A obra do paulistano Carlito Carvalhosa, artista oriundo do revolucionário ateliê coletivo casa 7 que trouxe a volta da pintura nos anos 80, com seus amigos Nuno Ramos, Rodrigo Andrade, Fabio Miguez e Paulo Monteiro, está sendo celebrada em São Paulo, em duas exposições grandiosas. O Instituto Tomie Ohtake concentra suas pinturas, algumas esculturas e uma instalação, e o Sesc Pompeia exibe suas grandes instalações. Seus trabalhos estão em importantes coleções, tais como: Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; Cisneros Fontanals Art Foundation (CIFO), Miami; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP); Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio); e Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Um dos expoentes de sua geração, Carlito, criou uma obra plural de grande expressividade. Para honrar a memória deste artista muito querido na comunidade da arte brasileira, selecionei trechos de entrevistas, nas quais ele explica em suas palavras seu interessante olhar sobre a arte.
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A cor branca
“Costumo gostar de materiais ou objetos comuns, do dia a dia, que são invisíveis, não são notados, mas estão lá. Gesso, cera, tecidos, copos, luzes, postes, espelhos etc. Gosto de fazer esses objetos aparecerem de outra maneira, transformá-los, separar forma do material, esvaziar o material da forma, o espaço do lugar, todos esses procedimentos são ajudados pelo branco, cor da névoa e do ofuscamento”.
O material comum
“Mesmo antes, na casa 7, pintávamos usando esmalte sintético sobre papel kraft. O esmalte sintético é uma tinta que se compra em lojas de tinta, para pintar portas, grades, janelas etc. Já vem em latas grandes pronta para usar, e é relativamente barata. O papel kraft é papel de embrulho que se acha em qualquer lugar. Não são efêmeros, mas não têm aura de materiais de arte. O que procuro nos materiais é serem comuns – e eventualmente serem usados no trabalho de uma maneira diferente da usual”.
O ateliê
“Gosto do trabalho no ateliê. Acho que por ter começado como pintor sempre acredito que algo diferente vai surgir no processo. Nunca consegui trabalhar só com um projeto, mas uso cadernos de desenho o tempo todo, tenho prateleiras deles. Costumo desenhar com caneta preta de nanquim 0.3, talvez porque era o que eu usava quando comecei a desenhar. Eu queria ser desenhista de história em quadrinhos”.
O espelho
“Comecei a usar espelhos em 2002. Era uma forma de pintar sobre uma superfície que não está lá. Foi também uma maneira que encontrei de voltar a pintar. Ele permite um olhar mais vago. Há um termo em inglês que gosto muito, “gaze”. Assim como a instalação não tem somente um ponto de vista, se transforma conforme nos movemos (e o nosso olhar se move), essas pinturas permitem algo semelhante. Uma vez, uma senhora que olhava longamente uma pintura minha numa exposição me perguntou: Esse espelho engorda?”
A casa 7
“Foi um período importante na formação de todos nós (i.e. Carlito e seus amigos artistas: Nuno Ramos, Rodrigo Andrade, Fabio Miguez e Paulo Monteiro), porque éramos (e ainda somos) muito amigos, e trabalhávamos todos na mesma sala, intensamente. Como o esmalte sintético sobre papel era rápido e barato, podíamos pintar em grandes formatos e experimentar muito, e a crítica vinha a jato, todo mundo dando opinião na hora. Também acabávamos pegando coisas um dos outros, mesmo sem perceber (ou percebendo). Com isso o trabalho tinha uma dimensão pública e andou rápido, pois não havia o intimismo do artista em seu ateliê sozinho, guardando algo precioso por meses a fio. A amizade permitia as críticas mais ferozes no meio de piadas infinitas. A gente passava o dia dando risada”.
Representada pela Galeria Nara Roesler, a obra do artista será publicada em livro e audiolivro da editora Supersônica, com lançamentos previstos para dezembro.
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SERVIÇO
Carlito Carvalhosa: A Metade do Dobro
Até 2 de fevereiro de 2025
Curadoria: Ana Roman, Lúcia K. Stumpf, Luis Pérez-Oramas e Paulo Miyada
Instituto Tomie Ohtake institutotomieohtake.org.br
Instagram: @institutotomieohtake
Entrada franca
Carlito Carvalhosa: A Natureza das Coisas
Até 09 de fevereiro de 2025
Curadoria: Luis Pérez–Oramas e Daniel Rangel, com coordenação adjunta de Lúcia Stumpf
Sesc Pompeia https://www.sescsp.org.br/programacao/a-natureza-das-coisas-carlito-carvalhosa/
Instagram.com/sescpompeia
Entrada franca
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
[email protected]
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/
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