Ela começou na área de produção, depois migrou para a área de negociação e conteúdo, em seguida assumiu o braço de vídeos on demand, que acabara de acontecer no mercado. Até que, em 2013, veio o convite para trocar São Paulo pelo Rio de Janeiro e tornar-se gerente de novos negócios. Esse é o resumo da trajetória de Leila Oliveira na Warner Music Brasil. Desde 2022, ela é a presidente da gravadora. Além do talento que lhe rendeu novos e maiores postos, e da capacidade de absorver as inovações que foram surgindo (e que não param de surgir) no mercado fonográfico, Leila tem um outro importante predicado: é a primeira presidente de uma gravadora no país.
“Novos negócios, naquela época, era o surgimento do iTunes”, conta Leila, em entrevista para a coluna. “Quando olho em retrospecto, vejo que tudo mudou muito rápido. De repente, o que era new business virou o core da empresa”, aponta. Há mais de dez anos na Warner, a profissional segue inovando. Nesta entrevista, ela faz uma leitura das tendências do mercado fonográfico e fala sobre a sua trajetória até a presidência.
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Forbes: Você, que vem da área de novos negócios, é testemunha de que foi muito rápida a maneira como o mundo mudou, não foi?
Leila Oliveira: Foi tudo muito rápido. E vou te falar: as mudanças continuam acontecendo. Estamos percebendo uma mudança cultural na forma como o fã se relaciona com a música. São o que a gente chama de superfãs. Eles interagem com a música, e também com o que o artista defende, como se porta, se veste. Essa base de fãs muito engajada permite que qualquer lançamento tome um protagonismo muito grande. Também há os vídeos curtos, as dancinhas que viralizam – é o oposto do que se espera quando o assunto é a construção da carreira, mas é algo importante do ponto de vista de estratégia e resultado.
A investida no sertanejo é uma tendência?
Logo que assumi, fizemos um movimento natural para o funk, cuja audiência estava crescendo. O próximo passo é o regional, não só o sertanejo. Nos últimos dez anos, estivemos um pouco longe desse mercado, apesar do histórico enorme com nomes relevantes do sertanejo, como a dupla Milionário e José Rico. Depois veio uma fase mais butique, com foco no internacional, com artistas pop. Estamos olhando também para o forró do Nordeste.
Como você analisa o mercado do sertanejo?
As collabs são a tendência atual, pois ela promove um cruzamento de audiências. Vemos muito isso na nova sede da empresa, que tem o Warner Music Space, com estúdios e um espaço de convivência, onde promovemos a Fazendinha Session, em que os artistas tocam – tem agronejo, tem funknejo, agropop. Os artistas se encontram ali, e acontece esse cruzamento de estilos. Também estamos nos aproximando do country de Nashville. A dupla Fernando e Sorocaba fez uma parceria com Chase Matthew e isso representa um marco na expansão da música sertaneja no mercado internacional. A presidente da Warner Music Nashville, Cris Lee Lacy, esteve no Brasil e ficou impressionada com a troca de energia do brasileiro nos shows. Nossa audiência é muito grande; para eles é interessante ter uma fatia disso também.
As gravadoras mudaram, assim como o consumo de música?
Sim. A gente veio de uma época em que o artista dependia totalmente da gravadora para gravar e distribuir em lojas um CD físico. De repente, você cria bases no computador, grava uma música e faz um upload por meio de uma agregadora. Uma das grandes viradas de chave da empresa foi abrir o braço de distribuição, com divulgação e relacionamento com as plataformas, por exemplo.
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Dá mais trabalho dirigir uma gravadora hoje?
Diria que as características são diferentes. Trabalhamos com um volume maior de dados para analisar e uma quantidade maior de conteúdo. Antes, havia menos produtos, mas o desafio era acertar na aposta, a gente ia no feeling – em compensação, havia mais tempo para construir uma trajetória com o artista. O desafio atual é que não basta uma música viralizar; o artista precisa saber segurar o ao vivo. Porém, lançar uma música é infinitamente mais fácil, assim como é mais simples corrigir a rota.
No que você acredita quando o assunto é gestão de pessoas?
Acho que a melhor forma de extrair o melhor das pessoas é dar responsabilidade com objetivos claros. Levar em conta que o ambiente precisa de pessoas diferentes, de perfis diferentes, pensando diferente. E ser transparente: as pessoas têm que saber o que se espera delas.
Como mulher, vivenciou algo nesse posto que fez a diferença?
Um dos momentos mais emocionantes foi quando assinamos com a Azzy, do rap, que me disse: “Você não sabe o que significa, para uma pessoa que vem de um gênero tão machista, estar assinando com uma major que é mulher”. Nesses momentos você enxerga que essa é uma responsabilidade cotidiana. Espero que chegue logo o dia que a gente pense que uma presidente mulher “é só mais uma”.
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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