Ela é uma das mulheres mais lindas do mundo e, por mais de 15 anos, foi a modelo mais bem paga da indústria fashion. Certamente é uma das brasileiras mais famosas no exterior, conhecida como uma figura emblemática por ter ajudado a estabelecer uma estética ensolarada e sorridente nas passarelas, marcando a moda do início dos anos 2000.
É defensora da natureza, ativista ecológica premiada, mãe presente, filha dedicada, casada com o atleta mais gato dos Estados Unidos. Enfim, Gisele Bündchen está em um estágio avançadíssimo no jogo da vida.
É da natureza dela brilhar e iluminar ambientes com sua risada aberta e sua presença de espírito. Aos 41 anos, diz que se sente melhor agora do que aos 20. Pudera, ela encontrou no ambientalismo e no desenvolvimento de ações de sustentabilidade um propósito que a realiza.
“Tenho a ecologia como missão de vida, tento usar minha visibilidade para trazer a atenção para a preservação do nosso planeta, dos nossos recursos tão preciosos: nossa água, nosso solo, nossas florestas”, diz ela.
Com esse posicionamento, Gisele vem sendo reconhecida e premiada por instituições sérias como a Global Environmental Citizen Award, de Harvard, o Instituto do Meio Ambiente e da Sustentabilidade da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), além de ter sido designada Embaixadora da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
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Nascida em Horizontina, no interior do Rio Grande do Sul, Gisele conta à ForbesLife Fashion que sempre teve uma conexão forte com natureza, mas foi só após uma viagem ao Xingu em 2004, na qual viu de perto as dificuldades que as tribos indígenas enfrentavam por causa da poluição dos rios e do desmatamento, que despertou para a necessidade de fazer algo a respeito.
Ela fala também sobre como cultiva o bem-estar, encara o envelhecimento e enfrenta o medo para manter a alegria de viver. “Quando algum problema aparece, tento ver o que posso aprender com ele e solucioná-lo da melhor maneira. Acredito que onde colocamos nossa energia é onde criaremos nossa realidade, então, por que focaria no medo? Foco minha energia no que me inspira!”
FORBES LIFE FASHION: Como você enxerga o cenário brasileiro e quais são suas perspectivas para o futuro ambiental do país?
GISELE BÜNDCHEN: O cenário brasileiro definitivamente não está bem quando o assunto é preservação da natureza. O aumento das queimadas é algo desolador. Como vocês sabem, a ONU lançou a década da restauração dos ecossistemas, pois precisamos reverter tantas perdas em biodiversidade se quisermos manter o equilíbrio na Terra.
No entanto, parece que estamos destruindo ao invés de regenerar. A regeneração é, sim, importantíssima e necessária, porém, não desmatar é o primeiro passo, pois é muito mais custoso e demora muito mais tempo para regenerar do que para preservar, isso sem contar toda a biodiversidade que perdemos, que é inestimável.
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Top e saia Versace
Fazer parte do mundo da moda por tanto tempo afetou o seu olhar sobre a sustentabilidade?
Quando entrei no mundo da moda, tinha apenas 14 anos e não tinha ideia dos processos de fabricação que existiam por trás das roupas que usamos. Hoje, acredito que o mundo da moda e os consumidores estão muito mais conscientes do seu impacto, e vejo como as empresas estão priorizando melhorar sua cadeia produtiva.
Qual é a importância da sustentabilidade no seu papel como mãe?
Como você disse acima, é ser o exemplo. É mostrar os impactos que nossas ações têm. Eu também procuro proporcionar para meus filhos muito contato com a natureza, pois acredito que só conseguimos amar e cuidar de algo que conhecemos, que entendemos os benefícios e, assim, passamos a valorizar tudo aquilo que a mãe Terra nos dá.
Ela não só nos provê o que precisamos para sobreviver, mas também já é comprovado que ela acalma, traz equilíbrio e paz para aqueles que se conectam com ela.
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O que o amadurecimento mudou na forma como você se vê? Sua relação com o corpo mudou ao longo do tempo?
Com o amadurecimento, passei a entender que nosso corpo é nosso templo e tudo que comemos, a frequência com que nos exercitamos e especialmente nossos pensamentos afetam nossa saúde.
Com a idade fui notando que para me sentir bem era preciso me alimentar de forma mais saudável e me exercitar. Aprendi que, quando comia mais saudável, me sentia muito melhor, mais leve e com mais energia. Já o exercício traz benefícios incríveis para o bem-estar geral e saúde física e mental, é preciso torná-lo um hábito diário, nem que seja só por 30 minutinhos.
Vigiar os pensamentos e consumir conteúdos positivos também é essencial para manter nossa frequência energética elevada e ter uma melhor qualidade de vida.
O que é bem-estar para você? Como a alimentação ajuda a gente a viver mais e melhor?
Bem-estar para mim tem a ver com me sentir bem, disposta, ter energia, e os alimentos têm um papel fundamental para isso.
Boa parte da minha dieta é baseada em produtos de origem vegetal como frutas, verduras, legumes e grãos, mas também consumo moderadamente produtos de origem animal, principalmente diferentes fontes de proteína, pois meu organismo já demonstrou que precisa delas.
