Quando se trata da indústria global do vinho, os homens brancos e heterossexuais dominam o campo. Mas uma nova empresa, a Go There Wines, quer inovar com uma plataforma que está apoiando produtoras de vinho mulheres, negras, homossexuais e de regiões menos conhecidas ao redor do mundo.
A ideia é de Rose Previte, a mulher por trás de alguns restaurantes inovadores em Washington, nos EUA, como o restaurante com estrela Michelin Maydan (especializado em culinária caucasiana, norte-africana e do Oriente Médio) e o Compass Rose (que trabalha com comida de rua de todo o mundo).
Previte lançou a Go There Wines em 2022 junto com seu marido, o ex-apresentador da rádio estadunidense NPR David Greene, e seu amigo de longa data, o empresário de impacto social Chandler Arnold. “A barreira para entrar no universo de produção de vinho é muito grande – ter terra, investimento de capital e distribuição, sem falar na comercialização e promoção do seu vinho”, diz ela.
Leia também:
- Mulheres inspiradoras que revolucionam o mundo do vinho
- Quem é a primeira master distiller do premiado bourbon Woodford Reserve
- CFO da Diageo dá 5 dicas de como chegar à direção de uma multinacional
“Existem tantas batalhas difíceis que os vinicultores enfrentam – e isso é agravado quando você é mulher, negra ou homossexual”, segundo Previte. “Nossa missão é fornecer um mercado para produtoras de vinho em comunidades e regiões sub-representadas.”
Vinicultoras pelo mundo
A Go There Wines tem um modelo de negócios inovador – as produtoras se tornam parceiras e compartilham os lucros, e as garrafas de alto design vêm com mensagens inspiradoras. O Sparkling Rosé produzido por Nondumiso Pikashe, que comanda a Ses’Fikile Wines, uma marca indígena com sede em Paarl, na África do Sul, é um exemplo disso. O rótulo diz: “Este vinho celebra todas as matriarcas”, e é uma homenagem à vinicultora, que está promovendo mudanças no mundo do vinho no seu país. Na garrafa do Dzvelshavi Dry Red 2020 elaborado pelas irmãs enólogas Gvantsa e Baia Abuladze da Baias Wine na Geórgia, o rótulo diz: “Os homens produzem vinho na Geórgia há 8.000 anos. Agora, é a nossa vez.”
Alguns dos outros enólogos incluem Tara Gomez e Mireia Taribo (por trás da Camins 2 Dreams no vale de Santa Ynez, na Califórnia), Maria Frangieh (professora e enóloga no Líbano) e Abdullah Richi (refugiado sírio produzindo vinho no exílio no Líbano, em parceria com a vinícola Mersel Winery).
“Quando Rose, David e Chandler nos abordaram para sermos enólogas da Go There, ficamos emocionadas. Trabalhar com parceiros que acreditam na história de uma família de enólogos de várias gerações criando vinhos orgânicos e biodinâmicos tem sido incrível”, diz Baia Abuladze. “Desde que começamos a trabalhar com a Go There Wines, vimos mais pessoas celebrando os vinhos da Geórgia.”
Dado que o marido de Previte é um ex-apresentador da NPR, não é surpresa que o storytelling, a arte de contar histórias, seja muito importante. “Em cada garrafa da Go There Wines tem um QR code que abre uma página com a história daquela enóloga”, diz Previte. “Não queremos que as pessoas comprem apenas uma garrafa por causa de um rótulo bonito – agora elas podem comprá-la porque ‘conheceram’ a enóloga. As histórias estão no centro do que fazemos.”
Segundo Previte, a empresa foi uma criação pandêmica. “Todos começamos a conversar sobre o que realmente gostaríamos de poder fazer”, diz Previte. “O histórico de Chandler é como empreendedor de impacto social, o de David é como jornalista e o meu em hospitalidade. Cada um de nós trouxe para a mesa nossas próprias experiências e perspectivas únicas.”
Um negócio que começou com viagens
Também ajudou o fato de que, durante a pandemia, novas leis e regulamentações sobre o envio de bebidas alcoólicas pelo correio foram implementadas, dando início a um boom no mundo dos clubes de vinho e das vendas online diretas ao consumidor de vinhos e licores. “Vimos uma oportunidade”, diz Previte.
A experiência do casal morando na Rússia quando Greene estava na NPR também influenciou a decisão de abrir a empresa. “Viajamos para mais de 30 países em três anos. Mas para onde voltamos várias vezes e realmente nos apaixonamos foi a Geórgia ”, diz Previte. “Ainda me lembro de ter provado o vinho georgiano pela primeira vez e ter pensado: ‘Por que nunca bebi esse vinho antes nos Estados Unidos?’ Eu sabia que era minha missão fazer com que ele fosse uma parte central do meu restaurante.”
