O acordo de Lewis Hamilton para ser piloto da Ferrari a partir de 2025 inaugura uma nova fase na história da F1. O anúncio causou tamanho impacto que chegou a valorizar em US$ 7 bilhões as ações da marca italiana no dia da divulgação da transferência.
A movimentação também é considerada a mais importante de um piloto e uma equipe em mais de 70 anos de categoria. Mas, afinal, como a ida de Hamilton para a Ferrari impacta a F1?
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Primeiro, pelo seu ineditismo. Sim, outros grandes campeões também criaram um gigantesco barulho na mídia ao se mudarem para a mais tradicional equipe do grid, como Alain Prost, Michael Schumacher, Fernando Alonso e Sebastian Vettel.
Mas Schumacher, por exemplo, era um bicampeão em ascensão em 1996, enquanto Hamilton já é o detentor dos maiores recordes da F1, com sete títulos mundiais e mais de 100 vitórias e poles.
A ida de Ayrton Senna para a McLaren, em 1988, ou mesmo para Williams, em 1994, também foram grandes revoluções no mercado de pilotos, bem como a própria ida de Hamilton para a Mercedes ou a de Schumacher voltando da aposentadoria para o time germânico.
Nestes casos, a grande diferença foi o destino destes campeões – não dá para competir com um impacto causado pela combinação de “um heptacampeão mundial e recordista de vitórias e poles” indo para a única equipe do Mundial que está presente desde 1950 na F1 e sinônimo do esporte a motor em todo planeta, a Ferrari.
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Assim, o anúncio de Hamilton é, de fato, um marco inédito na história da categoria em 70 anos, sendo um divisor de eras na F1.
Da mesma forma que a história, aquela com H maiúsculo, divide suas eras com marcos simbólicos (exemplo: a queda de Constantinopla em 1453 marcou o fim da Idade Média para o início da era Moderna), o movimento do heptacampeão para a escuderia de Maranello será representativo do início de uma fase de popularidade e ascensão da categoria.
O potencial é gigantesco, e este passo deve marcar uma nova era de ouro do esporte, em um salto de popularidade que talvez só encontre atual paralelo com a explosão mundial da categoria nos anos 1970/1980, não por acaso com a primeira grande geração de pilotos “superestrelas”.
A grande diferença é que agora os grandes ídolos da F1 também frequentam o meio e até o fundo do grid. O famoso efeito Netflix colocou até chefes de equipe no estrelato (caso de Guenther Steiner com a Haas), fazendo com que até aqueles pilotos que andam nas últimas colocações sejam reconhecidos e assediados por milhares de fãs mundo afora.
Outro fato foi a chegada da Liberty Media na gestão da categoria em 2017, com uma visão norte-americana de tornar o espetáculo mais midiático, que pode até ser alvo de algumas críticas, mas inegavelmente tem tornado a F1 bem mais popular em mercados importantes, como Estados Unidos.
O curioso é que esta nova fase de ouro já parecia ter uma data definida: 2026, quando os carros deverão ter uma mudança radical no regulamento, permitindo mais ultrapassagens, com motores com mais sustentabilidade (sem perder potência) e as equipes mais equilibradas, com um teto de gasto orçamentário prometendo colocar equipes médias na briga pela vitória.
Uma F1 mais competitiva parece ser a única receita que ainda faz o esporte ter rejeição para novos fãs, mas se houver três ou quatro equipes brigando constantemente pela vitória, essa barreira deve cair.
Por isso, a ida de Hamilton para a Ferrari em 2025 antecipa em um ano essa grande expectativa. Na verdade, o anúncio ter sido feito em fevereiro deste ano faz com que a própria temporada 2024 já ganhe um efeito de publicidade e interesse bem maior.
Os fãs vão querer ver de perto se, afinal de contas, Hamilton vai ser “deixado de lado” em seu time, Mercedes, se Carlos Sainz, que já está sem vaga na Ferrari, também será colocado como número 2 em Maranello etc.
Aliás, quem vai para o lugar de Hamilton na Mercedes também vai gerar grande interesse e debate. A escolha natural seria Fernando Alonso, talvez o único piloto com mesmo nível de experiência e grande talento para fazer o time germânico não sentir tanta falta de Hamilton e liderar um time ao lado de George Russell.
Uma coisa é certa: a mudança de Hamilton para Ferrari fará enorme bem para a carreira do heptacampeão, mesmo que o time italiano esteja abaixo de performance da Mercedes.
Afinal, é nítido que, aos 40 anos em 2025, o inglês se prepara para seus últimos anos na categoria e, sim, correr pela Ferrari é o sonho de 10 entre 10 pilotos. O próprio ídolo de Hamilton, Ayrton Senna, já expressava o desejo de encerrar sua carreira na escuderia de Maranello.
Para a F1, o movimento vai ajudar a popularizar a categoria para um público ainda maior. Hamilton hoje é um nome que transcende o esporte, com seu forte ativismo em lutas de causas sociais, contra o racismo etc. É um pop star que transita em Hollywood, na elite do futebol, da música, enfim, onde quiser.
Para a Ferrari, a contratação mostra a força da marca – e garante muitos investimentos, como visto pela incrível valorização de suas ações em um único dia. O potencial desta formação Hamilton-Ferrari é até difícil de calcular, de tão inédito na F1.
Para outros pilotos, a movimentação das cadeiras pode abrir vagas importantes, inclusive além da própria Mercedes. Caso seja mesmo Alonso o escolhido, a Aston Martin também abrirá vaga – que pode ser preenchida, por exemplo, por um piloto da Alpine e assim sucessivamente.
Ótima notícia para os brasileiros que buscam um espaço na categoria, por exemplo, seja o próprio piloto de teste da Aston Martin, como Felipe Drugovich, ou os que estão na F2, como Enzo Fittipaldi, que é atleta Red Bull, e Gabriel Bortoleto, da Academia McLaren.
Assim, quando os 20 carros da F1 alinharem no grid deste ano no Bahrein para a abertura da temporada 2024, todos nós saberemos que estamos testemunhando um momento histórico: o fim de uma fase histórica da F1. E o novo ciclo começará exatamente daqui um ano, novamente na abertura do campeonato, mas, desta vez, com Hamilton alinhando aquele icônico carro vermelho.
Mesmo que ele esteja no meio do grid, esta nova era já se desenha como uma fase inesquecível para os fãs. Agora, já pensou se ele estiver na primeira fila ao lado da Red Bull de Verstappen?
*Rodrigo França é repórter especializado em esporte a motor desde 1997. Em 25 temporadas, cobriu mais de 1.000 corridas de F1, Indy, Le Mans, Formula E, Nascar, Stock Car e Truck, acompanhando GPs em mais de 20 países diferentes. Também é autor do livro “Ayrton Senna e a Mídia Esportiva”, apresentador do programa “Momento Velocidade” na TV Gazeta e do canal Senna TV. Em 2023, cobriu 8 GPs da F1 por Forbes Motors.
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