“A chegada do homem à Lua aconteceu há 56 anos, e agora há planos para viver em outro planeta. Não é hora de pensar em saborear algo no espaço?”, questiona Kazuhiro Sakurai, presidente da Asahi Shuzo, fabricante do Dassai, uma das marcas de saquê mais populares no mercado global.
Por esse motivo, a empresa decidiu experimentar a produção de saquê na Estação Espacial Internacional, em colaboração com a Mitsubishi Heavy Industries e o Aichi Center for Industry and Science Technology.
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O lançamento está previsto para ocorrer ainda este ano, e o orçamento total do projeto é estimado em US$ 900 mil (R$ 5,4 milhões), valor totalmente financiado pela própria empresa.
Após a conclusão do processo de fermentação, o mosto será trazido de volta à Terra no início de 2026, quando a empresa finalizará o restante da produção. Apenas uma garrafa será fabricada, com um valor estimado de 100 milhões de ienes (R$ 3,8 milhões). Todo o valor arrecadado será doado para organizações de desenvolvimento espacial no Japão.
A Mentalidade do “Tema”
A Asahi Shuzo exporta saquê premium para mais de 35 países e foi responsável por 15% do total das exportações japonesas da bebida em 2024. O número é significativo, considerando que há cerca de 1.000 cervejarias de saquê no Japão.
Ainda assim, trata-se de uma empresa familiar. O projeto não seria grande demais para o momento? Segundo Sakurai, não. “O objetivo é dar o primeiro passo para validar que a produção de saquê é possível no espaço. Nossa mentalidade é experimentar novas possibilidades e explorar o que for viável. Se falharmos, analisamos a causa e aprendemos com isso. Esse processo nos mantém em movimento.”
Essa abordagem foi fundamental para que a empresa se reerguesse após um período próximo do fechamento.
Um dos valores centrais que sustentam essa mentalidade é o “Tema”.
“Tema significa o tempo e o esforço dedicados para alcançar um objetivo. Não poupar Tema é essencial no que fazemos. Na cultura ocidental, eficiência e atalhos costumam ser priorizados. Mas dessa forma, nunca se atinge o nível mais alto de excelência, como acontece com os melhores artesãos”, explica Sakurai.
“O projeto espacial representa Tema para nós. Pode parecer um desperdício de tempo e dinheiro, mas, para a empresa, essa iniciativa oferece uma nova visão para o futuro do saquê.”
Os Desafios de Produzir Saquê no Espaço
Quais são os principais desafios na produção de saquê fora da Terra? “O maior obstáculo é a gravidade”, afirma Sakurai. O objetivo final da Asahi Shuzo é fabricar saquê na Lua, onde a gravidade equivale a um sexto da terrestre. “Na produção terrestre, a gravidade gera uma convecção natural dentro do mosto em fermentação. Desenvolvemos um ambiente mecânico onde a fermentação ocorre sob a mesma gravidade lunar. Vamos analisar como a baixa gravidade afeta o processo fermentativo.”
A empresa também criou um dispositivo de fermentação, que será preenchido com arroz para saquê, Koji e levedura. Os astronautas darão início à fermentação adicionando água ao equipamento, que monitorará o nível de álcool e agitará mecanicamente o mosto para garantir a fermentação adequada.
Diversos projetos já investigaram a possibilidade de cultivar plantas e fermentar alimentos no espaço, mas a fermentação com o fungo Koji ainda é uma novidade.
O saquê apresenta vantagens em relação a outras bebidas na produção espacial. Enquanto a fabricação de vinho exigiria o transporte de uvas ou suco para o espaço, o saquê precisa apenas de arroz seco e Koji.
“Ainda não sabemos se a fermentação pode realmente ocorrer no espaço. Mas essa incerteza faz parte do que torna o projeto empolgante”, comenta Sakurai.