Desde 2011, a data de 17 de abril é conhecida como o Dia do Malbec. A comemoração foi criada pela organização Wines of Argentina, como um esforço para enaltecer a uva emblemática que colocou a indústria vitivinícola hermana no mapa do vinho – especialmente entre os brasileiros. Por aqui, os rótulos de Malbec são os mais consumidos entre 45% da população adulta, de acordo com pesquisa da Wine Intelligence de 2021.
Mas apesar da forte associação com os argentinos, a história da uva malbec começa do outro lado do Atlântico – mais precisamente no sudoeste da França. Foi nas regiões de Bordeaux e Cahors que os primeiros registros da varietal surgiram, no século 18. “O nome Malbeck vem de um viticultor húngaro, que disseminou a variedade em Bordeaux. Ele comercializava mudas de vinhas e, com o passar do tempo, os tipos de uvas que vendia ficaram conhecidas como ‘uvas do Malbeck’”, explica Alexandra Corvo, sommelière há 24 anos e professora da escola Ciclo das Vinhas.
Seu capítulo argentino data no século 19, quando a uva chega em terras hermanas junto a outras variedades francesas, a pedido de Domingo Faustino Sarmiento, segundo presidente e considerado o “pai da educação” na Argentina. Segundo a história, Sarmiento contratou o enólogo Michel Aimé Pouget para a criação de um viveiro em Mendoza.
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Com um verão ensolarado e firme, não demorou para que a uva se adaptasse à região e, aos poucos, conquistasse expressividade. “Na década de 1970, os argentinos decidem propagandear a malbec como a sua uva mais icônica, uma bandeira do país. Foi por vontade de se diferenciar, já que muitos países do Novo Mundo estavam plantando cabernet sauvignon e chardonnay”, diz a sommelière. O marketing, afinal, deu muito certo: hoje é quase impossível pensar na varietal sem associá-la à Argentina.
Por lá, é a uva mais plantada, com domínio de 24,3% da área total de videiras cultivadas – concentrada especialmente em Mendoza. Sua expansão foi, inclusive, exponencial: em termos territoriais, seu cultivo aumentou 185% desde 2000, segundo dados do Wines of Argentina. Em 2022, 150 milhões de litros de Malbec argentino foram exportados.
O MALBEC NA BOCA
Dominada pelo estilo frutado, a malbec é considerada pelos enólogos como uma uva versátil, que se adapta a diferentes climas.
Seu perfil “fácil de agradar” caiu rapidamente no gosto (e bolso) dos brasileiros. “O Malbec argentino conquista muito o paladar de quem está iniciando nos vinhos por ter características bem definidas, com muito gosto de fruta madura, além de serem muito acessíveis. É um ponto de partida no mundo da enologia”, diz Alexandra. Já os Malbecs da região de Cahors são mais frescos, com acidez mais evidente.
“Malbec, se fosse uma pessoa, seria aquela super carismática, simpática e que não teria muita dificuldade para conquistar sua amizade, por mais exigente que você seja. Foi justamente esse carisma que encantou os brasileiros e a tornou uma das uvas mais populares por aqui no Brasil”, afirma Philippe Rothschild, fundador da importadora PNR Group.
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Na mesa, a harmonização mais famosa e sugerida é com carnes bovinas – especialmente cortes argentinos. Mas, para Alexandra, não é bem assim: “Tecnicamente não é uma combinação que funciona. Como o Malbec da Argentina é muito alcoólico, é difícil harmonizá-lo, é um vinho muito mais gostoso para tomar sozinho, no máximo com um queijo parmesão”. A proposta vale mais para o francês, o qual ela recomenda harmonizar com carnes suculentas, com mais gordura.
A seguir, especialistas renomados indicam seus rótulos favoritos de Malbec:
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Divulgação LUPA Malbec
“Um Malbec de altitude e de pé franco, é um vinho mais estruturado, complexo e tem uma elegância que encanta. O seu envelhecimento de 20 meses em barricas de carvalho francês e americano lhe deram complexidade, persistência e maciez. Para mim, ele é uma viagem para a França.”
– Júlia Rezende, Head Sommelière do Rosewood São Paulo
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Divulgação Nucôt Rosé – Domaine de Dauliac, 2020
“É produzido com a supervisão de Fabien Jouves, grande nome do vinho natural de Cahors, no Sudoeste da França, região que a Malbec ainda reina entre as uvas. É um rosé de saignée com notas de frutas vermelhas maduras e intensas, sua acidez não é muito alta, mas é marcante e vibrante.”
