoas deixaram os Estados Unidos rumo ao país, metade a bordo de um navio. Cruzeiros para cidades cubanas — ou com paradas em praias cubanas no itinerário — se tornaram padrão para empresas que operam no Caribe. No ranking de visitantes recebidos por Cuba, os norte-americanos hoje aparecem na terceira posição, atrás apenas dos canadenses, os líderes da lista, e de cubanos que vivem em outros países.
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Todo esse interesse por Cuba renovou também o gosto pelo rum cubano. Embora a bebida seja vendida na Europa e no Canadá, sua importação comercial para os EUA foi proibida em 1962, pelo embargo imposto pelo então presidente John F. Kennedy.
A produção de rum está entrelaçada com a de açúcar. Um dos produtos da cana de açúcar é o melado, matéria-prima para a produção da maioria dos runs. Nas Antilhas francesas, e em produtores da América Central e do Sul, há também uma longa tradição de fabricação de rum. O cultivo de cana em Cuba e São Domingos (antiga Hispaniola) teve início em 1502, mas não se sabe ao certo quando começaram a produzir rum. O que se sabe é que, antes da bebida que se tornaria um símbolo cubano, as ilhas produziram aguardente similar à cachaça brasileira. Os entusiastas do rum sustentam que a região é ideal para a cultura da cana, pelo clima tropical e pelos níveis de chuva adequados. Ao lado da República Dominicana, Cuba também é uma grande produtora de açúcar.
O rum light cubano, com um estilo leve destinado à mistura em coquetéis, foi desenvolvido pelo executivo Facundo Bacardi em 1862, com uma receita que daria origem à sua empresa homônima. Hoje, a Bacardi é a maior fabricante de bebidas de propriedade privada do mundo.
Atualmente, o rum é produzido em cerca de 80 países por centenas de produtores diferentes. Não há nenhuma contagem definitiva do número, mas a estimativa é de milhares de destilarias. Em diversas partes das Índias Ocidentais, porém, como em Barbados, a indústria açucareira é hoje inexistente ou pequena demais para satisfazer a demanda de destiladores por melado. A maior parte do melado utilizado na Índia Ocidental é importada da República Dominicana ou da Guiana.
A produção de bebida de Cuba se diferencia das outras por vários aspectos. A bebida é produzida a partir do melado ou do caldo de cana, e destilada, ao contrário do que se dá em muitas partes do Caribe. O líquido fermentado costuma ser destilado com 75% ou 95% de qualidade alcoométrica, mas as porcentagens não são fixas — podem variar. Se destilada com 75% de álcool, tem-se aguardente, bebida que costuma ser envelhecida em barris de carvalho branco por um período de dois anos.
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Em Cuba, a aguardente recebe o nome “madre” (“mãe”, em tradução livre) pela destilaria Maestros de Ron. A madre é, então, misturada com o suco de cana, e a mistura resultante é levada para uma maturação extra. A depender do esquema de maturação proposto, a madre pode ser várias vezes misturada com o caldo de cana e maturar por mais tempo. Esse processo é semelhante ao modo como a Bacardi produz rum em sua destilaria de Porto Rico.
Destilarias em Cuba
Cuba tem cerca de uma dúzia de destilarias de rum. Os rótulos mais conhecidas são: Havana Club, Santiago de Cuba, Legendario, Cubay, Mulata, Varadero, Santero, Navio e Perla del Norte. Além desses, se destaca o Isla del Tesoro, produzido por Santiago de Cuba, que costumava ser reservado para degustação de oficiais do governo cubano, mas agora está disponível para todos os consumidores. Diversas empresas europeias, especialmente da Grã-Bretanha, engarrafam rum cubano sob marcas particulares. Muitas vezes, são seleções de safras específicas.
