A moda, enquanto expressão cultural e social, evoluiu de suas origens artesanais — em que cada peça era cuidadosamente feita à mão — para um cenário contemporâneo permeado por inovações tecnológicas. A Revolução Industrial foi um divisor de águas, democratizando o acesso à moda e diversificando a oferta de produtos. Entretanto, a verdadeira revolução tecnológica que promete reconfigurar a indústria da moda está apenas começando.
Ao adentrarmos o século 21, a interseção entre moda e tecnologia torna-se cada vez mais evidente. Ferramentas digitais emergentes, como a inteligência artificial (IA) e a realidade aumentada (RA), estão se integrando profundamente ao processo criativo, impactando desde o design até a produção e comercialização de vestuário. Essa nova dinâmica não apenas expande as possibilidades criativas, mas também exige uma reavaliação do ciclo produtivo da moda.
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Em uma entrevista exclusiva à Forbes, Matthew Drinkwater, Head of Fashion Innovation Agency na London College of Fashion, destacou a importância das tecnologias imersivas e da IA na transformação do setor. “Estamos em um momento em que podemos mudar a percepção dos consumidores em relação aos produtos físicos, criando experiências que rivalizam com a posse do item. Isso nos ajuda a repensar nosso modo de consumo e a enfrentar o desafio da produção excessiva”, afirma. O especialista veio ao Brasil pela primeira vez para palestrar sobre o tema na 6ª edição do G.A.T.E. Academy – Global Access Through Education: maior evento de educação internacional do Brasil, idealizado pelo STB e realizado em parceria com o JK Iguatemi
A sustentabilidade emerge como uma das promessas mais impactantes da tecnologia no setor. Com o uso de tecnologias imersivas, a indústria pode redefinir a forma como os consumidores interagem com os produtos, incentivando um consumo mais consciente. Drinkwater enfatiza que, ao proporcionar experiências tão gratificantes quanto a compra física, a moda pode induzir mudanças nas práticas de consumo, reduzindo o desperdício e promovendo uma moda mais responsável.
Além de revolucionar o design e a produção, a tecnologia transforma a experiência do consumidor. O especialista observa que a IA pode acelerar a criação de produtos, permitindo que designers gerem imagens de alta qualidade a partir de esboços em tempo recorde. “Imagine lançar uma campanha completa para uma coleção antes mesmo de fabricar os produtos fisicamente. Isso altera radicalmente nossa abordagem ao ciclo de produção”, explica.
Matthew destaca a importância de compreender como as tecnologias imersivas e a IA podem influenciar todos os aspectos da moda, desde a criação até a comunicação e o consumo. Ele acredita que essas inovações têm o potencial de transformar a percepção do consumidor, tornando as experiências digitais tão valiosas quanto a posse de um produto físico. “Com experiências imersivas, podemos criar algo emocionalmente tão impactante quanto a compra de um item novo. Isso nos ajuda a repensar o consumo e a reconhecer a urgência de uma indústria mais sustentável”.
Entretanto, desafios permanecem, especialmente em relação às habilidades técnicas exigidas. Drinkwater observa que muitas marcas ainda carecem de competências robustas nessa área. “É fundamental que isso mude. As universidades têm um papel crucial na formação de profissionais com as habilidades necessárias”, afirma. Além disso, ele ressalta que a liderança no setor de moda de luxo deve ser proativa em fomentar a experimentação e a adoção de novas tecnologias.
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Quanto às inovações, como roupas que monitoram atividades e interagem com dispositivos, Matthew vê um futuro promissor. “Estamos à beira de um momento em que nossas roupas poderão fornecer dados sobre nossa saúde e bem-estar. Imagine peças que mudam de cor ao toque de um botão. Isso é possível, mas ainda enfrentamos desafios relacionados a materiais e fontes de energia”, revela.
Para os designers, essa nova era tecnológica traz tanto oportunidades quanto desafios. “A engenharia de novos materiais exige habilidades diferentes das tradicionais. No entanto, as tecnologias imersivas permitem que os designers explorem mais criatividade em áreas onde se sentem confortáveis”, explica. Ele destaca a relevância da realidade aumentada na moda, que pode enriquecer a experiência do consumidor e permitir que os produtos evoluam ao longo do tempo.
O especialista conclui enfatizando que estamos apenas começando a explorar o potencial da tecnologia na moda. “Cada marca é única e terá necessidades específicas. O importante é não temer a tecnologia, mas abraçá-la. A possibilidade de revolucionar nossas práticas deve ser vista como uma oportunidade empolgante”, finaliza.