Mas levar pequenos produtores de vinho para casa teve seus desafios. “Nunca é fácil abrir um restaurante – especialmente o primeiro –, mas tentar descobrir como importar vinhos de pequenos fabricantes que não estavam disponíveis nos Estados Unidos era algo a mais”, diz Previte.
Em seus restaurantes, Previte apoia pequenos vinicultores de todo o mundo e frequentemente viaja para visitar os locais onde os vinhos são feitos e conhecer os produtores.
No Maydan, ela até começou um festival anual de vinho e cultura para criar um mercado físico para os fabricantes compartilharem seus produtos e trazer painéis de discussão sobre temas como o impacto das mudanças climáticas e as mulheres que lideram a indústria do vinho. Seus clientes também adoram. “Vi em primeira mão quanta demanda existe para descobrir e apoiar novos vinhos e enólogos, seja apresentando alguém a uma região que nunca provou antes ou compartilhando a história de um enólogo que conhecemos e amamos”, diz Previ.
Além de criar uma plataforma que ajuda as produtoras de vinho a inovar e crescer, a Go There Wines também quer chamar atenção para o poder transformador das viagens. “Esperamos despertar esse desejo do outro lado da taça, e que depois de experimentar o vinho ou ouvir a história dessas vinicultoras, você queira ir lá conhecer”, diz Previte.
Conheça algumas das mulheres que produzem vinho em parceria com a Go There Wines
Aqui, Previte fala sobre algumas das enólogas que fazem parceria com a Go There Wines e compartilha vídeos para conhecer mais sobre o trabalho delas. “Viajamos o mundo todo para fazer esses vídeos que capturam em suas próprias palavras quem elas são e por que fazem o que fazem”, diz Previte.
-
Go There Wines Nondumiso Pikashe: enóloga sul-africana
“Quando conhecemos Nondumiso Pikashe, que dirige a Ses’Fikile Wines, ela nos explicou que batizou seus vinhos com uma palavra que significa ‘chegamos’ para refletir sobre o fato de que as mulheres negras, como ela, foram excluídas da indústria do vinho na África do Sul por muito tempo”, diz Previte. “Sua determinação em ser uma enóloga contra todas essas probabilidades é inspiradora e é por isso que queremos trabalhar juntos para apoiar seu crescimento e sucesso nas próximas gerações.” Pikashe produz o Go There’s 2018 Reserve Pinotage e o 2021 Extra Brut Reserve Sparkling Rosé.
Saiba mais sobre ela, que é ex-professora de ensino médio, aqui.
-
Go There Wines Tara Gomez e Mireia Taribó: enólogas de Santa Ynez, na Califórnia
Tara Gomez e Mireia Taribó são uma dupla que se conheceu fazendo vinho em 2006. Elas se casaram em 2014 e abriram sua própria vinícola – a Camins 2 Dreams – em 2017. “Elas foram apresentadas ao vinho muito jovens. A introdução de Mireia foi na Catalunha, na Espanha, onde o vinho é considerado um alimento, e Tara como integrante da Banda Santa Ynez dos indígenas Chumash”, conta Previte. Elas produzem o Go There’s 2019 Syrah.
-
Go There Wines Maria Frangieh: enóloga baseada no Líbano
Maria Frangieh é professora e enóloga no Líbano. “Maria tem uma paixão pessoal por cruzar os limites da vinificação tradicional, incluindo a noção ultrapassada de que fazer vinho é apenas para homens”, diz Previte. “Em 2020, Maria vendeu seu primeiro vinho produzido comercialmente – um sonho que se tornou realidade durante um ano muito desafiador.” Ela produz o Go There’s 2020 Sauvignon Blanc Merwah Blend.
-
Nondumiso Pikashe: enóloga sul-africana
“Quando conhecemos Nondumiso Pikashe, que dirige a Ses’Fikile Wines, ela nos explicou que batizou seus vinhos com uma palavra que significa ‘chegamos’ para refletir sobre o fato de que as mulheres negras, como ela, foram excluídas da indústria do vinho na África do Sul por muito tempo”, diz Previte. “Sua determinação em ser uma enóloga contra todas essas probabilidades é inspiradora e é por isso que queremos trabalhar juntos para apoiar seu crescimento e sucesso nas próximas gerações.” Pikashe produz o Go There’s 2018 Reserve Pinotage e o 2021 Extra Brut Reserve Sparkling Rosé.
Saiba mais sobre ela, que é ex-professora de ensino médio, aqui.
*Laura Begley Bloom é colaboradora sênior da Forbes USA. Em sua coluna “Viagem transformadora”, ela aborda o poder das viagens para transformar vidas. Bloom escreve sobre o assunto desde o início da sua carreira, quando cobria viagens de lua de mel, e foi editora-chefe do Yahoo Viagem.
(traduzido por Fernanda de Almeida)