Sentimentos Mistos
A preparação para a Olimpíada de 2024 em Paris tem gerado uma mistura de sentimentos entre os parisienses. Por um lado, há a empolgação e o orgulho de sediar um evento de tamanha magnitude. “A celebração do 14 de julho, por exemplo, foi maravilhosa e trouxe uma prévia do que esperar das cerimônias de abertura dos Jogos”, disse Adelaide de Grandcourt, uma amiga francesa nascida e criada em Paris, com quem troquei muitas mensagens para criar esta reportagem.
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Impacto no Comércio Local
“No entanto, a realidade diária para muitos comerciantes e moradores tem sido desafiadora”, contou Adelaide. Os restaurantes e lojas estão se preparando, mas a presença intensa de zonas de segurança e a necessidade de QR Codes para transitar em determinadas áreas têm impactado negativamente o fluxo de clientes e turistas. “Muitos parisienses aproveitaram as férias de verão para sair da cidade”, lembrou Adelaide.
Um exemplo claro desse impacto é o que ocorreu com a loja de roupas vintage em frente ao Le Bon Marché, famoso mercado de luxo parisiense. A vendedora contou que naquela segunda-feira atípica tinha vendido apenas 26 euros, quando normalmente faria cerca de 1000 euros. “Para a vendedora, a falta de clientes está diretamente relacionada às restrições de circulação impostas pelas medidas de segurança”, explicou Adelaide.
Medidas de Segurança
As zonas de QR Code, onde é necessário um código para provar residência ou autorização de entrada, têm criado barreiras adicionais. Muitos turistas não conseguem acessar essas áreas, o que limita suas opções de mobilidade dentro da cidade. Essa medida de segurança, que visa proteger os residentes e os visitantes durante os Jogos, também tem sido vista como um obstáculo ao comércio local e à vida cotidiana dos parisienses.
Adelaide destacou o impacto no comércio parisiense: “Há um restaurante chamado Le Grand Corona, situado na zona cinzenta. Normalmente, aos sábados de manhã, eles vendem cerca de 200 croissants, mas no último sábado, venderam apenas 20. E no domingo, quando o habitual são 250 croissants, eles não venderam nenhum. Passaram de 250 para zero. É uma loucura.”
Em uma área mais restrita conhecida como “zona cinza” – uma zona antiterrorista – mais próxima do Sena, é impossível se locomover por qualquer meio sem apresentar um QR Code, seja no celular ou em papel. O código indica que o portador se registrou no site Pass Jeux (Passe dos Jogos) e foi autorizado pela Prefeitura de Paris a estar nas áreas mais próximas do local da cerimônia de abertura.
Para obter este QR Code é necessário fornecer uma razão válida para estar lá, como comprovante de endereço, motivos profissionais ou consultas médicas. Quase 300.000 pessoas já obtiveram esse código, segundo reportagem do jornal Le Monde. “Não é tão fácil adquirir o código. Demorei 10 dias pra receber uma resposta negativa e tive que pedir umas 3 vezes até liberarem”, lembrou Adelaide.
Preparativos e Adaptações
Apesar das dificuldades, há um esforço coletivo para se adaptar e tirar o melhor proveito da situação. Muitos comerciantes estão se reorganizando, ajustando estratégias de marketing e planejando lançamentos de marcas para aproveitar o fluxo esperado de turistas durante os Jogos. “Estamos todos tentando nos preparar o melhor possível”, disse Adelaide.
Há também uma rede de apoio entre os comerciantes e moradores, que compartilham informações e estratégias para enfrentar esses desafios. “A comunicação e a colaboração têm sido fundamentais para garantir que todos estejam bem preparados para o evento”, destacou Adelaide.
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Olhar Otimista
Enquanto os desafios são reais e palpáveis, a esperança é que os Jogos Olímpicos tragam benefícios a longo prazo para a cidade. A exposição internacional e o influxo de turistas têm o potencial de revitalizar a economia local e posicionar Paris ainda mais como um destino global de excelência.
“A expectativa é que, com a superação dos obstáculos atuais, Paris possa mostrar ao mundo sua resiliência e capacidade de adaptação, celebrando não apenas os esportes, mas também a cultura, a gastronomia e a hospitalidade que a cidade tem a oferecer”, concluiu Adelaide.