A F1 entrou na chamada “silly season”, a época da temporada em que rumores que parecem sem sentido podem até se transformar em notícias concretas sobre a próxima temporada. E um dos nomes especulados para o grid em 2024 é o do piloto Felipe Drugovich, atual campeão da F2 e piloto de testes e reserva na Aston Martin. Na última semana, ele participou do treino oficial do GP da Itália e foi elogiado pela equipe por sua sólida performance.
Se por um lado o brasileiro enfrenta a dura concorrência de buscar um lugar numa equipe que tem como titular Fernando Alonso e o filho do maior acionista do time (Lance Stroll, filho de Lawrence Stroll), seu nome já é ligado a equipes como Sauber, que deixará de ser ligada a Alfa Romeo no ano que vem e passará a ser equipe oficial Audi em 2026.
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Mesmo com tanto sucesso, Drugovich segue com a mesma calma de quem começou no kart em sua cidade natal, Maringá, no Paraná, sabendo que as chances de conquistar uma vaga no topo do automobilismo mundial seria muito difícil, como explicou com exclusividade para Forbes Motors no box da Aston Martin no GP da Hungria deste ano.
“Eu sempre sonhei com a F1, mas nunca pensei que seria possível chegar aqui algum dia. Depois da F4, tive um ano muito bom no Euroformula, mas depois tive um ano muito difícil na F3 e pensei que muito provavelmente não vamos conseguir. Aí tive um ano muito bom na F2, seguido de uma temporada muito complicada em 2021. Este foi o momento mais difícil da minha carreira”, diz Drugovich.
De fato, o brasileiro teve que refazer seu nome no começo de 2022, e foi justamente quando estava desacreditado por parte do paddock, mostrou seu melhor: foi o campeão da temporada, assinou grandes contratos de patrocínio, incluindo as brasileiras XP e Porto Seguro, e garantiu a vaga de piloto de testes e reserva da Aston Martin para 2023.
“Antes, em 2021, eu sentia que estava fazendo um bom trabalho e os resultados não vinham, dava tudo errado. Pensando hoje, acho que foi melhor assim, realmente para eu aprender muita coisa também. Claro que eu queria aprender andando na frente, mas você também aprende bastante nos momentos difíceis e o título de 2022 fez jus ao aprendizado de 2021. Agora, me completamente pronto para estrear na F1”, diz Drugovich.
A estreia por pouco não aconteceu justamente no primeiro GP de 2023, no Bahrein. Lance Stroll estava lesionado no pulso e só foi liberado para correr um dia antes do primeiro dia de treinos oficiais.
Até mesmo na sexta-feira, dia dos testes, havia a especulação de que Drugovich poderia se tornar titular, já que havia se destacado nos testes de pré-temporada, realizados uma semana antes no mesmo circuito do Bahrein. “Fui muito bem nos treinos e poderia correr. Logicamente queria estar como titular, mas dentro das circunstâncias e oportunidades que obtive essa (da Aston Martin) foi a melhor possível para estar me preparando”, completa o brasileiro.
No paddock, até mesmo a imprensa estrangeira especulava que Drugovich só não correu no Bahrein por Lance ser o filho do dono da equipe, que fez o possível e o impossível para garantir a presença dele na corrida. A situação no campeonato, no entanto, tem sido bem desfavorável ao canadense: Alonso briga por vitórias e está constantemente no pódio, com 170 pontos, contra apenas 47 de Stroll.
O apelo para que Drugovich esteja no grid é grande, bem como o assédio da torcida a este jovem piloto, que mantem o estilo discreto fora das pistas.
“Com certeza agora tenho muito mais visibilidade, tem muita gente apoiando. Nada se compara com a torcida do Brasil, é um negócio absurdo, a galera torcendo muito. Basta olhar as redes sociais é sempre um estouro quando sai alguma notícia. Então estou muito feliz, gosto sempre de agradecer por todo apoio que tenho e logicamente isso vem com muita pressão: o pessoal está depositando confiança em mim e querem que um dia eu chegue lá para representar o Brasil. Também tenho o apoio da XP e da Porto Seguro e é incrível ter empresas desse tamanho apoiando o esporte brasileiro e principalmente a F1. Passamos por um período que faltou esse apoio, mas agora as empresas brasileiras voltando a apoiar é ótimo”, completa Drugovich.
A pressão pode ser até um fator novo, mas, para o piloto de testes e reserva da Aston Martin, a paixão por velocidade é algo natural em sua vida desde as primeiras memórias de infância. “Eu aprendi a dirigir motos com 4 anos em uma scooter. Com 7 anos, meu tio me ensinou a guiar. A gente tinha um Mercedes Classe B e eu dirigia no estacionamento da empresa. Confesso que era um carro estranho porque tinha câmbio manual mas não tinha embreagem, até hoje eu nunca tinha visto isso”, brinca.
A inspiração para superar seus próprios limites e chegar na F1 é a mesma de milhões de brasileiros: Ayrton Senna, que, por sinal, é justamente o último piloto do Brasil a ter conquistado um título mundial, em 1991.
“O Senna morreu seis anos antes de eu nascer, mas hoje em dia com o Youtube, vídeos e filmes, conseguimos ter muitas informações sobre ele. O Ayrton foi sempre o melhor de todos e sempre tento me espelhar nele o máximo possível. Acho que a cada dia que aprendo alguma coisa também consigo relacionar com ele e é uma coisa muito legal ter essa conexão”, conclui.