A Sony anunciou, na última segunda-feira (14), que lançaria “Bullet Train” em 8 de abril de 2022. A adaptação do romance “Maria Beetle”, de Kōtarō Isaka, conta a história de cinco assassinos que acabam no mesmo trem e percebem que suas respectivas tarefas estão conectadas. Dirigido por David Leitch, o filme é estrelado por Brad Pitt, Joey King, Andrew Koji, Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry, Zazie Beetz, Masi Oka, Michael Shannon, Lady Gaga, Logan Lerman, Hiroyuki Sanada e Karen Fukuhara.
A adaptação vai estrear apenas uma semana antes de “The Lost City of D”, da Paramount. A original comédia de aventura estrelada por Sandra Bullock, que interpreta uma romancista, e Channing Tatum, como um modelo, estreará nos cinemas em 15 de abril. Assim, os dois filmes da escola tradicional de cinema, que contam com estrelas capazes de atrair público e high-concept, podem representar a última chance para o cinema convencional.
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Há cinco anos argumentei que um conjunto de fatores causou uma grande mudança na ida das pessoas ao cinema. Culpe o equipamento de home theater acessível, a conveniência cada vez maior ao streaming de alta qualidade e o surgimento de conteúdo televisionado em casa (filmes, programas e minisséries) que preencheram as lacunas para o público que anseia por dramas voltados para adultos e estrelas, thrillers e comédias e uma indústria em uma missão kamikaze para encontrar o próximo MCU (Universo Cinematográfico Marvel) às custas de qualquer outra coisa. A Covid-19 pode ter funcionado como um golpe mortal simbólico.
O cenário sombrio que imaginei em 2016 aconteceu com a indústria do fliperama. Uma vez que os videogames domésticos como o Super Nintendo e o PlayStation puderam se aproximar ou superar totalmente o que era oferecido nos fliperamas por um preço único de US$ 50, eles quase desapareceram por completo. A mesma coisa está acontecendo com os cinemas. As experiências em casa podem se aproximar muito (em termos de qualidade audiovisual) da experiência em frente às telonas. O conteúdo produzido pelos serviços de streaming e emissoras de televisão pode corresponder – em termos de valores de produção, poder de fogo de suas estrelas e roteiro – a 80% ou 90% do que Hollywood nos oferece nos cinemas, com uma necessidade muito menor de atrair um público global.
Cinco anos depois, temos “minisséries de prestígio da HBO” de seis horas, como “Little Big Lies”, “The Unknowing” e “Mare of Easttown”, que antes poderiam ter sido filmes de 135 minutos moderadamente bem-sucedidos. A Netflix abastece seus assinantes com filmes que tentam se aproximar de programações mais old school. No entanto, até mesmo esses serviços estão enfatizando programas mais alinhados com a categoria da fantasia em busca do próximo “Game of Thrones”. Temos histórias de sucesso de “esperança para o futuro”, como “Baby Driver”, “Crazy Rich Asians” e “Knives Out”. No entanto, o público gasta a maior parte de seu orçamento anual para o cinema em lançamentos. Os seis filmes principais de 2018 (“Pantera Negra”, “Vingadores: Guerra Infinita”, “Os Incríveis 2”, “Jurassic World: Reino Ameaçado”, “Deadpool 2” e “O Grinch”) arrecadaram US$ 2,99 bilhões, ou 25,5% da bilheteria total nos Estados Unidos.
Para cada nova franquia de sucesso, como “The Meg”, que arrecadou US$ 530 milhões nas bilheterias do mundo todo, há uma dúzia de erros, como “Warcraft”, “Máquinas Mortais” ou “Alita”. Para cada “Nasce Uma Estrela” (US$ 424 milhões), há “O Primeiro Homem” e “As Viúvas”, filmes que não se justificam. Mesmo no final de 2015, vimos um grande blockbuster para adultos, como “Perdido em Marte”, destacando-se entre a maioria dos espectadores que iam ao cinema talvez uma vez por mês. Em 2016, “Capitão América: Guerra Civil” cimentou a noção de grande sucesso aparentemente voltado para crianças como verdadeiras escolhas “dos adultos”, deixando “Money Monster” e “Dois Caras Legais” lutando pelos restos. Em 2018, “Pantera Negra” atropelou grandes sucessos adultos, como “Aniquilação” e “Operação Red Sparrow”, e outros filmes, como “Uma Dobra no Tempo” e “Círculo de Fogo: A Revolta”. Em 2019, o aclamado filme biográfico de Elton John “Rocketman” não conseguia chegar aos US$ 200 milhões, embora US$ 195 milhões ainda seja um valor decente para um filme para maiores de 17 anos que custou US$ 40 milhões, uma vez que os adultos estavam recebendo sua dose de “Aladdin”, da Disney.
