Com o recente lançamento do filme Nosferatu, o clássico mito do vampiro retorna às telas, renovando o interesse pela região que há séculos alimenta histórias sombrias e fantásticas: a Transilvânia. Mesmo sem jamais ter pisado na Romênia, o autor Bram Stoker escolheu este destino misterioso como cenário para o icônico Drácula, seduzido pelo significado do nome—“além da floresta”—e pela fama de suas paisagens naturais exuberantes. Embora a obra de Stoker tenha consolidado a conexão entre a Transilvânia e o mundo dos vampiros, a região oferece muito mais do que isso, revelando uma riqueza cultural, histórica e natural que transcende os contos de terror.
Talvez seja por isso que os empreendedores romenos Raluca Spiac e Alexandra Da Sacco, junto com o marido desta última, Giulio Da Sacco, decidiram batizar sua empresa de viagens de luxo e personalizadas como Beyond Dracula.
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“Giulio e Alexandra estavam em sua lua de mel pouco inspirada no Butão — pouco inspirada no sentido de que foram na baixa temporada, e fazia frio e chovia”, conta Spiac. “Algumas vezes, eles pensaram: estamos em um lugar com natureza intocada e acesso a um estilo de vida autêntico. Temos isso na Romênia, mas ninguém sabe disso e definitivamente ninguém paga o mesmo valor que pagam para visitar o Butão por isso.”
Ela acrescenta: “Queríamos criar itinerários realmente personalizados, conhecer o país muito bem para oferecer informações confiáveis para quem desejasse descobrir nossa terra.” Aqui está o que foi visto através dos olhos deles.
Natureza Intocada
De acordo com Alex Grigorescu, excelente guia local, a Transilvânia tem o potencial de se tornar uma espécie de Yellowstone europeu, status que organizações de preservação ambiental estão tentando alcançar. A região ainda possui florestas virgens e prados nunca usados para agricultura, com uma das maiores biodiversidades do mundo. “É possível compará-los à floresta amazônica”, diz ele. A região abriga 6.500 ursos-pardos, cerca de 40% da população de ursos-pardos na Europa, e pelo menos 2.500 lobos. Isso foi suficiente para conquistar o príncipe Charles, que mantém duas casas na Transilvânia e a visita regularmente com uma equipe de biólogos. Esses prados biodiversos também produzem um mel de alta qualidade, servido por Charles — como é conhecido localmente — no Palácio de Buckingham.
Caminhadas e Ciclismo
Toda essa natureza montanhosa é um atrativo para entusiastas do ar livre. Além disso, não é permitido ter cercas nas propriedades, o que cria quilômetros de trilhas ininterruptas.
Brașov
O centro medieval desta cidade — um dos destinos mais visitados da Romênia — é bem preservado, colorido e repleto de arquitetura gótica, barroca e renascentista. A Igreja Negra (assim chamada por ter sido danificada por um incêndio) é o principal edifício gótico do país, mas a cidade é mais sobre aproveitar a vida nas ruas estreitas, talvez sentando em uma mesa ao ar livre de algum dos charmosos restaurantes. O Bistro de l’Arte é um bom lugar para experimentar a culinária romena, com pratos como salada de tomate com queijo de leite de ovelha, bolinhos de batata com molho de iogurte e pimentões recheados com carne de porco, arroz e ovo.
Schuster Boarding House
Em contraste com o clima histórico de Brașov, a nova Schuster Boarding House é um hotel moderno, instalado em um edifício Art Nouveau com influências da secessão vienense do início do século 20. Alguns quartos estão sob tetos inclinados, com janelas angulares e cantos aconchegantes para leitura. O bar no terraço oferece algumas das melhores vistas panorâmicas da cidade.
Multiculturalismo
Grigorescu destacou várias vezes que é comum encontrar igrejas ortodoxas, luteranas, unitárias (uma religião nascida na Transilvânia) e, ocasionalmente, sinagogas na mesma rua. O resultado são vilarejos com arquitetura, línguas e culinárias distintas. Em lugares onde mais de 20% da população não é de origem romena, as placas de trânsito são bilíngues. A Transilvânia abriga mais de uma dúzia de etnias distintas (como romenos, húngaros e saxões/alemães), que historicamente tendiam a não se misturar.
Sibiu
Sibiu, antiga Capital Europeia da Cultura, é conhecida pela arquitetura germânica do centro histórico, legado dos colonos saxões do século 12. Suas muralhas e torres medievais são bem preservadas, e o local é agradável para passear. Uma atração principal é a ponte de ferro Bridge of Lies (Ponte das Mentiras), cercada por lendas.
Igrejas Fortificadas
A Transilvânia, devido a suas batalhas e conquistas, desenvolveu um tipo curioso de arquitetura: igrejas que também funcionavam como castelos. É possível cruzar pontes sobre fossos e observar detalhes como montes de armas e buracos para despejar água fervente sobre inimigos.
A Prisão Conjugal
O vilarejo de Biertan alega ter registrado apenas um divórcio em 300 anos, devido a uma prática local. Casais em crise eram enviados para resolver seus problemas na “prisão conjugal”, localizada na igreja fortificada da vila.
Viscri
Viscri é um lugar único, com casas de cores pastel e formas peculiares, além de oficinas de artesãos locais como ferreiros.
Sighisoara
A cidade mais associada ao Drácula é Sighisoara, onde Vlad Tepes (o Empalador) nasceu no século 15. A cidade mantém um charme que vai além das lembranças turísticas.
Transfagarasan
A estrada montanhosa Transfagarasan conecta a Transilvânia a Bucareste. Com curvas fechadas e paisagens impressionantes, atrai motoristas e ciclistas do mundo todo.