Fórmula E tem lições a ensinar à Fórmula 1As comparações entre as duas categorias de fórmula que competem no mundo inteiro e tem chancela da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) são inevitáveis. E, claro, até injustas em relação à classe dos elétricos, já que ela tem apenas uma década de existência contra 74 anos da F1.
-
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Porém, há algumas lições que a Fórmula E poderia passar para a principal competição de automobilismo do mundo, como se conclui da entrevista em que Forbes Motors esteve presente na véspera da prova de São Paulo com a equipe Jaguar TCS Racing, que lidera a competição.
“A Fórmula 1 tem seu espaço e nós respeitamos isso. A Fórmula E também seu próprio espaço, com um grande potencial. O campeonato tem apenas nove anos, e eu não me lembro de uma categoria que tenha crescido tanto em tão pouco tempo. Foram 400 milhões de pessoas nos nove primeiros anos, isso é incrível. As pessoas veem a qualidade das corridas, dos pilotos, das equipes. Tenho vários amigos que tinham uma resistência, mas eles começaram a assistir e viram que é realmente incrível”, disse James Barclay, chefe do time.
Um dos principais fatores de quebra de resistência dos fãs mais “puristas” é o novo carro da Fórmula E, o Gen3, que fez sua estreia na temporada passada. Mais veloz, ele produz competições mais acirradas e tem uma autonomia que é controlada por regulamento justamente para deixar o grid mais competitivo.
“Se a gente quiser deixar o carro até dez segundos mais rápido, a gente poderia. Mas será que é isso que queremos? Na F1, por exemplo, você vê a corrida e já sabe o resultado antes da largada, isso jamais acontece na FE. Eu, como chefe de equipe, adoraria ver um piloto nosso largando na pole e ter certeza de vitória, mas não é assim. E como corremos em circuitos de rua, é fundamental essa competitividade”, completa Barclay.
Esta talvez seja a principal lição para da Fórmula E para a Fórmula 1: sim, o público quer ver tecnologia de ponta, mas o show principal é a disputa dos pilotos.
“Do lado técnico, de uma perspectiva de fã, é um esporte difícil de se entender de primeira, porque a tecnologia é muito avançada. Do ponto de vista dos pilotos, acho que temos um ótimo produto de corrida em mãos, com uma boa tecnologia. E os carros são bem divertidos de guiar. E os circuitos de rua são os melhores, então no lado das corridas, não acho que há muito para melhorar”, diz Nick Cassidy, que chegou a São Paulo como líder do campeonato.
Quanto aos bons circuitos de rua a Fórmula E já parece influenciar a Fórmula 1, que tem introduzido cada vez mais este tipo de traçado, como em Las Vegas, nos Estados Unidos, e Jeddah, na Arábia Saudita, só para citar duas pistas novas e que são extremamente rápidas se comparadas aos antigos circuitos de rua.
“Como esporte, ainda somos muito jovens. Do ponto de vista da tecnologia, é cada vez mais comum vermos os carros elétricos na rua. E acho que isso se transfere para a FE. Mas, para sermos justos, o ritmo de desenvolvimento e de interesse no campeonato desde o começo tem sido incrível. Com os carros ficando ainda mais rápidos, mais próximos aos da F1, talvez as pessoas vão comprar mais a ideia. Mas os fãs reais, eles querem apenas boas corridas e disputas”, acredita o piloto da Jaguar TCS Racing, Mitch Evans.
Terceira geração
A transferência de tecnologia da Fórmula E para os carros elétricos também é outra lição que pode ser aprimorada para a septuagenária categoria, que tem sim seu lado tecnológico, mas que ainda é muito distante do motorista comum.
Na Porsche, a entrada na Fórmula E em 2019 coincide com a revelação do Porsche Taycan, seu primeiro esportivo 100% elétrico.
“Com a categoria, é possível adquirir conhecimento em quatro áreas fundamentais para otimização de performance: layout de propulsão, que abrange a posição da bateria e o número de motores elétricos utilizados; construção e arrefecimento dos motores elétricos, bateria e carregamento e gerenciamento de energia, que diz respeito a eficiência, potência dos sistemas de recuperação e software de controle”, esclarece Leandro Rodrigues Sabes, gerente sênior de Relações Públicas e Comunicação.
Já as unidades de potência de um F1 atual estão longe de parecer um motor de carro de rua – inclusive a mudança de regulamento para 2026 visa justamente tornar este intercâmbio mais viável e mais próximo da realidade, trazendo assim mais montadoras.
Não por acaso Ford e Audi já anunciaram a entrada na categoria daqui um ano e meio por conta disso.