É claro que a situação piorou no último ano e meio. Com os cinemas fechados durante a maior parte de 2020 e os principais filmes apenas começando a retornar às salas, há poucos motivos para não presumir que a ênfase esteja em obras com lançamentos muito barulhentos. Esses filmes, normalmente os de super-heróis da Marvel ou DC e um punhado de franquias ainda vibrantes, como “Jurassic”, “Velozes e Furiosos”, “James Bond”, “Missão Impossível” e “Meu Malvado Favorito”, só vão aumentar. Vemos que o público está disposto a comparecer ao “Godzilla vs. Kong” (em cartaz no Brasil depois de ganhar incríveis US$ 441 milhões em todo o mundo), mas ainda se mostra hesitante por “novas” franquias como “Mortal Kombat”, filmes antigos como “Spiral” e não-franqueados como “In the Heights”. A pandemia pode ter acelerado um cenário mais sombrio, no qual apenas os maiores e mais seguros filmes comerciais têm um lançamento convencional nos cinemas. Ao mesmo tempo, todo o resto vai direto para o streaming (ou, na melhor das hipóteses, uma execução simbólica antes do streaming ou um vídeo sob demanda).
O que isso significa para os estúdios guiados por estrelas? Bem, havia um padrão mínimo, vibrante o suficiente para oferecer esperança, entre 2017 e 2019. Vimos mais do que alguns “filmes” da velha guarda estourando em circunstâncias específicas. O público ainda vai prestigiar grandes estrelas do cinema (idealmente um conjunto delas), críticas elogiosas, um enredo forte com bom conceito, diretores fantásticos ou a promessa de um bom tempo de diversão (seja por escapismo total ou em busca de emoções implacáveis). A questão é: até que ponto filmes como “The Lost City of D” e “Bullet Train” contêm a maioria desses elementos e isso ainda importa em um mercado cinematográfico pós-Covid?
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O otimismo diz que “Bullet Train” – que tem um diretor um tanto conhecido, um bom elenco, gancho forte, resenhas esperançosamente aceitáveis e fortes emoções – é um forte candidato. O otimismo também diz que “The Lost City of D” contém, pelo menos, quatro desses elementos (com todo o devido respeito aos diretores Aaron e Adam Nee). Brad Pitt atraiu o público nos filmes de Quentin Tarantino, mas não para o deprimente “Ad Astra”, classificado como uma espécie de “Apocalypse Now” do espaço. Sandra Bullock estava em uma boa fase (“A Proposta”, “Um Sonho Possível”, “As Bem Armadas”, “Gravidade”, “Minions”) antes que a marés mudasse. No entanto, “Especialista em Crises” não foi lá muito estimulante e suponho que 65 milhões de pessoas não tenham assistido a “Bird Box” na Netflix. O elenco e os ganchos fortes dos dois filmes ainda me deixam cautelosamente otimista.
Não é certo ou justo que esses filmes sejam responsáveis pelo futuro do cinema convencional. “Bullet Train” e “The Lost City of D” são obras que, em tese, teriam sido sucessos massivos em uma era menos centrada no IP e ainda poderiam ter ganhos sólidos em uma época pré-Covid. Então, não estou muito feliz com o fato de que eles vão estrear em sequência, ainda com a concorrência de “The Bad Guys”, da DreamWorks, (15 de abril de 2022) e “Sonic the Hedgehog 2”, da Paramount (8 de abril). Se os dois tiverem bons resultados, pode ser um sinal de esperança para os filmes old school. Caso contrário, mostrará que os cinemas estão prestes a se tornar os novos fliperamas, viáveis apenas para as experiências imersivas, daquelas que não conseguimos ter em casa. E todo o resto será destinado ao streaming, vídeo sob demanda ou nem existirá.
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