No dia 5 de novembro de 1896, em uma sala alugada na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, o Brasil teve sua primeira exibição de cinema. As oito curtas obras, que surpreendiam a elite carioca, não passavam de cenas do cotidiano de algumas cidades europeias. Mas, assim como no resto do mundo, logo essas imagens se desenvolveram e os primeiros filmes foram rodados antes do início dos anos 1900.
Muitos desses longas não chegaram a ser exibidos, mas, pelo ineditismo do fato, são marcos do cinema nacional. O título “Vista da Baía da Guanabara”, por exemplo, produzido pelo cinegrafista italiano Affonso Segretto enquanto estava a bordo de um navio em 19 de junho de 1898, fez com que a data ficasse marcada como Dia do Cinema Brasileiro. Vale lembrar, no entanto, que o cinema brasileiro também é celebrado no dia 5 de novembro, em homenagem à primeira exibição da história no país.
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De qualquer forma, comemorar a cinematografia do Brasil duas vezes é uma atitude mais do que justa. Embora o país tenha passado por momentos de estagnação e atraso no setor, principalmente por questões políticas, o catálogo de filmes produzidos por aqui é rico e valorizado no mundo inteiro. “Central do Brasil”, lançado em 1998, foi a obra que inseriu a nação, definitivamente, no circuito mundial. Seu momento de glória fez parte do reflorescimento da produção brasileira, um período conhecido por historiadores como “cinema da retomada”.
Dirigido pelo bilionário Walter Salles e escrito por João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein, a obra narra a trajetória de Dora (Fernanda Montenegro), uma ex-professora frustrada que ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas na Central do Brasil, famosa estação de trem carioca, que ditam o que querem contar às suas famílias – no entanto, ela nunca coloca as mensagens no correio. O longa teve sua pré-estreia mundial em uma mostra regional de cinema na Suíça, seguido de uma exibição no Festival Sundance de Cinema, nos Estados Unidos.
A recepção da crítica internacional foi quase unânime: o filme recebeu um Globo de Ouro e foi a primeira produção brasileira a receber o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Além disso, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e responsável pela indicação de Fernanda Montenegro à estatueta na categoria de melhor atriz. A brasileira fez história, sendo a primeira latino-americana já indicada ao prêmio por uma atuação em língua portuguesa – para muitos, o fato de ela ter perdido o prêmio para Gwyneth Paltrow pelo filme “Shakespeare Apaixonado” foi a maior injustiça da história do Oscar.
O Brasil começou bem os anos 2000. Após “Central do Brasil”, “Cidade de Deus” (2002), “Carandiru” (2003) e “Tropa de Elite” (2007) foram alguns dos títulos que conquistaram o grande público e ganharam enorme prestígio internacional pela crítica social e qualidade de produção.
Pelo bem do brasileiro, os tempos de glória não ficaram restritos à época de lançamento desses filmes. Nos últimos dez anos, diversos longas ganharam espaço no coração dos críticos e do público. Um exemplo disso é “Bacurau”, de 2019, talvez um dos destaques mais recentes do cinema nacional, que conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes no mesmo ano.
De “Central do Brasil” a “Bacurau”, confira, na galeria de imagens abaixo, 10 dos filmes nacionais mais premiados da história:
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Divulgação “Central do Brasil” (1998)
Um dos maiores marcos do cinema brasileiro, “Central do Brasil” narra a trajetória de Dora, protagonizada por Fernanda Montenegro, uma ex-professora que ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas. No entanto, ela nunca coloca as mensagens no correio, apenas embolsando o dinheiro para si. Um dia, Josué, o filho de nove anos de uma de suas clientes, fica sozinho após a morte da mãe em um acidente de ônibus. Como o único contato próximo do menino, Dora reluta, mas se junta a ele em uma viagem pelo interior do Nordeste em busca do pai do garoto.
