Hoje o Jeep Commander é um bem-sucedido SUV que lidera sua categoria, mas poucos se lembram que já houve outro Commander no mundo – ambos compartilham apenas o nome e a hospitalidade dos sete lugares.
Produzido no Brasil e equipado com um motor 1.3 turbo de 185 cv, o contemporâneo é fruto da união entre a Fiat e a Chrysler; hoje, FCA (Fiat Chrysler Automobiles) e PSA (Peugeot Citroën) formam o conglomerado Stellantis. Dotado de um V8 de 326 cv, o antigo nasceu de um casamento anterior da Chrysler, então dona da marca Jeep.
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Celebrada em 7 de maio de 1998, a união entre Daimler-Benz e Chrysler começou repleta de sonhos, planos e entusiasmo. Para o então CEO da companhia alemã, Jürgen Schrempp, a fusão de US$ 36 bilhões era um “casamento feito no céu”. A ordem dos nomes da nova empresa, DaimlerChrysler, indicava quem detinha as rédeas da relação.
Há outros exemplos na história da Jeep de nomes resgatados do passado para batizar modelos atuais. O Wagoneer foi o pioneiro entre os utilitários de luxo, em 1963, e hoje empresta seu nome carregado de história e referências ao maior e mais sofisticado SUV que a marca norte-americana vende atualmente.
Gladiator: derivada do Wagoneer 60 anos atrás, derivada do Wrangler hoje.
Uma amostra bem curiosa envolve uma versão do Wrangler que existiu entre o fim dos anos 80 e meados dos 90. Tratava-se de um pacote de opcionais na casa dos US$ 5 mil que incluía requintes estéticos, como faixas decorativas, e aprimoramentos para o off-road, tais quais pneus e amortecedores mais parrudos e rodas exclusivas. Terceirizada, a customização também exibia para-choques exclusivos e faróis de neblina. O nome da versão? Renegade.
E por que resgatar o passado para nomear o presente?
“Escolher o nome dos carros é uma tarefa das mais críticas em um programa de lançamento, que passa pela análise do inventário de nomes registrados para evitar escolher um cujo registro já exista em outra empresa. Nesse sentido, em alguns casos, nomes de modelos icônicos são escolhidos para um novo carro que tenha algum tipo de semelhança no design e na aplicação, remetendo para a mesma atitude do veículo”, explica o consultor Flavio Padovan.
Ex-vice-presidente de Marketing e Vendas da Volkswagen e ex-CEO da Jaguar Land Rover para os mercados da América Latina e Caribe, Padovan cita outros exemplos clássicos, como o New Beetle, “uma releitura do velho Fusca para uma versão moderna, com linhas de design que remetem à imagem de um dos modelos mais icônicos da história do automóvel”, e o novo Land Rover Defender, uma reinterpretação do “modelo mais importante e icônico da história da marca no mundo”.
Pensamento semelhante tem Milad Kalume Neto: “ao selecionar o nome de um produto a montadora investe muito dinheiro em posicioná-lo no mercado e vinculá-lo a determinados atributos. Este é um trabalho que exige planejamento, dedicação, investimento e muita percepção de mercado”, explica o Diretor de Desenvolvimento de Negócios da JATO do Brasil Informações Automotivas.
“Neste contexto, quando se coloca fim em uma linha de produto, todo esse trabalho, às vezes realizado por anos, acaba junto com aquele último veículo fabricado na linha de produção. Mas os nomes ainda ficam no inconsciente das pessoas muitas vezes por anos. É esta questão mais psicológica que as montadoras usam para nomear novos lançamentos com estes nomes do passado”, conclui Kalume Neto.
Em janeiro de 2021, a Renault apresentou o Renaulution, seu plano de reestruturação que, entre os 14 lançamentos previstos, tem o 5 Prototype talvez como principal representante. “O novo R5 é a Nouvelle Vague: está fortemente conectado à sua história, mas é o futuro, tornando os carros elétricos populares”, atestou Luca De Meo, CEO do Grupo Renault.
O 5 era um carro descolado, com sua traseira inclinada, cores vibrantes e interior peculiar, com a alavanca de câmbio saindo do painel, o que ampliava o espaço interno. Versões de entrada e intermediárias recebiam motores de 845 cc, 1,1, 1,2 ou 1,3 litro e havia até um esportivo com motor central e tração traseira, o 5 Turbo.
E não necessariamente um carro que empresta o nome de um antepassado precisa ser como ele, como bem demonstram o Mustang que nasceu em 1964 para ser um esportivo compacto e acessível e o crossover elétrico Mach-E, lançado 56 anos depois.