Nossa experiência com galeria em Nova York tem sido um trabalho passo a passo de nossa equipe, de grande aprendizado e muitíssimo interessante, que começamos em 2015 pequenos, um pouco tímidos até, mas com fé nas propostas da arte brasileira contemporânea, na nossa competência e intenção. Antes disso e muito importante, conheci em 2012 o historiador de arte venezuelano Luis Pérez-Oramas, então curador da 30ª Bienal de São Paulo e curador de arte latino americana do museu MoMA de Nova York por quatorze anos. Em 2019, convidamos Oramas para ser nosso diretor de projetos especiais.
Na sede da galeria, em São Paulo em dezembro do mesmo ano, ele inaugurou a exposição “Estruturas Encontradas”. O título refere-se a uma versão brasileira do termo cunhado em 1915 por Marcel Duchamp (ready-made, em inglês, ou objet-trouvé, em francês), que descreve um objeto industrializado, comum, sem função artística anterior, elevado a arte a partir de uma nova manipulação desenvolvida por um artista. Com o revolucionário conceito como mote, expusemos obras de, entre outros, Fábio Miguez, Cao Guimarães, Milton Machado, Paulo Bruscky, Lucia Koch, Marlon de Azambuja, Raul Mourão e Brígida Baltar.
Com o falecimento de Baltar em outubro de 2022, em março/abril, sob o olhar de Oramas, montamos “Brígida Baltar (1959–2022): To Make the World a Shelter”, assim intitulada em alusão à sua poética que tentou fazer do mundo um lugar melhor. Em nosso endereço no Chelsea, a retrospectiva homenageou esta artista singular, pioneira, que transitava com desenvoltura entre as linguagens do vídeo, da performance, da instalação, do desenho e da escultura.
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Até novembro deste ano estamos com a escultura móvel em ferro, Cage Head, do multimídia Raul Mourão, exposta no canteiro central da Park Avenue com a Rua 68, claro, tudo devidamente organizado com o aval da prefeitura desta grande cidade. Outra proposta nossa, também encampada pela Big Apple, foi a performance que a artista paraense Berna Reale fez no dia 8 de maio caminhando da Rua 58 ao Columbus Circle até o Central Park.
Originalmente perita criminal da Polícia de Belém de profissão, Reale também integra a importante coletiva “Dissident Practices: How Brazilian Women Artists Respond to Social Change” (Práticas dissidentes: como as artistas brasileiras respondem às mudanças sociais) com grandes nomes da vanguarda brasileira feminina como Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Regina Vater, Rosana Paulino e Lenora de Barros. O evento fica em exibição até 16 de junho no bairro de Hell’s Kitchen na Anya and Andrew Shiva Gallery no complexo do John Jay College of Criminal Justice, que tradicionalmente exibe mostras voltadas a questões de justiça social.
Até 16 de junho, em nossa galeria nova-iorquina, exibimos dois artistas extraordinários em “Parallel Inventions: Julio Le Parc & Heinz Mack”, sob curadoria de Oramas. Apesar de ambos não se conhecerem, Le Parc, argentino vivendo em Paris e hoje com 95 anos, e Mack, alemão de 92 anos vivendo em seu país nativo, desenvolveram obras inventivas, pioneiras, com conceitos paralelos, conforme indica o título da mostra mas, e muito importante, cada qual com sua linguagem marcante.
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Charles Roussel Algumas obras da exposição
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Cortesia do estúdio do artista e da Galeria Nara Roesler Julio Le Parc na Bienal de Veneza em 1966
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Cortesia do estúdio do artista e da Galeria Nara Roesler Heinz Mack em performance na Galeria Hans Mayer, Düsseldorf, 1964
Algumas obras da exposição
Oramas resume, assim, em um dos parágrafos do texto curatorial: “Estes dois gênios da geometria abstrata continuam mais ativos que nunca. Ação e inércia, cheio e vazio, repetição e textura, o velado e o espelhamento, são elementos que se encontram na raiz da arte de ambos, estimulando-os a continuar em busca de narrativas de admiráveis efeitos estéticos. Suas produções recentes atestam que o grande artista atinge o pico de sua capacidade criativa ao atingir a maturidade que o leva ao domínio pleno de suas atividades e pesquisas. Tal como o velho Ticiano ou o velho Picasso, as obras recentes de le Parc e Mack demonstram que a idade não é nada menos, nada mais, que a infância do gênio”.
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte [email protected].
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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