
Os relacionamentos prosperam quando ambos os parceiros se comprometem com o crescimento constante e a compreensão mútua. É por isso que grandes relacionamentos são esculpidos, não apenas encontrados.
Uma pesquisa publicada na Current Directions in Psychological Science explica como o “fenômeno Michelangelo” é fundamental para estimular o crescimento e a evolução mútua nos casais.
Assim como Michelangelo via o potencial dentro de um bloco de mármore, nós também devemos descobrir ativamente — em vez de presumir — os pensamentos, sentimentos e sonhos em constante evolução do nosso parceiro. Fazer perguntas intencionais cria uma ligação mais profunda, segurança emocional e um propósito compartilhado.
Veja cinco perguntas-chave para ajudar você e seu parceiro a crescerem juntos:
1. “Estamos trabalhando juntos para resolver o problema?”
Conflitos são inevitáveis, mas a forma como vocês os enfrentam define a saúde do relacionamento. A Teoria da Cooperação e Competição de Morton Deutsch sugere que casais que veem os objetivos como compartilhados (e não opostos) tendem a se comunicar melhor e se fortalecer com o tempo.
Quando vocês operam como uma equipe, é mais provável que vejam a alegria do parceiro como a sua própria. Isso incentiva a celebração mútua das conquistas e o enfrentamento dos desafios lado a lado — vendo obstáculos como batalhas compartilhadas, e não como fardos individuais. Essa mentalidade fortalece a segurança e o crescimento mútuo, tornando cada um investido no florescimento do outro.
Por outro lado, uma mentalidade competitiva pode, inconscientemente, transformar as conquistas do parceiro em ameaças, gerando insegurança em vez de orgulho. As discussões podem virar disputas de poder ou “placares de acertos”, onde “vencer” importa mais do que resolver. Isso transforma o relacionamento em um campo de batalha sutil (ou evidente), corroendo a confiança e a segurança emocional com o tempo.
2. “Você se sente emocionalmente seguro comigo neste momento?”
A segurança emocional é a base de um relacionamento saudável. Não se trata apenas de amor, mas de sentir-se visto, ouvido e respeitado — especialmente durante conversas difíceis.
Uma pesquisa publicada na Family Process em 2016 mostra que casais que cultivam esse tipo de segurança conseguem romper ciclos negativos e se reconectar com mais facilidade. Terapeutas que utilizam a Terapia Focada nas Emoções (EFT) ajudam os parceiros a construírem essa segurança ao validar os sentimentos do outro com frases simples como: “Eu vejo o quanto isso te machucou” ou “Parece que você está se sentindo sobrecarregado(a)”.
Você pode aplicar essas estratégias fora da terapia também. Tente falar com gentileza e use as palavras do seu parceiro para mostrar compreensão. Foque em estar presente, ao invés de reabrir conflitos antigos. No dia a dia, pequenas mudanças — como realmente ouvir ou suavizar o tom — podem fazer grande diferença para que seu parceiro se sinta emocionalmente seguro.
3. “O que mudou para você ultimamente, e como posso estar mais presente?”
O que era importante para seu parceiro há um ano pode não ser mais agora. Essa pergunta mostra que você está atento a quem ele(a) é hoje — não quem era no passado — e, mais importante, que você está criando espaço para ele(a) crescer e mudar.
Por exemplo, se seu parceiro está estressado no trabalho enquanto você está em uma fase boa, evite qualquer sinal de superioridade. Em vez disso, pergunte: “Como posso te apoiar melhor?”
Um estudo de 2017 sobre a sensação de ser compreendido em relacionamentos revela que muitas vezes projetamos nossos próprios sentimentos nos outros, presumindo que eles nos veem como nós nos vemos. Achamos que nossos pensamentos são mais óbvios do que realmente são e supomos que nosso parceiro é mais parecido conosco do que de fato é.
Essas suposições nos levam a superestimar o quanto o parceiro nos entende.
Para evitar isso, pratique a escuta ativa e faça perguntas esclarecedoras como: “O que apoio significa para você agora?” em vez de operar com base em suposições antigas. Reconheça que as necessidades e perspectivas do outro podem ser diferentes das suas — e evite “ler a mente”. Checagens regulares garantem que você esteja respondendo à pessoa que ele(a) é hoje.
4. “Como o amor se parece para você neste momento?”
No início do relacionamento, o toque físico pode ser a linguagem do amor dominante — mãos dadas, abraços, beijos. Mas, conforme a vida avança, nossas necessidades também mudam. Um parceiro lidando com trabalho, filhos e cuidado com familiares pode precisar mais de atos de serviço do que de afeto físico. Essa mudança não significa amar menos — apenas amar de forma diferente.
Por isso, é importante perguntar com frequência: “O que te faz sentir mais amado(a) hoje em dia?”
Um estudo de 2022 publicado na PLOS One descobriu que os parceiros se sentem mais satisfeitos — tanto romântica quanto sexualmente — quando o amor é demonstrado da maneira que preferem recebê-lo. Curiosamente, nem mesmo pessoas com altos níveis de empatia acertam isso sempre.
Isso mostra que adivinhar não é suficiente, e que as linguagens do amor podem mudar silenciosamente. Às vezes é afeto, outras vezes é espaço, palavras de afirmação ou metas compartilhadas. O “como” do amor precisa estar sempre ativo e ser mútuo. E se sua linguagem do amor mudou, não deixe seu parceiro adivinhar — comunique. O silêncio só aumenta o distanciamento.
5. “Ainda estamos sonhando juntos ou apenas gerenciando a vida?”
Relacionamentos duradouros podem, aos poucos, entrar no ritmo da rotina — refeições, tarefas, filhos, contas. Mas são os sonhos compartilhados que trazem vida de volta ao relacionamento — uma viagem, um projeto criativo, ou uma nova forma de viver juntos.
Vocês ainda têm aqueles momentos tranquilos depois do jantar — quando as crianças dormem e é só vocês dois na varanda, lembrando do começo? Vocês ainda falam sobre o que vem depois, como viajar quando os filhos forem para a faculdade? Os objetivos ainda se cruzam? Você ainda sorri quando vê seu parceiro imaginando um futuro ao seu lado?
Relacionamentos não se sustentam apenas em grandes gestos. Às vezes, você só quer um pouco de espaço — e tudo bem. Mas quando a rotina domina e a comunicação esfria, é fácil começar a se acomodar e esquecer de valorizar o outro. E é aí que surgem as rachaduras.
De tempos em tempos, é preciso reimaginar a vida a dois como um quebra-cabeça que muda de imagem — e que exige que vocês rearranjem tudo de novo. Reimaginar o relacionamento em momentos relevantes e com regularidade é uma forma de lembrar que ainda existe, sim, um grande plano que vocês podem sonhar juntos, dia após dia.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.