A indústria da moda, de US$ 2,5 trilhões, sofrerá perdas de dois dígitos em 2020. O mercado recessivo e o cenário em transformação dramática deve repercutir das salas de reuniões de marcas de luxo globais aos trabalhadores têxteis nos países em desenvolvimento como resultado da pandemia de coronavírus.
Um relatório da McKinsey & Company e a publicação “Business of Fashion” descrevem a imprevisível crise humanitária e financeira como um “cisne negro”, que “interrompeu os mercados financeiros, elevou as cadeias de suprimentos e esmagou a demanda do consumidor em escala global”. Embora se espere que a pandemia atinja setores comerciais que variam de finanças a hospitalidade, o relatório “The State of Fashion 2020 Coronavirus Update” diz que a moda é particularmente vulnerável por causa de sua natureza discricionária. O documento, uma atualização sob a ótica da pandemia do documento sobre o setor divulgado em novembro de 2019, fornece uma projeção de como será a indústria fashion durante o período de 12 a 18 meses após o final do surto global. Entre as descobertas:
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- Prevê-se que a indústria da moda global (vestuário e calçados) contraia de 27% a 30% em 2020, em termos de receita ano a ano. Para o mercado de bens de luxo pessoais (moda, acessórios, relógios e jóias de luxo, e produtos de beleza de ponta), estima-se uma contração de 35% a 39%.
- Se as lojas permanecerem fechadas por dois meses, a análise da McKinsey projeta que 80% das empresas de moda de capital aberto na Europa e América do Norte enfrentarão dificuldades financeiras. Combinado a uma análise prévia da McKinsey, o relatório prevê que um número significativo de companhias globais do segmento vai falir nos próximos 12 a 18 meses.
- Após ordens de isolamento, 84% dos trabalhadores de escritório passaram a trabalhar em casa e 93% dos executivos seniores indicaram que sua empresa implementou congelamentos temporários ou indefinidos de contratação, segundo uma pesquisa da comunidade BoF. Além disso, o fechamento de lojas e o cancelamento de pedidos criaram um “efeito dominó” que levou a “milhões de empregos perdidos em lojas de varejo em todo o mundo, com as marcas obrigadas a cancelar pedidos e colocar milhões de trabalhadores em mercados de abastecimento como Bangladesh, Índia e Camboja sem trabalho”.
Alerta vermelho
O relatório descreve um cenário quase pós-apocalíptico com “terríveis consequências para a moda”, uma das maiores indústrias do mundo, já que a McKinsey prevê que as repercussões humanitárias devem durar mais do que a pandemia. O surto deve acelerar as mudanças drásticas que já acontecem em todos os setores da indústria, o que cria um cenário que parecerá dramaticamente diferente do que o precedeu.
“Os executivos da moda estão concentrados no gerenciamento de crises agora, mas eventualmente precisam mudar para reimaginar o setor”, afirma o relatório. “O segmento já estava em alerta máximo, e os executivos expressaram pessimismo em todas as regiões e preços. Mas, ao avançar alguns meses, as perspectivas ficaram dramáticas e repentinamente mais sombrias. A indústria está agora em alerta vermelho”.
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O relatório da McKinsey afirma que a “interconectividade do setor” dificulta o planejamento das empresas. Por exemplo, quando a China começou a se recuperar da Covid-19, os surtos aumentaram na Europa e nos Estados Unidos. Além disso, os trabalhadores em centros de fornecimento e fabricação de baixo custo de lugares como Bangladesh, Camboja, Etiópia, Honduras e Índia serão os mais atingidos por causa da pobreza e dos sistemas de saúde precários.
Enquanto isso, 75% dos consumidores na Europa e nos Estados Unidos acreditam que sua situação financeira será afetada negativamente por mais de dois meses.
“Embora a duração e a gravidade definitiva da pandemia permaneçam desconhecidas, é evidente que a indústria da moda está apenas no início de sua luta”, afirma o relatório. “Ao sofrer golpe após golpe tanto na oferta como na demanda, o surto de coronavírus provocou uma tempestade perfeita para o setor: uma cadeia de suprimentos global altamente integrada significa que as empresas estão sob imenso esforço e tentam gerenciar crises em várias frentes, enquanto os isolamentos são impostos e interrompem a fabricação primeiro na China e depois na Itália, seguidas por países de outras partes do mundo.”
O fechamento generalizado de lojas e o congelamento de gastos criaram uma crise de oferta. As vendas online ainda não foram recuperadas. Segundo o relatório, caíram 15% a 25% na China, 5% a 20% na Europa e 30% a 40% nos Estados Unidos.
Uma oportunidade de mudança
O relatório da McKinsey também serve como um chamado para lidar com o mundo pós-coronavírus “caracterizado por uma pausa contínua nos gastos e uma diminuição na demanda nos canais”. O documento oferece uma oportunidade para a indústria da moda se tornar mais sustentável, mais eficiente e melhor conectada aos consumidores.
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“O coronavírus apresenta à moda uma chance de redefinir e remodelar completamente a cadeia de valor da indústria –e uma oportunidade de reavaliar os valores usados para mensurar ações”, afirma o relatório. “Esperamos que temas de aceleração digital, descontos, consolidação da indústria e inovação corporativa sejam priorizados assim que a crise imediata desaparecer. Mesmo depois de testemunhar ondas de insolvências, os líderes do setor precisarão se acostumar à incerteza e intensificar os esforços de proteção para o futuro, pois o potencial para novos surtos e bloqueios está próximo.”
A McKinsey também pede mais colaboração entre as empresas do setor –mesmo as concorrentes– no compartilhamento de dados, estratégias e ideias; bem como a cooperação entre marcas, fornecedores, contratantes e proprietários.
“Navegar nessa incerteza não será fácil para os líderes da moda”, afirma o relatório. “Os executivos precisam ser decisivos e começar a colocar estratégias de recuperação em movimento para emergir com energia renovada. A crise é um catalisador que irá chocar a indústria e agora é a hora de se preparar para um mundo pós-coronavírus”.
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