Fiquei em dúvida sobre o que abordar nesta coluna que encerra 2021, mais um ano em que todos saímos machucados em maior ou menor grau. Mas é tempo de reconhecer os aspectos positivos e agradecer as coisas boas, afinal, no mínimo somos sobreviventes da pandemia.
Começo meus agradecimentos por meus filhos e sócios, Daniel e Alexandre, meus amores, cheios de coragem, ideias, ideais e muita garra. Em seguida, agradeço à minha segunda família, o time da Galeria Nara Roesler de A a Z, de São Paulo, do Rio e de Nova York, incansáveis profissionais, eles e elas, sempre dispostos a transpor barreiras e a descobrir formas de vencer os novos desafios impostos pelo mercado. Agradeço aos nossos artistas pela alta qualidade de suas produções e suas propostas “fora da caixa”, surpreendentes, que deixam a todos maravilhados. Eles me nutrem com energia para fazer mais e mais pela arte contemporânea, atividade que brota da imaginação, da criatividade, do intelecto, do desafio, da beleza, do estranhamento, da emoção, da técnica, do talento, mas também de uma incansável capacidade de realização e de uma incrível conexão com os problemas do mundo. Agradeço de coração a nossos clientes, colecionadores admiráveis, pessoas apaixonadas por arte que sempre me assombram pelo olhar sensível e por acreditarem na proposta do nosso trabalho. Agradeço também a todos os curadores, com suas visões inspiradoras, que abrem nossas mentes, e aos diretores de museus que acolhem os trabalhos de nossos artistas em suas coleções.
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Em 2021, convidamos Manoela Medeiros, André Griffo e Elian Almeida a integrarem o programa da nossa galeria. As obras desses três jovens propõem narrativas muito particulares, “fora da curva”, cada qual à sua maneira. Os três trabalham dentro de práticas bastante distintas, cada um deles possui uma produção que se destaca pela sensibilidade com que são abordadas suas respectivas investigações e indagações das questões sociais, políticas, históricas, às intervenções físicas na ideia de tempo. Sinto-me orgulhosa em poder apoiá-los e fazer parte de suas viagens. Apesar das diferenças de suas interpretações, suas obras provocam uma reflexão sobre nosso atormentado mundo contemporâneo, meditação que se faz crucial nesse período de confraternização para revermos o ano que passou e nos fortalecer para o que virá.
Não é nada fácil descobrir qual caminho seguir. O adolescente Leonardo da Vinci se viu forçado a seguir os passos do pai contador renascentista – o rapaz também era excelente em números – até ser convencido pelo extraordinário talento do filho que viria a dar uma nova perspectiva à arte. Picasso teve mais sorte, o pai pintor fazia questão de passar os ensinamentos sobre o ofício para Pablo que depois introduziu o mundo ao modernismo. Di Cavalcanti foi ilustrador e caricaturista de jornal no Rio capital antes de criar seu cubismo tropical. Tomie Ohtake sustentou Ruy e Ricardo com a costura até aposentar a agulha e pegar o pincel aos 39 anos. Andy Warhol ganhava a vida como vitrinista e ilustrador de sapatos. Cindy Sherman foi vendedora da gigantesca loja de departamentos Macy’s. Não tinha galeria, não vendia nenhum trabalho, caiu em depressão até seu namorado da época, ninguém menos que o também artista plástico Robert Longo, conseguir colocá-la como recepcionista na galeria que o representava, a Metro Pictures em Nova York (que, agora, em dezembro encerra 40 anos de atividade), logo em seguida revolucionando a história da fotografia.
Em 2020, o Papa Francisco publicou a encíclica “Fratelli Tutti” (Todos Irmãos), na qual falou sobre o diálogo, a amizade e, como exemplo, citou um trecho do inspirador “Samba da Bênção” (1967) de Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do encontro/ Embora haja tanto desencontro na vida”. Adoro essa benção musicada que mais uma vez embala minha alma na doce voz do Poetinha e me socorre nesse momento em que ponho no papel minha reflexão de final de ano.
Mas permita-me, Papa Francisco, os versos que mais me encantam sempre foram, sempre serão: “É melhor ser alegre que ser triste/ Alegria é a melhor coisa que existe”.
Saravá, 2022!
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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