Para mergulhar nas telas de Asuka Anastacia Ogawa é preciso rastrear a rica trajetória desta jovem de 36 anos, de DNA japonês e afro-brasileiro, nascida em Tóquio. Antes de se estabelecer em Los Angeles, onde atualmente vive e trabalha, ela morou na região Serrana Fluminense, em Petrópolis, cidade natal de sua mãe. Terminado o período brasileiro, completou os estudos na Suécia, mas foi em Londres que se formou na renomada faculdade de arte e design, Central Saint Martins College.
A vivência internacional imprimiu em sua produção artística uma combinação original que harmoniza diversidade cultural e ancestralidade com uma linguagem pop, colapsando a barreira entre o antigo e o contemporâneo.
Uma atmosfera plácida, zen, pactuada a uma aura de afeto, transparece nas pinceladas que dão vida à narrativa explorada por essa adepta da meditação. O fundo monocromático das telas realça os episódios pessoais exibidos em sua pintura, caracterizada pela planicidade (superfícies planas) própria da tradicional arte japonesa de Hokusai (século 18), que influencia o mangá e o animê, assim como, a obra exuberantemente pop de Takashi Murakami, que cunhou o termo “superflat” à versão contemporânea do estilo.
O DNA japonês de Ogawa capta essas influências, expressas nas figuras humanas andrógenas de rostos arredondados e olhos amendoados de sua pintura, mas também assume o sangue afro-brasileiro que corre em suas veias ao pintá-las com a pele escura. As obras revelam histórias, crenças e tradições das mulheres de seu núcleo familiar, em especial, a mãe e a avó materna Amélia, já falecida, carinhosamente chamada Melinha, homenageada no título da primeira individual no Brasil desta artista singular.
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“Melinha” também marca outro viés de seu laço familiar. É a primeira colaboração da artista com sua mãe, responsável pela preparação dos fundos de tela das pinturas e por influenciar algumas narrativas das cuidadosas composições enaltecedoras do ser feminino de Asuka Anastacia Ogawa.
Em Los Angeles, onde vive, a artista realizou as individuais Pedra (2023) e Tamago (2022), ambas na Blum, e Soup (2017) na Henry Taylor’s. Em 2019, em Nova York, expôs a individual Feijão na Half Gallery. Entre as coletivas nos Estados Unidos estão Room by Room: Concepts, Themes and Artists in the Rachosfy Collection (The Warehouse, Dallas, 2023); 5471 Miles (Blum, Los Angeles, 2020); e Don’t Eat Me na Deli Gallery, em Nova York, em 2018, ano em que também expôs em Londres na mostra Early 21st Century Art na Almine Rech Gallery.
Em 2020, Ogawa realizou sua primeira individual em Tóquio na filial da Blum. Seu trabalho integra as coleções do Dallas Museum of Art (Dallas) e do Nasher Museum of Art at Duke University (Durham), ambas nos EUA, e do X Museum em Beijing. Em 2023, a artista integrou o grupo de artistas da coletiva Co-respondences: Brazil and Abroad, na filial de Nova York da Galeria Nara Roesler, marcando sua participação inaugural na GNR.
Asuka Anastacia Ogawa: Melinha
Até 11 de maio, 2024
Galeria Nara Roesler, São Paulo
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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Instagram: @galerianararoesler
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