Um dos pilares da esfuziante cidade de Nova York é, sem dúvida, não só a qualidade, mas, também, a quantidade de exposições que seus museus maravilhosos oferecem. Em uma cidade como esta, com grande afluxo de turistas e um sem-número de eventos culturais a escolher, o ideal é se organizar, pesquisar, agendar antes de pisar na Big Apple ou ter muita paciência e se encasacar para enfrentar filas infindáveis no frio gelado. Ao longo do ano, minhas vindas para cá seguem uma agenda cheia de compromissos, com pouca brecha para me dedicar ao meu “esporte” favorito: visitar galerias e museus. Diferente dos outros anos, desta vez, bati o martelo cedo em 2023 para conseguir passar o final de ano em clima grande família em Nova York.
Para abrir, uma homenagem às mulheres, a retrospectiva “Judy Chicago: Herstory” no New Museum até 3 de março. De cara, o título é uma sacada desta artista feminista, pop, pioneira, que adotou como sobrenome o nome da cidade em que nasceu. Em Herstory, Judy alfineta a primeira sílaba da palavra história, em inglês, history, que sozinha significa o pronome masculino, his, substituindo-o pelo pronome feminino her. O evento é duplo, comemora os 60 anos de carreira da artista multimídia e celebra artistas pioneiras de épocas passadas, que sempre bateram na tecla de temas feministas polêmicos, como a italiana Artemisia Gentileschi (1593-1653), a sueca Hilma af Klint (1862-1944) e a mexicana Frida Kahlo (1907-1954) que, como Judy, batalharam muito para serem reconhecidas.
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Também só até 3 de março, encerrando a temporada cultural de inverno, outra exposição imperdível, a histórica “Africa & Byzantium” no Metropolitan ou Met, como esta grande instituição norte-americana é conhecida por aqui. Impecável, a mostra revela a ampla influência que os reinos do norte da África tiveram no extinto Império Bizantino (cerca de 330 a 1453), que se notabilizou após a decadência do Império Romano. Com mosaicos, artefatos de luxo, passando pela cerâmica, escultura e pintura, o evento destaca a ascensão de Bizâncio em sua privilegiada posição geográfica, na intersecção do ocidente e oriente. A primorosa pesquisa de “Africa & Byzantium” indica como esta rica cultura, até então esquecida, consolidou a expansão do cristianismo no continente europeu conseguindo amalgamar com sabedoria e requinte parâmetros estéticos tão revolucionários que viriam influenciar o surgimento, séculos mais tarde, da própria Arte Moderna.
Impossível falar em Arte Moderna sem mencionar Picasso. Montada no MoMA, “Picasso in Fontainebleau”, inaugurou no ano passado em comemoração aos cinquenta anos da morte, em 1973, do mais notório representante e fundador da Arte Moderna. É sempre surpreendente a extensão do talento transformador e da capacidade inventiva do polêmico Picasso. Encerra em 17 de fevereiro. Não perca!
Quem já conhecia o Museu Americano de História Natural de Nova York, mesmo que só através do divertido filme de família “Uma Noite no Museu” de 2003, e aprecia arquitetura moderna e tecnologia, vai se encantar com o Gilder Center, a gigantesca nova ala inaugurada em maio do ano passado. Com quatro andares perfazendo mais de vinte mil metros quadrados de projeto arquitetônico em formato orgânico (à maneira de um grande cânion que lembra a casa do Fred Flintstone do desenho animado dos Anos 60) e toda equipada com tecnologia de ponta, a nova ala foi erigida graças à doação de 465 milhões de dólares do filantropo novaiorquino, já falecido, Richard Gilder. Desde sua fundação em 1869, o mais grandioso Museu de História Natural dos Estados Unidos vem atraindo gerações de todas as idades e, agora, mais ainda com este projeto fenomenal. Todos da minha família adoraram!
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Deixei para o final o grande evento de 2024, solenemente inaugurado no dia 1º de janeiro. Trata-se da mega retrospectiva do artista pop Roy Lichtenstein (1923-1997) no Whitney Museum, com longuíssima duração, até 31 de dezembro de 2026, sim, dois anos. Não será desta vez que a visitarei, mas já está entre as minhas prioridades, ou must-see, das minhas próximas aterrissagens em Nova York.
Nota triste: a morte no Rio de Janeiro do galerista norte-americano Brent Sikkema, aos 75 anos, fundador da galeria Sikkema Jenkins, nosso vizinho no bairro de Chelsea em Nova York. Nossos sinceros sentimentos.
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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Instagram: @galerianararoesler
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