O filme recebeu um Globo de Ouro e foi a primeira produção brasileira a receber o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Além disso, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e foi responsável pela indicação de Fernanda Montenegro ao prêmio de melhor atriz – o Oscar não foi possível, mas a atriz recebeu um Urso de Prata por sua atuação.
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Divulgação “Cidade de Deus” (2002)
Na obra dirigida por Fernando Meirelles e Kátia Lund, a narrativa acompanha a trajetória de Buscapé, um jovem pobre e negro que vive na favela carioca de Cidade de Deus e descobre ter talento como fotógrafo. É por meio de seu olhar, por trás das câmeras, que o cotidiano da comunidade, inclusive a rotina de violência, é apresentado ao telespectador. O filme foi um dos mais aclamados da história do cinema nacional, com mais de 20 indicações e premiações ganhas. No Oscar, foi indicado nas categorias de melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia, mas não levou as estatuetas. Já no BAFTA Awards, ganhou o prêmio de melhor edição.
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Divulgação “O Auto da Compadecida” (2000)
A adaptação cinematográfica da peça do escritor Ariano Suassuna foi criada, inicialmente, como uma minissérie de quatro capítulos para a televisão aberta. No entanto, com o sucesso da obra, a Globo Filmes decidiu investir no primeiro longa de sua história e lançar a versão para o cinema. A comédia mostra as aventuras de João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello), dois nordestinos que vivem de golpes para sobreviver. Tudo muda com a aparição de Nossa Senhora (Fernanda Montenegro) na vida dos amigos.
No Grande Prêmio do Cinema Brasil, a obra foi vencedora nas categorias de melhor diretor, melhor ator, melhor roteiro e melhor lançamento. Em 2015, foi eleito pela Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Fora do Brasil, venceu o prêmio do júri popular no Festival de Cinema Brasileiro em Miami. Também levou melhor ator para Matheus Nachtergaele (João Grilo) no Festival Internacional de Cinema de Viña del Mar, no Chile.
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Divulgação “Carandiru” (2003)
Dirigido por Héctor Babenco, a superprodução baseada no livro “Estação Carandiru”, do médico Drauzio Varella, narra suas experiências com a dura realidade dos presídios brasileiros em um trabalho de prevenção à Aids realizado na Casa de Detenção de São Paulo. “Carandiru” conta algumas das histórias dos detentos do presídio, que foi a maior prisão da América Latina. A obra foi indicada à Palma de Ouro do Festival de Cannes, além de receber prêmios nos festivais de Cartagena e Havana. Em novembro de 2015, também entrou na lista feita pela Abraccine dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
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Divulgação “Tropa de Elite” (2007)
O primeiro longa de ficção do diretor José Padilha foi uma estreia com chave de ouro no mundo do cinema. Os acontecimentos do filme são narrados em primeira pessoa pelo Capitão Nascimento, protagonizado por Wagner Moura, da tropa de elite do Rio de Janeiro, designado para chefiar uma missão de apaziguamento no Morro do Turano. Através de seus passos, o espectador é apresentado a diversas reflexões sobre a violência do estado e o conflito entre traficantes e policiais. Reconhecida internacionalmente, a obra ganhou o Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim e também o prêmio na mesma categoria no Festival de Lisboa. Após o sucesso, o diretor decidiu lançar a sequência do longa, “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro”, que também foi indicado a diversos prêmios.
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Divulgação “Que Horas Ela Volta” (2015)
O filme protagonizado por Regina Casé conta a história da pernambucana Val, que se mudou para São Paulo para trabalhar como empregada doméstica e babá com o intuito de proporcionar melhores condições de vida para a sua filha, Jéssica (Camila Márdila). Um dia, a garota lhe telefona dizendo que quer ir para a capital paulista prestar vestibular. É a partir dessa decisão que a relação de Val com seus chefes começa a ficar complicada e problemática, gerando reflexões sobre classes e posições impostas na sociedade. A obra estreou no Festival de Cinema de Berlim, onde ganhou o Prêmio do Público de melhor ficção na Mostra Panorama. Em dezembro de 2015, foi eleito um dos cinco melhores filmes estrangeiros do ano pela organização norte-americana National Board of Review. Ao todo, o longa recebeu mais de 30 indicações e premiações em festivais de cinema.
