Pilotar pelo deserto por aproximadamente duas semanas, desbravando um mar de dunas em condições extremas, nunca foi fácil. Para ter sucesso no Rali Dakar, maior e mais desafiadora prova de rali cross-country do mundo, os pilotos e navegadores precisam, acima de tudo, de um grau alto de experiência em automobilismo, muito preparo físico e um trabalho mental intenso.
No entanto, no esporte a motor, o êxito depende da perfeita união entre ser humano e máquina. Dessa maneira, contar com o que existe de melhor em tecnologia para ter um veículo competitivo é essencial. E foi exatamente a união de todos os fatores citados anteriormente, obviamente viabilizada através de muito investimento financeiro, o que levou aos bons resultados dos primeiros carros da T1 Ultimate para veículos de baixa emissão, classe de carros elétricos estreante da temporada 2022 do Dakar.
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“O conceito de acionamento alternativo do Audi RS Q e-tron atendeu a todas as expectativas com sua transmissão elétrica, bateria de alta tensão e conversor de energia altamente eficiente”, diz Oliver Hoffmann, membro do conselho de desenvolvimento técnico da Audi. A montadora alemã, que anunciou o plano de se tornar 100% elétrica até 2033, produziu o carro de corrida mais complexo da história da marca em pouco mais de um ano.
Contudo, chegar à mecânica ideal, talvez não tivesse sido suficiente para trazer a vitória de 4 das 14 especiais e presença em todos os pódios da 44ª edição para a equipe Audi Sport, não fosse pelos seus pilotos e navegadores.
Dream Team
Carlos Sainz, duas vezes Campeão do Mundo de Ralis e tricampeão do Dakar, Stéphane Peterhansel, o recordista com 14 vitórias no Dakar, e Mattias Ekström, bicampeão do DTM e campeão mundial de Rallycross, compuseram o trio de pilotos escolhidos pela Audi Sports para o desafio elétrico dakariano.
Sainz trouxe a primeira vitória elétrica para a Audi no Dakar ao vencer a terceira especial. “Especialmente na segunda metade, as pistas eram típicas de Dakar, ou seja, muito variadas e exigentes com uma mistura de pistas off-road, dunas pequenas e grandes e orientação difícil”, disse o espanhol, que terminou em décimo segundo na geral, por haver perdido 2:22 horas no segundo dia em consequência de um “roadbook impreciso”.
Por sua vez, Peterhansel acertou uma pedra no segundo estágio que destruiu o aro e causou danos à suspensão. Após o reparo, ele recebeu uma penalidade de tempo por exceder o prazo máximo da etapa, o que o deixou em uma situação pouco confortável na tabela. Contudo, o francês também ganhou uma especial. “Já conduzi muitos conceitos no deserto, mas o Audi RS Q e-tron é simplesmente sensacional nas dunas. A tração elétrica com seu bom torque combina perfeitamente com meu estilo de direção”, disse Peterhansel, resumindo sua experiência com o mais novo elétrico offroad da Audi.
Mattias Ekström e o copiloto Emil Bergkvist, apesar de menos experientes no Rally Dakar, terminaram em 9º lugar.
Bateria e recuperação de energía
Comparado ao Campeonato Mundial de Fórmula E, que a Audi disputou pela última vez com acionamento elétrico a bateria, os padrões no Rali Dakar são diferentes: etapas diárias de muitas centenas de quilômetros, a enorme resistência de condução na areia macia do deserto, além de altas temperaturas externas e um peso mínimo do veículo estabelecido pelo regulamento em duas toneladas são valores extremos no automobilismo.
“Com nossa configuração de acionamento no RS Q e-tron, a Audi é pioneira no Rally Dakar”, diz Lukas Folie, engenheiro de baterias de alta tensão. “Definir os desafios para este tipo de competição foi muito exigente. Simplesmente não há valores empíricos no automobilismo para esse conceito e para esse tipo de competição de resistência”.
A capacidade da bateria de alta tensão é de 52 kwh e, portanto, suficiente para os requisitos máximos esperados em cada etapa do rali. Está localizada centralmente na unidade e literalmente no meio do Audi RS Q e-tron e pesa cerca de 370 kg, incluindo o meio de resfriamento.
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Para obter a máxima eficiência, a Audi também conta com um princípio no deserto que já foi usado nos carros esportivos de Le Mans e na Fórmula E: o RS Q e-tron recupera energia durante a frenagem. As unidades MGU nos eixos dianteiro e traseiro podem converter o movimento de rotação das rodas em energia elétrica. O objetivo é recuperar o máximo de energia. O fluxo de potência nesta direção reversa não está sujeito às mesmas limitações de potência que ao acelerar. O que parece tão simples requer um sistema de freio inteligente (IBS) complexo. Combina a função de travagem hidráulica com o travão regenerativo eléctrico.
Entretanto, apesar do RS Q e-tron apresentar tecnologias exclusivas, outro carros elétricos já estiveram presentes em anos anteriores do Rali Dakar. A diferença é que, no passado, essa participações foram pontuais e com um objetivo muito mais conceitual, sem o grau de competitividade e sem uma categoria exclusiva para este tipo de carro. O que aconteceu nas dunas da Arábia Saudita em 2022 foi, na verdade, mais um retrato do cenário da eletrificação no mundo. Ela já está de fato no jogo, vem potente, cada vez mais veloz e pretende reinar.