Na World’s Fair de 1964, em Nova York, a Ford revelou ao mundo aquele que se tornaria seu carro mais icônico e longevo. Partindo de US$ 2.368, o Mustang era o “Thunderbird do homem pobre”, como definira o então vice-presidente e mentor do esportivo acessível da montadora norte-americana Lee Iacocca. Seu nome remetia ao P-51 Mustang, avião usado na Segunda Guerra Mundial.
Ocupada com as visitações ao Futurama II, um cenário 3D que emulava como a humanidade se locomoveria no futuro, restou à arquirrival General Motors apenas contemplar o concorrente, que em apenas dois anos já romperia a marca de 1 milhão de unidades vendidas.
Leia também: Tesla perde corrida por elétricos acessíveis para GM e Volkswagen
Leia também: Sétima geração do Mustang mantém V8 e dispensa versão híbrida
Desenvolvido a partir do Nova II, o Chevrolet Camaro estreou em 21 de setembro de 1966 custando US$ 2.466. O conversível estrearia no ano seguinte, US$ 240 mais caro.
Desde então Mustang e Camaro dançam a mesma valsa. Em 1967 o Ford ganha a versão GT500, ainda mais musculosa (360 cv); dois anos depois é a Chevrolet que dá mais poder ao seu “pony car” com as configurações Z/28 e ZL-1, esta equipada com um enorme motor V8 de 430 cv. Apenas 69 foram feitos, e por isso é o Camaro mais colecionável de todos.
Em 1970, a primeira mudança visual do Camaro vem acompanhada da versão Z/28 amansada, com um 5.7 V8 “small block”. À época, a Car and Driver concluiu: “O Z/28 não é tão emocionante como já foi. É mais tolerante ao volante e mais maduro em seu comportamento. Tudo considerado, tem um motor melhor agora, mas a perda de um espírito adolescente despreocupado e irreprimível nunca pode ser testemunhada sem algum arrependimento”.
O Camaro encarou a crise do petróleo com mais dignidade do que o rival, com seu V8 rendendo pífios 145 cv, mas mantendo as proporções e o conceito.
Após 11 anos, a segunda geração do Camaro chega ao fim. O modelo 1982 apresenta um dos estilos mais icônicos do modelo. Era a personificação daquela década em um automóvel.
Aos poucos, ambos vão se curando da anemia dos anos 1970. Em 1984 o Mustang ganha a versão SVO, que lhe devolve parte de sua antiga esportividade. Dois anos depois, o 5.0 V8 troca os carburadores por injeção eletrônica, e o consumidor responde: mais da metade dos 211.225 Mustangs comercializados em 1988 são equipados com esse motor.
No caso do Camaro, a versão IROC-Z traz um 5.0 V8 de 215 cv. Em 1987, o line-up incorpora novamente um conversível, o primeiro desde 1969.
Na quarta fase, lançada em 1993, o esportivo da Chevrolet dá um grande salto tecnológico. Há novas opções de motorização, câmbio manual de seis marchas e interior mais refinado. Em 1999, um 5.7 V8 feito em alumínio eleva a potência para 305 cv.
Embora famoso e novamente potente, o Camaro não tinha mais o prestígio de antes. Ao completar 35 anos, é aposentado – a princípio, definitivamente.
Após recorrer ao governo Obama para se recuperar financeiramente de sua pior crise, a General Motors se reorganiza. E nada como evocar velhos e prósperos tempos do que relançando o Camaro.
E é a quinta geração que marca a estreia oficial do Camaro no Brasil, no início de 2011, por atraentes R$ 185 mil. Nada com 406 cv e 57 kgfm de torque (frutos de um 6.2 V8) podia ser comprado zero-quilômetro por tal quantia.
Em 2013 o Mustang chega à sexta geração. Três anos depois é a vez do Camaro.
Fim
Na última quarta-feira (22) a GM anunciou o fim do Camaro como conhecemos. O último exemplar sairá da planta de Lansing Grand River, em Michigan, em janeiro de 2024.
“Enquanto nos preparamos para dizer adeus à geração atual do Camaro, é difícil expressar toda nossa gratidão a cada cliente do Camaro e funcionário da linha de montagem”, disse Scott Bell, vice-presidente global da Chevrolet, que tenta tranquilizar os fãs: “Embora não estejamos anunciando um sucessor imediato hoje, fique tranquilo, este não é o fim da história do Camaro”.
Mídias especializadas norte-americanas, como a Motor Trend, apontam que o próximo Camaro retornará na pele de um sedã elétrico.
Enquanto isso, o Mustang acaba de seguir para a sétima geração, que manteve o motor V8 e dispensou qualquer suporte elétrico.
Para coroar a despedida, o Camaro terá uma edição limitada para colecionadores.