Certos filmes de ficção científica não seriam os mesmos sem um carro que sintetizasse o futuro: o Audi RSQ de I, Robot, o Lola T70 de THX 1138, os Spinners de Blade Runner e o Lexus 2054 de Minority Report talvez sejam os mais notórios, mas não os únicos que tentaram ilustrar uma era décadas à frente de seu tempo.
Todos eles poderiam ser substituídos pelo BMW iX na missão de ilustrar um tempo refém da tecnologia – nenhum automóvel hoje à venda no Brasil estampa como serão os carros de depois de amanhã como este SUV, que chega partindo de R$ 670.950 na configuração xDrive40. Ou, em outras palavras, faltou um filme para encaixaram o “primeiro carro inteligente”, como define a marca.
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E não se trata da motorização elétrica, o que há tempos não é mais coisa do futuro.
Trata-se do volante que parece um manche de avião, da tela curvada composta por duas telas, com 12,3” e 14,9”, dos bancos que carregam um dos 30 alto-falantes do som da Bowers&Wilkins, do interior minimalista com poucos botões (alguns dos que restaram são de cristal), do teto solar com uma função fotoelétrica que dispensa cortinas, dos faróis a laser, da (exagerada) grade vertical autorregenerativa (que elimina sozinha pequenos danos por meio do calor), e da câmera que pode tirar selfie do motorista.
É sobre o Intelligent Personal Assistant, que replica até mesmo a manobra que o condutor faz todos os dias para estacionar na garagem ou analisa o caminho que está sendo feito, cruza com os dados de horário e destino a fim de agir espontaneamente diante de rotinas.
Tudo embalado em um visual não menos futurista e ímpar, dentro de 4,95 metros de comprimento, 1,96 m de largura e 1,69 m de altura.
Top Gun
Forbes Motors experimentou por um dia a versão xDrive50, que parte de R$ 850.950. A diferença para a opção de entrada está na potência: dois motores elétricos, um em cada eixo, somam abundantes 523 cv e cavalares 78 kgfm de torque, que segundo a marca levam o SUV de 2.585 kg aos 100 km/h em 4,6 segundos. A velocidade máxima é limitada em 200 km/h e, de acordo com a marca, a autonomia pode chegar a 630 quilômetros.
Sim, são 2,5 toneladas de carro. Que pesaria ainda mais se não fossem o monobloco de alumínio e o teto, as laterais e a parte traseira em fibra de carbono reforçado por polímero. É a fórmula para garantir menos peso e rigidez.
Em resumo, o iX xDrive50 oferece um desempenho estonteante. Na estrada, as ultrapassagens remetem – aproveitando que “Top Gun: Maverick” é o filme do momento – a um caça ultrapassando teco-tecos: basta colocar de lado, apertar o acelerador para o SUV disparar e engolir quatro, cinco ou seis carro de uma só vez.
Apesar das dimensões, é um carro bem estável. Adorna um pouco nas curvas contornadas com mais velocidade, mas logo o motorista entende que o SUV se planta no chão. A direção é bem responsiva, como convém a um BMW. Mas, se a ideia é apenas flanar pelo trânsito, o iX é suave e complacente.
Quanto à cabine, percebe-se um nível superior de luxo, seja pelos bancos amplos e muito confortáveis ou pelo uso de cristais, couro curtido em óleo de oliveira (a pegada aqui é ser amigável com o meio ambiente) e madeira certificada no acabamento. Sem falar no espaço abundante.
Quanto ao tanto de tecnologia a serviço dos ocupantes, pode parecer legal de contar para os amigos, mas na prática a sensação é de que tudo ali pensado para simplificar a vida acabou…a complicando.
Talvez o iX seja o carro da geração Z, mas para um Millennial o iX pode soar presunçoso e até antipático. É o tipo de automóvel que cai perfeitamente para ir a uma festa do Oscar, mas soa um exagero quando a tarefa é só ir à padaria ou buscar o filho na escola.
Mais do que um carro, o BMW iX é uma ruptura. E digerir uma ruptura às vezes leva tempo.