Cada pessoa tem um organismo diferente, é preciso entender as necessidades específicas, mas evitar o consumo de açúcar, álcool e alimentos industrializados já é um bom começo.
O que te causa medo? Como você lida com isso?
Procuro não focar em coisas que me dão medo. Quando algum problema aparece, tento ver o que posso aprender com ele e solucioná-lo da melhor maneira. Acredito que onde colocamos nossa energia é onde criaremos nossa realidade, então, por que focaria nisso? Foco minha energia no que me inspira!
Qual é a melhor coisa em ficar mais velha? E a pior?
A melhor coisa que a maturidade me trouxe é entender um pouco melhor sobre mim mesma, sobre a vida, sobre o que realmente importa para mim e, principalmente, como quero viver a próxima fase, entendendo que muitas das minhas expectativas em relação à vida mudaram, são diferentes daquilo que eu projetava ou imaginava.
Acho que este ciclo mais maduro ajuda a ajustar essas expectativas, se desprender das que não me servem mais e focar naquilo que me inspira e realmente me traz mais alegria.
Já a parte mais chata de envelhecer, tenho que ser sincera, é a questão estética. Não tem escapatória, somos todos afetados pelas marcas da idade.
Ainda bem que hoje existem alguns artifícios para nos ajudar a nos sentirmos melhores. Mas também é importante cuidar para não virar refém deles. Não dá para querer voltar a ter 20 anos, mas dá sim para ter uns 40, 50 mais suaves em relação à beleza. O importante mesmo é focar na saúde.
Hoje a sua vida é muito conectada com a natureza. Ela ajuda você a relaxar? Em que momento esvazia a cabeça?
Sempre que estou em contato com a natureza isso me revigora. Não interessa onde estou, sempre procuro ver o nascer ou pôr do sol e sentir sua energia. Eu adoro andar de pés descalços, praticar exercícios na natureza e também meditar em um ambiente cercado de verde. São esses momentos que ajudam a me acalmar, me centrar e ter energia para a vida corrida que levo.
Como você se sente sendo reconhecida também pelos seus projetos ambientais?
Eu me sinto honrada por receber esses reconhecimentos, mas faço o que faço pois tenho isso como missão de vida, tento usar minha visibilidade para trazer a atenção para a preservação do nosso planeta, dos nossos recursos tão preciosos: nossa água, nosso solo, nossas florestas…
Uma das grandes preocupações da humanidade hoje é a possibilidade da escassez da água potável. Você fez um projeto com seu pai em sua cidade natal, Horizontina, o Projeto Água Limpa. Como a sua família influenciou essa visão de mundo preocupada com o meio ambiente?
Meus pais sempre nos ensinaram a olhar para o outro, para o seu redor e, acima de tudo, ser grato. Cresci em uma família de classe média com seis irmãs, não nos faltava nada, mas, por ter tantas crianças em casa, nada era esbanjado.
Aprendi a dividir desde cedo e isso foi algo que levei para a vida. Desde que saí de casa e passei a ter uma condição mais privilegiada, sempre ajudei diferentes projetos. E quando meu pai me falou sobre o problema da água na cidade onde nasci, não tive dúvida, montamos um projeto e bancamos toda a sua execução.
Pudemos ver de perto não só os animais e a biodiversidade voltarem para a região onde plantamos as mais de 40 mil árvores formando um corredor ecológico, mas também a vazão e qualidade da água melhorarem. A natureza é incrível, só precisa de um empurrãozinho para que ela possa se regenerar e ser abundante novamente.
Você participa de projetos grandes, que realmente têm impacto, como a iniciativa “Viva a Vida” ou o Projeto TiNis. Mas as ações pequenas e diárias também fazem diferença para mudar a nossa mentalidade enquanto sociedade. Como você aplica seu ativismo ambiental no seu dia a dia?
São as pequenas escolhas do dia a dia que vão nos ajudando a moldar nossa relação com o nosso ambiente. Eu sempre digo que, mais do que falar, o importante é ser o exemplo. E isso tem funcionado bem com os meus filhos, eles cresceram entendendo a importância de reciclar e não desperdiçar alimentos.
Lá em casa, além de termos uma horta, também fazemos compostagem, separamos o lixo, procuramos evitar o uso de plásticos descartáveis e por aí vai… As crianças já entendem que o que descartamos não vai simplesmente sumir como num passe de mágica. Vai parar em um lixão ou, pior, nos rios e oceanos.
Temos que praticar um consumo mais consciente, e isso se aplica à moda também. Eu nunca tive a necessidade de trocar o guarda-roupa a cada estação ou nova coleção. E tento passar isso para os meus filhos. Acredito que como consumidores temos o poder de criar mudanças com nossas escolhas.
Qual é o segredo para manter o ânimo e a energia na rotina diária?
Entender que cada dia é uma oportunidade única para trabalhar em mim, para me tornar uma pessoa melhor, também para criar, para aproveitar meus filhos, para ser útil. Cada dia é uma bênção!
Reportagem publicada na 2ª edição da revista ForbesLife Fashion, lançada em junho de 2022. Edição de moda: Flavia Lafer.