
O conceito de casamento sempre foi complexo. Embora, em teoria, as pessoas devam se casar para ficar com alguém que amarão pelo resto de suas vidas, a realidade sempre foi bem diferente. Ao longo da história, o casamento tem sido movido por status, procriação e expectativas sociais.
Muitas culturas ao redor do mundo desaprovam aqueles que permanecem solteiros e, como resultado, muitas pessoas acabam casando por um senso de dever e compromisso, em vez de amor duradouro. Essas pressões frequentemente resultam em uniões desequilibradas e insatisfatórias, nas quais um ou ambos os parceiros carregam o peso de um compromisso assumido pelos motivos errados.
Na sociedade moderna, onde a maioria das pessoas pode viver de forma independente se tiver condições de se sustentar, cada vez mais pessoas estão optando por não se “prender” em casamentos sem amor. Um artigo publicado em 2020 pelo Our World in Data mostra que os casamentos nos Estados Unidos caíram impressionantes 50% desde a década de 1970.
Isso, no entanto, não significa o fim da instituição do casamento. Em muitas partes do mundo, o conceito de casamento está simplesmente evoluindo. As pessoas estão reconhecendo que podem se casar em seus próprios termos e estão entrando em uniões que, embora não sejam vistas como tradicionais, atendem às suas necessidades.
Aqui estão três tipos de casamentos não convencionais que acontecem por razões diferentes do amor.
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Casamentos de conveniência: quando a estabilidade importa mais que a paixão
Durante muitos anos, um dos principais objetivos do casamento era a procriação. As pessoas que se casavam eram esperadas a ter filhos e formar uma família nuclear que contribuísse para a sociedade. Por conta disso, o “fator romance” era considerado extremamente importante.
O Japão decidiu mudar essas regras e, atualmente, cada vez mais cidadãos estão adotando o “casamento por amizade”. Esse tipo de casamento envolve a coabitação com alguém com quem se compartilham interesses em comum, mas sem ligações românticas. Os casais podem optar por morar juntos ou separados e, caso queiram ter filhos, podem recorrer à inseminação artificial.
Sexualidade, desilusão com o casamento tradicional e até mesmo estabilidade financeira são algumas das razões pelas quais parte da juventude japonesa vê essa alternativa como uma opção mais prática para os dilemas matrimoniais.
Embora possa surpreender algumas pessoas, esse tipo de casamento não é incomum. Um artigo do The New York Times afirma que até 15% dos casais nos Estados Unidos vivem em casamentos descritos como “sem sexo”.
Para muitos casais, os sentimentos românticos podem evoluir para um vínculo de companheirismo com o tempo. Isso não significa que amem seus parceiros menos — em vez disso, a relação se fundamenta no respeito mútuo e no compromisso compartilhado, em vez de uma noção idealizada de romance e sexo. Não há nada de errado em escolher construir uma vida com alguém amado de maneira platônica, e o Japão parece estar abraçando essa ideia de forma positiva.
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Contratos de casamento renováveis: quando o casamento tem prazo
É possível já ter pensado em experimentar o casamento sem precisar se comprometer para sempre. No México, uma proposta de “período de teste” matrimonial poderia oferecer essa liberdade.
Com a intenção de reduzir as crescentes taxas de divórcio, um artigo da BBC de 2011 explica como o México propôs permitir que casais experimentassem o casamento por alguns anos. Se o vínculo não funcionasse, o casal poderia simplesmente deixar a licença expirar, sem necessidade de um processo de divórcio. Deveres, responsabilidades legais e questões relacionadas à criação de filhos seriam delineados em um contrato, evitando confusões ou conflitos futuros.
Embora essa ideia não tenha sido formalizada em lei, ela aborda uma preocupação crescente em muitos países. Um estudo de 2024 destacou que fatores como educação, satisfação sexual ou mesmo infertilidade podem ajudar a prever se um casamento durará para sempre.
O problema é que a maioria das pessoas não considera esses dados antes de dizer “sim”. Muitos casais entram no casamento sem avaliar práticamente informações que poderiam revelar sinais de alerta em potencial — ou pior, esses dados não estão disponíveis. Por isso, um casamento renovável poderia ser uma solução interessante para aqueles que têm dificuldade em enxergar o panorama completo do casamento.
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Casamento “viver separados juntos”: quando o casamento é individual
Em culturas influenciadas pela sociedade ocidental, é comum observar um forte individualismo. Em algumas culturas, essa mentalidade também se aplica ao casamento.
O “casamento LAT” holandês, sigla para Living Apart Together (Viver Separados Juntos), refere-se a casais em relações comprometidas que optam por não morar juntos, por diversos motivos. Esses casais desfrutam de todos os benefícios do compromisso matrimonial e podem até ter filhos, mas preferem manter residências separadas.
Muitos podem se perguntar: “Por que se casar, então?” No entanto, aqueles que estão em casamentos LAT argumentam que esse arranjo é uma prova ainda mais forte de seu compromisso do que o casamento tradicional.
Um artigo de 2018 publicado no Advances in Life Course Research destaca que casais em relações LAT acreditam que suas uniões perduram não por obrigações legais ou sociais, mas porque são construídas sobre um compromisso genuíno e sincero.
Seja por razões religiosas, legais ou por simples acordo entre duas pessoas, o conceito de casamento sempre deve beneficiar ambas as partes. O casamento deve ser satisfatório e, se isso significa adaptar tradições para atender às próprias necessidades, pode valer a pena considerar. Afinal, não se trata da felicidade de mais ninguém, a não ser dos envolvidos.