A maior destilaria cubana de rum é a Havana Club. Até o final da década de 1980, o rótulo Havana Club foi principalmente exportado para a União Soviética e para a Europa Oriental. Era de boa qualidade, mas sem diferencial. Em 1993, a CubaRon, empresa-mãe do Havana Club, entrou em uma joint venture com o gigante francês de vinhos e bebidas alcoólicas Pernod Ricard para distribuir a bebida internacionalmente. Daí em diante, a qualidade do Havana Club melhorou consideravelmente e a empresa lançou uma série de runs de alta qualidade que passaram pelo processo de envelhecimento.
Atualmente, a proprietária da marca está no centro de uma longa disputa judicial entre o governo cubano e o Pernod Ricard, de um lado, e a Bacardi, do outro. O Havana Club, produzido em Cuba, é distribuído em todo o mundo, com a exceção dos EUA, onde continua sujeito ao embargo. A versão norte-americana do Havana Club é produzida pela Bacardi em sua destilaria de Porto Rico.
Apesar de ambas as empresas utilizarem processos de produção semelhantes, a versão de Bacardi do Havana Club é mais leve e floral. É uma mistura de runs envelhecidos por um período de um a três anos, com essências de baunilha e carvalho comparáveis à versão cubana, só que mais seco e menos robusto.
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Por outro lado, a versão cubana do Havana Club é mais doce e rica, com um sabor refinado e especiarias. Isso vale principalmente para os tipos de rum que ficam mais tempo na fase de maturação, como o Havana Club Añejo, envelhecido em sete anos, e o Gran Reserva, envelhecido em quinze. Há também runs ultra-envelhecidos, mas esses são difíceis de encontrar em Cuba.
As melhores marcas
Santiago de Cuba é considerada a melhor marca da ilha. Suas bebidas são produzidas no que costumava ser a destilaria da Bacardi na cidade Santiago de Cuba. Seu rum é robusto, com essências de frutas tropicais, e difícil de se encontrar fora de Cuba.
O Ron Cubay foi criado em 1964, em São Domingo, capital da República Dominicana. A bebida, caracterizada por um gosto excepcionalmente suave, é apelidada de “gosto do centro”, porque tem origens no centro de Cuba, em uma região considerada ideal para a produção de cana-de-açúcar. Ele só começou a ser exportado em 2010.
A marca Legendario produz uma variedade de runs, incluindo o tipo Gran Reserva, envelhecido por quinze anos. As bebidas têm como base caldo de cana fermentado, em vez de melado.
Mulata de Cuba é outro rum cubano com base de caldo de cana, em vez de melado. Eles também têm o tipo Gran Reserva Añejo, envelhecido por quinze anos, que são seleções de barril escolhidas para passar por uma etapa envelhecimento adicional.
O Ron Varadero é produzido na destilaria Nave Don Panco, na cidade de Santiago de Cuba. Inaugurada em 1862, é a destilaria mais antiga em funcionamento na ilha. Foi também a primeira a produzir os tipos de rum envelhecidos por dez e quinze anos, no final do século 19, muito antes das bebidas ultra-envelhecidas se tornarem um padrão entre os produtores cubanos de rum.
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A marca Santero Ron afirma que seu rum, profundamente aromatizado e rico, tem origens no culto cubano de Santeria, que mistura práticas religiosas do catolicismo e do iorubá, da África Ocidental, como a umbanda. Pode ser uma jogada de marketing, mas é certo que a bebida já fez parte de cultos como esse.
Perla Del Norte é outra marca cubana inaugurada nos anos 1960. Seu rum é produzido na destilaria que já foi propriedade da família Arechabala, fundadores da marca Havana Club. É barato e amplamente vendido em Cuba.
Os runs cubanos geralmente são envelhecidos por três anos. A maior parte dos produtores da bebida, voltados para a exportação do produto, estão lançando versões envelhecidas entre cinco e quinze anos. A marca Santiago de Cuba lançou até mesmo runs envelhecidos entre vinte e 25 anos.
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