A chinesa BYD (Build Your Dreams), que negocia a compra da ex-fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, reúne nesta semana em Shenzhen, sua cidade-sede, dezenas de jornalistas da América Latina para reforçar a importância da região na estratégia de expansão global da empresa.
Fundada por Wang Chuanfu, um dos homens mais ricos da China, conhecido como Elon Musk chinês e que visitará o Brasil em outubro, a empresa apresentou uma série de planos para os mercados fora do país asiático. Um detalhe chamou a atenção na lista de nações onde a marca está presente pelo mundo: em um ranking de 50 países, o Brasil aparece em primeiro lugar.
Há algumas semanas, Stella Li, vice-presidente global da BYD, esteve no Brasil para anunciar o investimento de US$ 3 bilhões. A executiva ressaltou que o alinhamento com o mercado local vai além de seu potencial consumidor, mas remete ao papel que a nação desempenha no combate ao aquecimento global e na possibilidade de levar não só carros elétricos aos brasileiros, mas todas as tecnologias desenvolvidas no ecossistema da greentech.
Acompanhe a cobertura especial da Forbes Tech na China:
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Em entrevista à Forbes Brasil em Shenzhen, Stella reforçou alguns aspectos que envolvem a marca neste momento, dentre eles outras tecnologias presentes no ecossistema da companhia, o potencial da região em produção de lítio, um dos metais mais importantes na produção das baterias elétricas, o desafio de construir a marca no segmento premium e destacou sua impressão em relação à visão do presidente Lula sobre tecnologia e inovação.
Forbes Brasil – O que a BYD tem a oferecer para a América do Sul, em especial ao Brasil, além de carros elétricos?
Stella Li – Definitivamente, é muito mais do que carro elétrico. Nossas tecnologias embarcadas, metaverso, realidade virtual, games e até robôs, reforçam que a BYD é uma empresa de tecnologia focada em ações sustentáveis no combate ao aquecimento global. Ao focarmos nossos esforços no Brasil, também deixamos claro o quanto o país e nossos eventuais parceiros globais se enquadram nesse propósito.
FB – A região, em especial o Chile, é uma potência em lítio, elemento fundamental para baterias elétricas. Como você enxerga o acesso à matéria-prima, em especial, no Brasil?
Stella – Temos planos de desenvolvimento de estruturas para o tratamento de lítio e a importação para a China. Isso pode ser feito diretamente pela BYD ou por meio de parcerias com empresas que já desenvolvem essa operação no Brasil. O requisito, no entanto, é que esses parceiros estejam alinhados com nosso propósito e possuam rigorosas práticas de extração sustentável.
FB – Qual o desafio em convencer o consumidor premium brasileiro, acostumado com outras marcas de carros, a experimentar os modelos da BYD?
Stella – Essa pergunta poderia até se enquadrar em um tema relacionado a marca ou marketing, mas é mais do que isso. A BYD convida os consumidores, todos os brasileiros, a testarem nossos modelos e conhecerem também toda história que está por trás da empresa e dos nossos objetivos de reduzir a temperatura do planeta em um grau.
FB – Qual sua percepção, a partir dos contatos que já teve com o presidente, sobre a visão do presidente em relação à tecnologia e inovação?
Stella – Lula é um grande aliado no combate ao aquecimento global em iniciativas de sustentabilidade. Ele também está muito aberto a discutir e pensar inovação e tecnologia, tem sido perceptível isso com o contato que temos tido com ele e com seu governo até o momento.