A quarentena obrigou Sarah Sze a abandonar seu estúdio em Nova York, com o máximo de telas, tintas e pincéis que pudesse levar para a segurança de seu apartamento. Lá, a artista criou um novo espaço para trabalhar. O estúdio doméstico reimaginado coexiste com o escritório remoto de seu médico-biólogo-oncologista-autor-marido, que inclui arquivos de televisão, e as salas de aula virtuais de suas duas filhas.
Ao partir das tradições modernistas, a artista contemporânea trabalha com escultura, pintura, desenho, gravura e instalação de vídeo para criar paisagens que incorporam objetos do cotidiano, às vezes presos em suspensão.
Professora de artes visuais da Universidade de Columbia, Sarah está ensinando remotamente e revela os conselhos mais comuns que costuma passar aos seus alunos.
“Faça o trabalho. Faça um registro emocionante de uma crise histórica pela qual estamos passando. Em vez de tentar obter o material a que está acostumado, faça um trabalho que reflita o que está acontecendo”, disse ela em entrevista por telefone. “Surpreendentemente, estou usando o que tenho em casa. Eu refiz um estúdio em casa. É algo mais lento.”
A galeria de arte Gagosian colaborou intensamente com Sarah para levar sua arte e suas ideias de várias formas para uma audiência global online e lançou o Artist Spotlight, um novo e multifacetado programa dedicado apenas a artistas individuais, um por semana.
A última exposição de Sarah na Gagosian, em Paris, acabou nunca sendo inaugurada, já que a cidade foi fechada um dia antes da estreia em meio à expansão global da Covid-19. O Artist Spotlight permite que artistas como ela continuem gerando apoio para seus estúdios em meio ao fechamento do mundo físico das artes, enquanto apresentam seu trabalho de maneira virtual pelos amplos canais editoriais e de mídia da Gagosian.
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“Eu estava literalmente entrando em um avião para ir a Paris – todo o meu trabalho estava lá para algo no qual eu vinha trabalhando há 14 meses – quando Donald Trump fez o anúncio de que não haveria mais voos para a Europa. Eu tive que mudar e aprender a criar uma imagem virtual detalhada para um público global”, conta Sarah. “Eu tenho trabalhado muito de perto com a galeria em todas essas maneiras diferentes de ver as obras de arte quando elas não estão na sua frente de forma física.”
Tirar seu próprio trabalho do contexto planejado para uma exposição em galeria tradicional levou Sarah a mudar sua perspectiva.
“Foram três anos de trabalho extremamente intenso e muito fértil [para a Gagosian em Paris]. Eu não parei ou recuei em nenhum momento, sendo até incapaz de articular minhas ideias. Eu digo aos artistas para não fazerem o mesmo. Quando você está sendo produtivo, acho melhor não julgar”, explica. “Mas esse período de isolamento me permitiu articular. Trabalhar com uma equipe super comprometida de maneira excelente, seja escrita, fotográfica ou por vídeo. É poderoso. Tem sido muito intenso. Fizemos filme, fotos, outros materiais. O trabalho que está em Paris realmente gira em torno da questão de como vemos o tempo e o espaço de maneira diferente. Muito do trabalho brinca com a infusão de quando algo é feito digitalmente. Algo muito material parecerá digital e algo digital parecerá muito material. Você tem que gastar muito tempo articulando o que está acontecendo.”
Andrew Fabricant, que há um ano assumiu o cargo de diretor de operações da Gagosian, esteve no Japão em janeiro, testemunhando os estágios iniciais do pânico global, quando cerca de 400.000 foliões aguardavam da China para comemorar o Ano Novo Lunar.
“Havia pouco tempo para se preparar, porque este é um evento muito rápido. Sou muito próximo do nosso diretor em Hong Kong. Ninguém viu isso acontecer, mesmo que seja a maior falha de inteligência do século 21”, disse Fabricant em uma entrevista por telefone. “A questão principal é que o mundo da arte é um negócio muito social, sobre conhecer pessoas e se aproximar. Mover essa equação é um território desconhecido. Felizmente, a Gagosian foi muito rápida no desenvolvimento de sua plataforma online.”
Fabricant prevê que um mercado de arte global “extremamente polarizado” surgirá após a recuperação pós-pandemia. Ele espera vendas fortes, na faixa dos milhões de dólares, para os melhores artistas contemporâneos, interesse sustentado por pessoas como Rothko, cujos trabalhos reaparecem nas duas grandes casas de leilão. “Já na faixa intermediária, não sabemos o que acontecerá.”
Segundo ele, “esse tipo de desenvolvimento está sendo encarado com muito mais força agora. Temos uma paleta de artistas muito qualificados e eles não param de criar por causa do coronavírus”.
O desastre global desperta criatividade, à medida que artistas como Sarah desenvolvem novas estratégias para lidar e explicar as mudanças climáticas tangíveis em nossa sociedade.
“Este é um momento real para eles realmente explorarem e experimentarem, porque a genialidade surge disso. Se você é forçado a estar em seu estúdio, se você é forçado a ficar sozinho, grandes coisas podem acontecer”, diz Fabricant. “Estamos passando por muita dor e sofrimento. Aqueles que conseguem se superar podem se tornar pessoas e negociantes de arte muito melhores, além de terem uma atitude muito mais sensível, já que o mundo da arte era muito superficial. A futilidade e a superfluidez serão temperadas pela situação.”
A cada semana, por 48 horas, a Gagosian destacará um artista e apresentará uma única obra de arte de sua autoria, com informações sobre preço, exclusivamente no gagosian.com. As obras de arte serão complementadas por um conjunto abrangente de recursos editoriais, incluindo vídeos, entrevistas e ensaios, bem como listas de reprodução de artistas, recomendações de livros e filmes, dando nova vida ao processo criativo em evolução.
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Os artistas em destaque incluem Stanley Whitney, Jennifer Guidi, Roe Ethridge, TitusKaphar, Katharina Grosse, Theaster Gates, Dan Colen, Urs Fischer, Mark Grotjahn, Mary Weatherford, Rudolf Polanszky, Damien Hirst e Jenny Saville.
“Os artistas trabalham durante anos para produzir coleções e se preparar para exposições, e quando todas as galerias e museus do mundo precisam fechar, a decepção afeta a todos: público, curadores, críticos, clientes. Mas é especialmente difícil para os artistas, e essa pausa nas exposições é inédita”, diz Larry Gagosian. “Discutimos a apresentação online de nossas exposições programadas, mas não foi assim que elas foram concebidas. Precisávamos de uma solução que não exigisse tanto de nossos artistas. Esse é o desafio para nós: você inova e mantém seus recursos e estratégias flexíveis para apoiar seus artistas quando suas portas precisam fechar temporariamente em um mundo volátil. E, quando o mercado é volátil, é a precisão que faz você superar qualquer momento.”
Além do Artist Spotlight, a Gagosian compartilhará mais material da Gagosian Quarterly, uma publicação impressa produzida quatro vezes por ano. Várias salas de visualização online serão abertas nos próximos meses para substituir os estandes excepcionais da galeria planejados para feiras de arte canceladas ou remarcadas, como Frieze e Art Basel.
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