Exatamente uma década depois, uma boa notícia para os fãs de automobilismo: o Autódromo de Interlagos está de volta ao calendário da FIA World Endurance Championship (WEC), série que reúne carros esportivos em corridas de resistência ao redor do mundo. Neste domingo (14), acontece a etapa nacional Rolex 6 Horas de São Paulo, única corrida da série na América do Sul.
Quem também retorna ao país é o piloto britânico Jenson Button. Antes de desembarcar por aqui, ele passou por outras etapas, incluindo o clássico circuito francês, o “24 Horas de Le Mans”, onde ficou em nono lugar. Em entrevista à Forbes, ele fala sobre as expectativas e as emoções de voltar a correr em Interlagos, onde ganhou o seu único campeonato de Fórmula 1, e o que os brasileiros podem esperar da WEC.
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Eu gostaria de começar te perguntando sobre esse retorno da FIA World Endurance Championship (WEC), depois de dez anos de ausência no Brasil. O que o público brasileiro pode esperar do evento?
Domingo vai ser uma oportunidade realmente emocionante para os fãs brasileiros, porque eles terão a chance de ver carros muito diferentes do que estão acostumados em outras corridas, como Fórmula 1 e Stock Car. Na WEC, eles parecem naves espaciais, são realmente impressionantes e também muito diferentes entre si, emitem sons diversos. São Porsches, como o meu, que é o modelo 963, e também Ferraris, Cadillac, Alpines, entre outros. Então é um espetáculo visual.
E como é uma disputa multiclasse, você tem os 19 carros da categoria principal correndo junto com veículos GT, que são cerca de 8 a 10 segundos mais lentos. E isso faz toda a diferença e dá uma emoção a mais para a disputa, porque o piloto precisa estar atento não só aos seus competidores, mas também aos mais lentos. Como vou ultrapassá-lo? Contorno? Vou por dentro, por fora? É realmente muito emocionante, tanto para nós pilotos como para quem assiste.
Esse é o primeiro ano que você corre a temporada inteira. Quais as suas expectativas para a edição brasileira e o retorno na pista de Interlagos?
Interlagos é a pista perfeita para a WEC. Eu, como tenho muita experiência por conta da minha carreira na Fórmula 1 – e é obviamente uma pista inesquecível – espero usar isso ao meu favor. A maioria dos pilotos nunca passou por ela, então definitivamente tenho essa vantagem. Posso levar as informações para a equipe sobre como é a pista, e o que precisamos fazer com o ajuste do carro, etc. São elementos que fazem diferença no final.
Agora que você mencionou: sobre Interlagos, me conta um pouco das suas lembranças daquele 18 de outubro de 2009 quando ganhou o seu título de F1?
Aquele fim de semana inteiro foi de muita emoção. O treino no sábado foi muito difícil, um dos pontos mais baixos do meu ano, mas ao mesmo tempo também de um momento especial. Naquela noite, indo para o hotel, meu pai me puxou para um canto para conversar, me levou para o bar e falamos sobre toda a minha carreira, sobre os meus pontos fortes. Isso fez uma grande diferença na minha atitude mental para a corrida no domingo. Meu pai nunca costumava ser tão aberto com suas emoções e isso realmente significou muito. Acordei no domingo de manhã, cheio de energia, e disse ao meu chefe: “Hoje vou ganhar o campeonato mundial”. E assim que saí do carro, vi meu pai e lembro que nos abraçamos e choramos juntos e, para um homem britânico como ele, demonstrar emoções assim sempre foi raro. Foi um abraço que pareceu durar para sempre. Então, é uma pista que me deu muito ao longo da vida e da minha carreira e voltar para cá é muito especial.
Você também é o embaixador da Rolex, que é o relógio oficial da série desde 2016. Você pode me contar mais sobre sua ligação com a Rolex e como e quando essa parceria começou?
Eu tenho muitas conexões com a Rolex ao longo da vida e é por isso que ser embaixador da marca faz tanto sentido para mim. Quando entrei na Fórmula 1, lá em 2000, o primeiro relógio que comprei e estou usando agora foi um Daytona de aço, como um presente por ter entrado na competição. Depois, para o 70º aniversário do meu pai, dei para ele um Daytona de ouro rosa, que lembro de ficar pensando como ficou legal no pulso dele. Infelizmente ele faleceu no ano seguinte, então herdei seu relógio, e isso é provavelmente a coisa material mais especial da minha vida. Então, quando há três anos, a Rolex entrou em contato, conversamos sobre trabalhar juntos e contei a eles minhas conexões e fez todo o sentido. E é uma marca que tem tudo a ver com o automobilismo, um esporte de precisão.
Você se aposentou da Fórmula 1 em 2016, mas nunca abandonou as pistas, correndo de diferentes formas e campeonatos. Quem te inspirou e continuar a te inspirar nesse esporte?
Definitivamente Alain Prost. Para mim, a maneira como ele trabalhava, talvez ele não fosse o mais rápido, e ele teve que competir contra Ayrton Senna, que era provavelmente o piloto mais rápido do mundo e talvez um dos melhores de todos os tempos. Mas a forma como Alain teve que desenvolver o carro ao redor dele para competir foi uma inspiração. E acho que isso foi um ensinamento pra mim: eu não era o piloto mais rápido da Fórmula 1, mas consegui desenvolver um carro voltado para as minhas habilidades e isso me tornou um competidor forte. E Alain fez isso da melhor maneira. Depois tínhamos Nigel Mansell… espero que os fãs brasileiros não me odeiem por isso (risos). Mas os anos 80, na época que cresci, foi muito especial no esporte.