Oficial naval sem papas na língua que, na condição de consorte zeloso da rainha Elizabeth, ajudou a modernizar a monarquia britânica, o príncipe Philip pode ser mais lembrado por sua figura pública ríspida.
Explícito e irascível, Philip viveu à sombra da mulher com quem se casou na Abadia de Westminster em 1947, sempre caminhando um passo atrás da rainha nos milhares de eventos cerimoniais a que o casal compareceu durante o reinado de Elizabeth, o mais duradouro da história do Reino Unido.
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Embora não tivesse um cargo oficial, o duque de Edimburgo foi uma das figuras mais influentes da família real durante mais de 70 anos. Ele morreu hoje (9) aos 99 anos de idade.
Embora Philip fosse criticado com frequência devido ao seu comportamento e seus comentários às vezes bruscos, amigos disseram que, como confidente mais próximo da monarca, ele levou sagacidade, uma inteligência impaciente e uma energia inesgotável à monarquia.
“Ele foi, simplesmente, minha força e esteio todos estes anos”, disse Elizabeth em uma homenagem pessoal rara a Philip durante um discurso para marcar o 50º aniversário de casamento de ambos em 1997.
“Eu, e toda a família dele, e este e muitos outros países, temos com ele uma dívida muito maior do que ele jamais cobraria, ou que jamais conheceremos.”
Se Philip se sentia frustrado com sua vida de consorte, nunca o demonstrou publicamente –mas em uma entrevista tensa à rede “BBC” por ocasião de seu 90º aniversário, ele revelou que nos primeiros dias teve dificuldade para encontrar um papel.
“Não havia precedente. Se eu perguntasse a alguém ‘o que você espera que eu faça?’, todos me olhavam com espanto –eles não tinham ideia, ninguém tinha muita ideia”, disse.
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Nascido em uma época de deferência à monarquia, Philip ajudou Elizabeth a lidar com os tumultos políticos e sociais do século 20 para moldar uma monarquia adequada a um tempo diferente.
Enfrentando muitas vezes uma corte profundamente tradicional, ele reformou o palácio e tentou capitalizar o poder crescente da televisão para projetar a influência real.
Ele pressionou para que a coroação da rainha fosse transmitida ao vivo em 1953, e nos bastidores descartou comportamentos palacianos antiquados que considerava afetados –e foi o primeiro membro da realeza a dar uma entrevista à TV.
Mais tarde na vida, porém, Philip foi criticado por ameaçar a capacidade da monarquia de se adaptar à época, e detratores culparam em parte suas maneiras autoritárias pela incapacidade de seus filhos de criar famílias felizes.
O casal teve quatro filhos: Charles, príncipe de Gales (nascido em 1948), a princesa Anne, (1950), o príncipe Andrew (1960) e o príncipe Edward (1964), três dos quais se casaram e se divorciaram.
FORÇA E ESTEIO
Para Elizabeth, Philip foi um marido solidário que cortesãos disseram ser a única pessoa que tratava a monarca como um ser humano.
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Apesar dos boatos sobre sua infidelidade, o casal continuou unido, e já idosos demonstravam claramente afeição e consideração mútuas. Eles comemoraram 70 anos de casamento em novembro de 2017.
Mas Philip, filho do exilado príncipe Andrew da Grécia, descendente da rainha Vitória, tataravó de Elizabeth, e primo em terceiro grau de sua esposa, nunca conquistou de fato o coração de todos os britânicos.
Elizabeth é a soberana, mas nos assuntos familiares Philip era considerado o chefe do clã.
Quando a popularidade da Casa de Windsor despencou na esteira da morte da princesa Diana, a primeira esposa de Charles, em 1997, ele foi acusado de ajudar a impedir que a monarquia se adaptasse a um novo Reino Unido.
Uma década mais tarde, Philip passou pelo constrangimento de ouvir Mohamed al-Fayed, ex-proprietário da loja de artigos de luxo londrina Harrods cujo filho namorou Diana, dizer que o príncipe ordenou a morte da princesa falecida em um acidente de carro em Paris aos 36 anos.
Um júri rejeitou as alegações por não encontrar indícios que as sustentassem, mas elas ilustraram os sentimentos mistos do país a respeito do príncipe.
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Philip também foi o membro mais polêmico da família real até os dramas de seus filhos e noras se tornarem assunto frequente dos tabloides nos anos 1990.
O duque foi atacado por tudo, desde suas opiniões sobre a energia nuclear até a preservação da natureza. Críticos o rotularam de hipócrita por comandar a entidade ambiental World Wide Fund for Nature ao mesmo tempo em que participava de esportes sangrentos como a caça ao faisão.
Durante uma viagem ao Canadá, ele disse: “Se em algum momento as pessoas sentirem que a monarquia não tem mais nenhum papel a exercer, então, pelo amor de Deus, vamos encerrar a coisa em termos amigáveis”. (Com Reuters)
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