Eu já atendi muitas jovens com problemas de autoimagem corporal. Eram meninas que, apesar de não terem nada de errado com o corpo delas, se achavam gordas ou encontravam defeitos onde não tinham. Infelizmente, o distúrbio de imagem corporal não afeta só as mulheres, mas igualmente os homens. Pouco se fala sobre essa questão de saúde mental nos homens porque esse é um campo de pesquisas relativamente novo.
Mas alguns poucos estudos dão conta de que a insatisfação com a imagem corporal é um problema que atinge uma considerável parcela do público masculino, principalmente entre a pré-adolescência e os 40 anos de idade, da mesma forma que em mulheres. Especialistas chegam a dizer que cerca de 30% dos distúrbios alimentares como anorexia e bulimia ocorrem em homens, e que 30% deles têm alguma preocupação com o corpo ou têm uma imagem corporal negativa.
Em 2014, por exemplo, pesquisadores franceses estudaram um pequeno grupo de homens (eram 323 apenas) com idade média de 22 anos. Detalhe: todos tinham peso considerado saudável. Dentre eles, 85% se diziam descontentes com a sua massa muscular. Uma outra pesquisa, feita com jovens entre 8 e 18 anos, apontou que metade deles mudaria a sua dieta para ter uma aparência melhor e que 2 em cada 10 acreditam que existe um corpo masculino perfeito pelo qual vale a pena lutar.
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De onde vem esse descontentamento, essa ansiedade para ter um outro corpo? Quando entramos nas redes sociais, fica fácil descobrir. Dificilmente se vê uma foto de um corpo normal – e por normal eu digo um corpo saudável e que eventualmente pode concentrar algum pneuzinho na barriga. O que se encontra nesse nosso mundo pasteurizado e de prazeres instantâneos (quanto mais likes, mais “bem-sucedido” eu sou, certo?) são corpos irreais de super-heróis de quadrinhos: músculos saltados e índice de gordura muito abaixo do saudável.
Lamentavelmente, muitos homens e jovens têm sofrido com ansiedade, baixa autoestima, depressão e até pensamentos suicidas em decorrência dessa pressão das mídias sociais pelo corpo perfeito. E eles têm sofrido sozinhos porque o preconceito os faz resistirem em buscar ajuda de um profissional de saúde mental. Recentemente, cantores e atores famosos passaram a falar sobre esse assunto. Um exemplo é o novo Batman, Robert Pattinson. Uns anos atrás, ele confessou sofrer com ansiedade por ter uma visão distorcida do próprio corpo.
Outra boa notícia é que começam a aparecer movimentos que buscam resgatar o prazer e a alegria de aceitar o próprio corpo, do jeito que ele é, e ajudar a construir uma nova masculinidade, que não está calcada só na aparência corporal, mas em outros valores, muito mais importantes.
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Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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