A indústria brasileira de veículos já trabalha com o cenário de que os recursos previstos pelo governo federal para incentivar a venda de veículos novos vão se esgotar bem antes do fim do prazo da medida, mas afirma que, por ora, não negocia uma possível prorrogação do estímulo.
O governo federal publicou na segunda-feira (5) medida provisória que concede R$ 1,5 bilhão em crédito tributário ao longo dos próximos quatro meses para as montadoras que se dispuserem a conceder descontos de R$ 2 mil a até R$ 8 mil nos preços de automóveis e de até R$ 99,4 mil para caminhões e ônibus.
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Para automóveis, os recursos somam R$ 500 milhões, algo que deve se esgotar rapidamente e fazer o programa durar cerca de um mês, segundo os cálculos da Anfavea, a associação de montadoras.
“Na prática, ou o programa vai durar bem menos ou o governo colocará mais recursos no programa”, disse o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite. “Teremos um mês ou um pouco mais de um mês”, acrescentou, afirmando que o setor gostaria que o governo “pudesse ampliar esses R$ 500 milhões”.
A avaliação se baseia em uma média de desconto no preço do veículo, de R$ 4,5 mil a R$ 5 mil, afirmou. Isso gera um potencial total de cerca de 110 mil automóveis ante um estoque já elegível para o programa de 115 mil unidades, segundo os números da Anfavea.
A indústria de veículos brasileira tem uma capacidade de produção de 4,5 milhões de unidades, mas desde a pandemia tem trabalhado com cerca de metade de ociosidade.
A Renault, que antes do anúncio era uma das duas montadoras do país, ao lado da Stellantis, a ter um carro considerado de “entrada”, anunciou na última terça-feira (6) redução de R$ 10 mil no preço do compacto Kwid, se valendo do desconto de R$ 8 mil do programa do governo federal.
Pelos critérios de preços definidos no benefício, os carros com preços de até R$ 70 mil e com consumo energético de até 1,41 MJ/km estão entre os que mais pontuam no esquema que permite às montadoras dar o desconto de R$ 8 mil. O Kwid tem consumo de 1,36 MJ/km, segundo o Inmetro.
“A expectativa (do setor) era que a medida valesse 12 meses, porque esse período é importante para a indústria colocar novos produtos e daria tempo de outras montadoras se prepararem para entrar no jogo, com veículos com preços mais baixos”, disse o presidente da Anfavea.
Porém, a publicação da MP do programa deve servir pelo menos para destravar vendas que desde meados de maio foram represadas pela expectativa em torno dos descontos nos preços. Segundo Leite, as vendas de maio poderiam ter sido 15% maiores do que as 177 mil apuradas no mês passado não fosse esse efeito.
Na avaliação do diretor de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato do Brasil, Milad Kalume Neto, “o plano parece subajustado para o período em relação ao teto proposto… A perspectiva é que ele tenda a ser prorrogado”.
Leite, da Anfavea, disse não acreditar que o programa seja permanente. “Neste momento não há qualquer discussão sobre isso”, afirmou.
Por ora, Kalum Neto avalia que o programa pode gerar uma “antecipação (de compras pelos consumidores) que vai impactar lá na frente (as vendas de veículos)”. Segundo ele, é preciso “uma redução maior da taxa de juros para conseguir movimentar esse mercado”.