No segundo trimestre do ano passado, no auge da primeira onda da Covid no país e com suas quase 600 unidades fechadas ao público, o dermatologista Ygor Moura e o advogado Paulo Morais bolaram duas formas de manter viva a rede que fundaram em 2004 ao lado de Tito Pinto: fazer um empréstimo de R$ 100 milhões (“para garantir pelo menos os salários dos 3.500 colaboradores; não seria na hora da maior incerteza que os deixaríamos na mão”) e abrir o capital da Espaçolaser na condição de maior empresa de depilação a laser do mundo.
O primeiro plano foi concretizado rápido, em abril de 2020, junto ao Banco Itaú; o segundo foi concluído em 1º de fevereiro de 2021 na B3 com a presença dos também sócios José Carlos Semenzato, Xuxa Meneghel (embaixadora da companhia) e executivos do fundo L Catterton (que entrou no negócio há quatro anos).
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Curiosamente, no entanto, mesmo no pior momento da pandemia, o jogo virou a favor dos amigos empreendedores. Muitos de seus 2 milhões de clientes compraram pacotes in advance, a ponto de, segundo eles, não ser preciso tocar em nenhum centavo daqueles R$ 100 milhões para apagar incêndios. “Acabamos usando esse empréstimo para investir no crescimento da rede”, diz Paulo. “E a retomada veio num patamar acima do esperado.” Por causa das compras antecipadas, a rede teve lucro real em 2020, ainda que contabilmente os números dissessem o contrário. A oferta inicial de ações, por sua vez, levantou exatos R$ 2.231.618.550,21 em troca de 25% do negócio. “Diluímos um pouco nossa participação para dar mais força a esse nosso ‘filho’, para que tenha maior autonomia, capacidade, capital e governança, independentemente dos fundadores”, afirma Ygor, agora dono de 16% das ações (Paulo ficou com 10%).
Pergunto à dupla Ygor (chairman) e Paulo (alçado ao cargo de CEO pós-IPO) o que explica o sucesso do setor de beleza (outros empresários do ramo também estão nadando de braçadas) num momento em que a maior preocupação da humanidade é (ou deveria ser) a sobrevivência. “Autoestima”, responde Paulo, sem titubear. “O medo da Covid e o isolamento social deprimem, estressam as pessoas, e o cuidado com o corpo, por dentro e por fora, é uma forma de atenuar esse sentimento.” Ele continua: “Por isso o setor é um dos mais resilientes nas crises. A pessoa pode cortar viagens, carro novo, roupas… mas nessa hora vai buscar ficar melhor consigo mesma”.
Ygor acrescenta um fator mais corriqueiro ao aumento da procura por procedimentos estéticos: “As pessoas passaram a se ver mais no espelho, nas videoconferências… E começaram a enxergar detalhes que antes passavam despercebidos e que agora querem mudar”.
No caso específico da depilação, carro-chefe da Espaçolaser, pesa a favor também a moda crescente de corpos lisos entre os homens. Se nos anos 1960 o ícone de beleza física incluía o peito peludo de um James Bond vivido por Sean Connery, hoje os modelos seguidos são celebridades “peladas”, como o craque Cristiano Ronaldo e o surfista Gabriel Medina. “Nosso público masculino representa 9% do total – e a tendência é crescer. Na Espanha, por exemplo, esse número chega a 30%”, diz Paulo. O bicampeão mundial Medina, aliás, é um dos 68 atletas patrocinados pela empresa. “Sonho em vê-lo divulgando a Espaçolaser na Olimpíada”, afirma o CEO.
Mas quem ainda “segura a onda” da companhia são as mulheres, dos dois lados do balcão: nada menos que 96% do quadro de colaboradores é formado por mulheres. Além disso, a mulher tem 35 partes depiláveis (e depilam seis, em média); o homem tem 29 (e depila cinco). Quem diria que até nisso elas levam vantagem…
Reportagem publicada na edição 84, lançada em fevereiro de 2021
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