No próximo dia 4, o Daimler mais antigo ainda em funcionamento seguirá para o Bonhams Golden Age of Motoring Sale, realizado pela tradicional empresa britânica de leilões. Trata-se de um Twin-Cylinder 4HP Tonneau, que foi apenas o segundo exemplar montado pela empresa na fábrica de Coventry (Inglaterra), lá em 1897.
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“Embora tenha sido demonstrado ao então Príncipe de Gales (mais tarde Edward VIII), o primeiro proprietário deste Daimler foi o Coronel Arthur Mulliner, da família de carroçarias de mesmo nome. Seu primo Henry (H.J.) ficou famoso por criar modelos sob medida para Rolls-Royce e Bentley. Então não surpreende que carregue uma carroceria Mulliner, provavelmente adicionada depois que o carro foi devolvido à fábrica, por volta de 1900, para uma atualização, que incluiu leme e suspensão dianteira”, esclarece Tim Schofield, especialista da Bonhams em automóveis clássicos.
Hoje uma peça de museu praticamente imóvel, esse Daimler 4HP Twin-Cylinder Tonneau já foi mais inquieto. Logo que ganhou as ruas, há 125 anos, se meteu na Commemoration Run, uma corrida que celebrava um ano da Emancipation Run – esta uma prova que exaltava a lei que elevou o limite de velocidade de 6 km/h para 22 km/h. Foram mais de 50 participações.
Não há registros da vida do carro até 1952, ano em que o pai do atual proprietário o incorporou à sua coleção. O que se sabe é que outra travessia, essa entre Londres e Bruxelas, foi encarada após uma restauração completa.
Bem, talvez a Daimler também necessite de uma apresentação.
Mannheim, Alemanha. Karl Benz patenteia o Motorwagen, em janeiro de 1886, e assim se torna o inventor oficial do automóvel.
Canstatt, Alemanha. Gottlieb Daimler constrói um motor a combustão interna, logo transplantando para uma rudimentar motocicleta.
As duas companhias, Daimler e Benz, desbravam o ainda descampado mundo do automóvel. Benz entrega o seu primeiro carro a um cliente (francês) em 1888, enquanto o primeiro da Daimler chega às ruas em 1892. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) chegam a fabricar veículos militares para o exército alemão.
Todavia, a recessão que alvejou a Alemanha nos anos 1920 obrigou muitas companhias a se unirem. Arquirrivais que disputavam clientes endinheirados oferecendo engenharia de alta qualidade, as duas empresas se fundiram em 1926, formando a Daimler-Benz AG – que a partir de então passou a vender carros com a marca Mercedes-Benz.
A planta de Mannheim ficou com caminhões e ônibus, enquanto a fabricação de carros concentrou-se em Unterturkheim em Sindelfingen, em Stuttgart, sede da companhia atualmente.
Karl Benz morreu em 1929, aos 84 anos, tendo vivido o bastante para testemunhar a transformação de sua invenção. O que não ocorreu com Gottlieb Daimler, que partiu em 1900.
Pelo menos conheceu o Twin-Cylinder 4HP Tonneau, que 125 anos seria leiloado por um valor estimado entre 225 mil libras e 275 mil libras (R$ 1,4 milhão e R$ 1,7 milhão) – uma pechincha para uma cápsula do tempo que voa para tão longe.