
A moda nacional dá bastante espaço para o streetwear e também à moda praia, mas não deixa a tradição do feito à mão de lado. Nos desfiles da edição N59 do São Paulo Fashion Week, peças criadas por estilistas que valorizam o que é construído com tempo, pelas mãos de costureiras e bordadeiras, além de estampas artísticas e modelagem em moulage, mostraram o talento brasileiro para fazer uma moda autoral, com processos artesanais. Veja uma seleção a seguir.
A tapeçaria artística da Handred
Filipe Jardim assina a estampa Jardim, que a Handred transformou em estampa e também em tapeçaria, afinal o desenho faz alusão a essa técnica, tão popular nos anos 1970 no Brasil. Não à toa, o desfile aconteceu na galeria Passado Composto, especializada no assunto. Segundo o estilista André Namitala, a coleção com foco nos bordados e no artesanal é “um retorno ao gesto, ao fio e ao tempo que pulsa no silêncio entre um ponto e outro, rumo à construção de uma imagem”.
Patricia Viera e o projeto Zero Waste
A estilista se apaixonou pelo couro – e fez todo mundo amar o material também. Sem desperdício por lá: os pequenos pedaços, aqueles difíceis de aproveitar, se transformam em apliques que, por sua vez, criam texturas e “estampas”. O inverno 2025 da marca mostrou uma bela variedade desse uso que fala, além de tudo, sobre sustentabilidade.
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A juta trabalhada pela Normando
O aspecto rígido dos looks de abertura da Normando fazem a gente querer olhar a peça mais de perto. Vale a pena: a trama de juta, artesanal, cria uma alfaiataria originalmente tropical, que aproxima dois pólos opostos: a roupa dita formal e o material que vem diretamente da natureza. O mesmo acontece com o látex de origem amazônica, assim como a marca.
Leandro Castro inventa moda
Estreante no evento, Leandro Castro inspirou-se em Wassily Kandinsky para criar roupas que podem ser classificadas como wearable art. Sua especialidade é criar peças a partir de resíduos têxteis, que ele transforma usando técnicas manuais como crochê, plissados e pregueados.
Office core em moulage por João Pimenta
João Pimenta faz moda masculina, mas suas formas amplas costumam agradar mulheres, que compram as peças da marca e fazem os ajustes necessários para vesti-las. O destaque desta coleção é que ela foi construída em moulage, uma técnica geralmente usada para a moda feminina, em que a peça piloto é construída à mão, sobre o manequim, recortando, prendendo e soltando o tecido, até encontrar a proporção desejada. A alfaiataria de caída fluida, com cores neutras, deve, novamente, chamar a atenção do público feminino. A trilha sonora ao vivo, de Jonathan Ferr ao piano, com seu urban jazz, contribui com a ideia do que é feito, literalmente, à mão.
O SPFW N59 aconteceu de 7 a 10 de abril, com apoio da ForbesLife Fashion.
Com Antonia Petta e Milene Chaves
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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