Amedeo Clemente Modigliani é onipresente, na grande maioria dos importantes museus de arte do mundo há pelo menos uma de suas 352 obras, quantidade desproporcional para alguém que teve a vida abreviada aos 35 anos. O Museu de Arte de São Paulo (MASP), que recebeu, em 2012, uma exposição sobre o artista italiano, possui seis de suas telas em seu acervo fixo que podem ser visitadas pelo público.
Apesar de ter feito de Paris a sua morada pela maior parte de sua vida, Modigliani nasceu em 1884 na província de Livorno, na região toscana da Itália. O brilhantismo do artista italiano não pertenceu a nenhum movimento, entretanto, Olívio Guedes, Doutor em Modigliani pela USP, sugere que ele possuía um movimento próprio que poderia se chamar “reducionismo”, fruto de alguém capaz de “produzir o simples após ter compreendido o complexo” – na visão dele.
Seus traços são inconfundíveis e sua forma de retratar olhos humanos –vagos, pequenos, desfoques– era, sem dúvida, sua singular assinatura. Guedes esclarece este fenômeno ao explicar a relação do artista com a tradição judaica. “Modigliani pintava ou não pintava os olhos de acordo com o nefesh da pessoa”, afirma. “Nefesh” é uma palavra em hebraico que pode ser compreendida como “alma”. Ou seja, os famosos olhos pintados por Modigliani refletem a alma daqueles que eram retratados. “Quando não havia nefesh, Modigliani não pintava os olhos”, completa Olívio.
A história de vida de Modigliani foi sempre pautada por sua saúde frágil (ele foi diagnosticado com tifo e pleurisia ainda bem jovem). Sem poder ir a escola regular, sua mãe ensinava-lhe em casa e seu avô paterno o levava a exposições e a museus, introduzindo-o no mundo ao qual ele pertenceria até o fim de sua vida. Ainda jovem, foi estudar em Firenze, uma das cidades mais famosas e importantes para a histórias das artes plásticas, na Escola Livre de Nus onde ele teria aprendido as técnicas que mais tarde lhe permitiriam pintar alguns dos nus mais famosos e valiosos da história da arte. Em 2015, a tela “Nu Couché” (Paris, 1917) foi leiloada por US$ 170,4 milhões pela Christie’s em Nova York, um dos leilões mais caros do mercado de arte mundial.
Apenas em 1906, Modigliani se mudou para Paris, o mais efervescente centro cultural da época, onde a heresia dos modernistas e a rigidez da Academia viviam um eterno combate. Aos 21 anos, na cidade luz, Modigliani se instalou no bairro de Montmartre, unido-se de uma vez por todas àquela que seria sua companheira inseparável: a boemia. Em Montmartre e, mais tarde em Montparnasse, ele conheceu uma série de artistas que em muito influenciaram a sua arte, como Pablo Picasso, André Derain, Max Jacob e Léonard Foujita. É possível que Modigliani tenha visto uma das telas mais famosas de Picasso, Les Demoiselles D’Avignon, ainda no atelier do artista.
“Modigliani era um rebelde como todos os outros artistas do mesmo período, mas um rebelde com causa e a sua causa era o conhecimento”, define Guedes. O artista, que, como os outros, conquistou a alcunha de “rebelde” ao cair na vida boêmia, desafiava a arte acadêmica e declamava de cima de mesas de bares parisienses os versos do poeta conhecido como Conde Lautréamont, irreverentes, heréticos e “malditos”. Inclusive vem daí vem o jogo de palavras em torno do apelido de Modigliani “Modi”, que na língua francesa soa como a palavra “maudit” (maldito).
Mais tarde, no período entre 1909 e 1913, influenciado pelos estudos pluridimensionais do cubismo de Picasso e de Braque e pela produção do escultor romeno Constantin Brancusi, Modigliani passou a se arriscar também na escultura, estudando e desenhando muito. “Neste período, ele não produziu mais do que seis telas, tamanho era o seu empenho em se tornar escultor”, comenta Guedes, afirmando que Modigliani teria, mais tarde, abandonado o projeto de ser escultor. Ainda que a carreira neste ofício tenha sido breve, algumas dessas esculturas chegam a valer US$ 50 milhões.
Modigliani teve muitas amantes durante a vida, mas foi com Jeanne Hébuterne, uma jovem artista por quem se apaixonou enquanto ela posava para uma de suas telas em 1917, que ele conviveu até o fim de sua vida e com quem teve uma filha a quem também chamou de Jeanne. Nos últimos anos de sua vida, com o relacionamento ainda em seu início, o estado de saúde do pintor piorou muito, forçando o casal a mudar para o sul da França, esperando que o clima ameno da Côte D’Azur pudesse, de alguma forma, amenizar a já avançada tuberculose de Modigliani. Ele retornou a Paris em 1918, mas morreu pouco depois, no inverno de 1920.
Menos de 24 horas depois de sua morte, sua esposa, grávida de nove meses do segundo filho, se atirou do quinto andar de um prédio. Jeanne Modigliani, a filha do casal, foi criada pelos avós paternos e se tornou historiadora da arte, escrevendo, mais tarde, uma biografia sobre seu célebre pai.
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