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Divulgação “O Pagador de Promessas” (1962)
“O Pagador de Promessas” foi o primeiro filme brasileiro a conquistar a Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes, na França, um dos mais prestigiados e famosos festivais de cinema do mundo. Como se não bastasse, a obra também se tornou o primeiro filme da América do Sul a ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, na edição de 1963 – décadas antes de “Central do Brasil” explodir internacionalmente. A história acompanha Zé do Burro (Leonardo Villar), um homem humilde que, após ter seu asno de estimação atingido por um raio, faz a promessa de carregar nas costas uma imensa cruz de madeira até a igreja de Santa Bárbara, em Salvador, Bahia. Mas, é claro, a jornada não é tão simples assim, com muitos obstáculos no caminho.
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Divulgação “Bacurau” (2019)
Título mais recente da lista, a obra conta a história dos moradores de Bacurau, uma pequena comunidade do sertão brasileiro que some de todos os mapas do país. Como se isso não fosse estranho o bastante, eles ainda percebem a presença de drones sobrevoando a cidade e cadáveres aparecendo pelas ruas. Mais do que nunca, precisam agir para reconhecer o inimigo e criar um plano de defesa. Diferente de todos os outros integrantes da lista, o filme foi muito elogiado internacionalmente e venceu na categoria de melhor júri no Festival de Cannes e melhor filme nos festivais de Lima e Munique. “Bacurau” também participou do Festival de Nova York (NYFF), uma das principais mostras não competitivas do mundo.
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Divulgação “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014)
Com temática LGBTQIA+, a obra acompanha a descoberta de Leonardo (Guilherme Lobo), um adolescente cego que se apaixona pelo amigo de classe e começa a questionar sua sexualidade. O filme foi escolhido o melhor da mostra Panorama do Festival de Berlim pelo voto da crítica e ganhou o prêmio Teddy, destinado a longas com temática homossexual, no mesmo evento. Também levou o prêmio de melhor filme na escolha do público no festival de cinema de Guadalajara e levou o troféu em festivais especializados em produções LGBTQIA+ em Honolulu, Los Angeles, Nova York, São Francisco e Torino.
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Divulgação “O Cangaceiro” (1953)
A mais antiga da lista, a obra dirigida por Lima Barreto foi um dos primeiros filmes brasileiros a ganhar premiações internacionais, como o prêmio de melhor filme de aventura e de melhor trilha sonora no Festival de Cannes. Por conta desse destaque, o longa foi vendido para a Columbia Pictures e exibido em mais de 80 países. Mais do que representativo da cultura brasileira, ele acompanha Teodoro (Alberto Ruschel), do bando de cangaceiros de Galdino Ferreira, que se apaixona por Olívia (Marisa Prado), uma professora capturada pelo grupo durante um ataque. A história é inspirada na figura de Lampião.
“Central do Brasil” (1998)
Um dos maiores marcos do cinema brasileiro, “Central do Brasil” narra a trajetória de Dora, protagonizada por Fernanda Montenegro, uma ex-professora que ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas. No entanto, ela nunca coloca as mensagens no correio, apenas embolsando o dinheiro para si. Um dia, Josué, o filho de nove anos de uma de suas clientes, fica sozinho após a morte da mãe em um acidente de ônibus. Como o único contato próximo do menino, Dora reluta, mas se junta a ele em uma viagem pelo interior do Nordeste em busca do pai do garoto.
O filme recebeu um Globo de Ouro e foi a primeira produção brasileira a receber o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Além disso, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e foi responsável pela indicação de Fernanda Montenegro ao prêmio de melhor atriz – o Oscar não foi possível, mas a atriz recebeu um Urso de Prata por sua atuação.
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