– Gabrielli Fleming, sommelière e sócia do Restaurante Cepa
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Divulgação NOX Burbujas Pet-Nat
“Da bodega Canopus, localizada em El Cepillo, sul do Valle de Uco, Mendoza, esse espumante rosado transmite o frio da região e o calcário do solo. Com uma acidez marcante e uma elegância pouco clássica, o enólogo foca na produção orgânica e biodinâmica, produzindo vinhos puros, limpos e de caráter único. Um estilo de vinho que conversa muito com o calor do Brasil.”
– Bautista Casafús, argentino e sommelier do restaurante Arturito
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Divulgação TOC, 2020
“Provém de uma parte da França na qual raramente essa uva tem protagonismo, o Loire, e foi vinificado por um dos grandes pioneiros do movimento do vinho natural dessa região: o Domaine Philippe Tessier de Cheverny. Encontramos aqui a fruta pujante da Malbec em um perfil mais austero, envolvida pela costumeira fibra mineral do Loire e amparada por uma delicada filigrana de taninos e nuances herbáceas.”
– Bruno Bertoli, sommelier e dono do Beverino
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Divulgação Catena Zapata Adrianna Vineyard Mundus Bacillus Terrae
“Icônico vinho oriundo da parcela Mundus Bacillus no vinhedo Adrianna. Os solos desta parcela são compostos por carbonato de cálcio e fósseis marinhos de milhões de anos, além de microrganismos que dão características únicas e também o nome ao vinho. Com certeza entre os melhores exemplares da variedade Malbec.”
– Ricardo Santinho, sommelier do grupo Vila Anália
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Divulgação Alpasión Grand Malbec 2019
“Este rótulo representa perfeitamente a filosofia do grupo de amigos apaixonados que está por trás dessa vinícola: criar um vinho que traz um prazer instantâneo e, pelo equilíbrio e frescor, pede imediatamente uma segunda taça. É encorpado, com aromas maduros e taninos macios. Belo conjunto entre o aspecto varietal do Malbec de altitude e o estágio de 12 meses em carvalho francês, que vem trazer uma certa complexidade e elegância.”
– Philippe Rothschild, empresário francês e fundador da importadora PNR Group
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Divulgação Ana María Cumsille Vino De Parcela Malbec 2020
“No Chile também se produz Malbec, e há muito tempo! Este belo exemplar, produzido pela enóloga revelação do Guia Descorchados deste ano, é proveniente de vinhas centenárias do Valle de Itata, região chilena onde ainda se faz vinhos de forma bastante artesanal. Um vinho de solo granítico, sem passagem por barrica, que mostra uma grande expressão de fruta, taninos finos, excelente acidez, num conjunto complexo e muito bem talhado.”
– Cassia Campos, sommelière proprietária da SEDE261
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Divulgação Altos Las Hormigas Malbec Reserve 2019
“Fundada em 1995, Altos Las Hormigas nasce da união de grandes talentos: Pedro Parra, PhD em Terroir, e Alberto Antonini, apontado como um dos mais influentes enólogos do mundo pela revista inglesa Decanter. Localizada no coração de Gualtallary, a área mais nobre de Mendoza, a vinícola ganhou reconhecimento internacional por produzir vinhos que respeitam o melhor da fruta e do terroir, preceitos fundamentais da viticultura biodinâmica.”
– André Zangerolamo, Head Sommelier da World Wine
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Divulgação Vinyes Ocults Gran Malbec 2018
“Vinho mais exclusivo da família Vinyes Ocults. Recentemente premiado com 97 pontos Decanter e 95 pontos no Descorchados 2023. Em cada uma dessas garrafas, o equilíbrio perfeito entre acidez, presença de taninos e estrutura é descoberto. Elaborado com 100% de Malbec de Tunuyán, que amadurece por 12 meses em barricas de carvalho francês de primeiro uso. De minúscula produção com cerca de 1.300 garrafas por ano, todas pintadas à mão.”
– Juliana Hage, sommelière da importadora Boca a Boca
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Divulgação Terrazas de Los Andes El Espinillo 2017
“Terrazas de Los Andes explora nesse vinhedo único o caráter da Malbec de altitude (1650 metros) em sua primeira safra, El Espinillo 2017, plantado em 2002, e a viticultura de precisão. Traduz a elegância do Malbec de Gualtallary em um estilo fresco, com pouca extração com notas de cassis, defumado e cremoso na boca.”
– Juliana Carani, sommelière do Tuju
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Getty Images 17 de abril é comemorado o Dia do Malbec
LUPA Malbec
“Um Malbec de altitude e de pé franco, é um vinho mais estruturado, complexo e tem uma elegância que encanta. O seu envelhecimento de 20 meses em barricas de carvalho francês e americano lhe deram complexidade, persistência e maciez. Para mim, ele é uma viagem para a França.”
– Júlia Rezende, Head Sommelière do Rosewood São Paulo