
O Chianti Classico é provavelmente o vinho tinto mais amado do mundo por consumidores, iniciantes ou degustadores da bebida. Há várias razões para isso, incluindo o preço acessível, o que o torna disponível em muitos países, além de uma história de mais de três séculos. Mas, talvez a melhor razão seja a qualidade dos vinhos da denominação.
O reconhecimento do nome forte Chianti Classico faz com que grande parte dele seja vendido simplesmente por esse motivo. Existem vários produtores famosos desse vinho que têm feito versões excelentes, e constroem uma reputação entre as opções de restaurantes e no varejo.
No entanto, há muitas complexidades nos vinhos Chianti Classico, com grande parte disso relacionada ao terroir local – onde as uvas são cultivadas. Se alguém provar rótulos suficientes dessa denominação, perceberá uma diferença nos estilos com base no local. Os vinhos do vilarejo italiano Panzano tendem a ser bastante encorpados e às vezes com taninos substanciais, o que significa que geralmente atingem seu pico vários anos (de sete a doze) após a safra.
As opções de Castellina in Chianti, mais ao sul e a oeste de Panzano, são conhecidas por um estilo de Chianti Classico mais refinado, com uma excelente acidez e uma elegância atraente. Os próprios produtores podem decidir sua abordagem na adega. Então, nem todo Chianti Classico de Castellina é suave, assim como nem todo exemplo de Panzano é potente. Mas, na realidade, as diferenças de uma comuna para outra existem, embora às vezes sejam sutis.
Há alguns anos, foi inaugurado um sistema que define os limites das comunas que compõem o Chianti Classico, na Itália. Conhecido como Unità Geografiche Aggiuntive (UGA), ou Unidades Geográficas Adicionais, esse é um plano estruturado para ajudar a delinear a geografia do Chianti Classico e como os vinhos variam de uma comuna para outra.
Atualmente, existem 11 UGAs, incluindo Greve, San Casciano e Lamole, junto com Panzano e Castellina in Chianti, como mencionado acima. Uma das maiores comunas da denominação é a Gaiole in Chianti, lar de algumas das mais famosas e bem-sucedidas propriedades de Chianti Classico, como Riecine, Castello di Ama, Castello di Meleto, Geografico e Badia a Coltibuono, esta última uma das propriedades mais tradicionais da denominação.
Conheça a seguir duas propriedades na região, que são de parentes da família Ricasoli: a Rocca di Montegrossi, gerida por Marco Ricasoli Firidolfi, e a Ricasoli 1141, conhecida como Castello di Brolio e adminsitrada por Francesco Ricasoli, primo de Montegrossi.
Rocca di Montegrossi
Na Rocca di Montegrossi, localizada no povoado de Monti, Marco Ricasoli Firidolfi montou um portfólio de vinhos, com o Chianti Classico Annata encantador e atraente, e o Gran Selezione, categoria que designa o melhor Chianti Classico da propriedade, e um dos exemplos mais notáveis de Vin Santo, o lendário vinho doce dessa região.
Chianti Classico 2022 – O vinho leva uma mistura de 93% Sangiovese, 2% Canaiolo e 5% Colorino. Com aroma de cereja morello, geleia de morango e um toque de alcaçuz, é meio encorpado, com boa acidez e taninos muito finos.
Ainda apresenta uma tipicidade de Chianti Classico e é um vinho adorável, encantador e que mostra a elegância e a bebibilidade jovem, além do excelente custo-benefício. Ótimo para beber nos próximos 5 a 8 anos.
Chianti Classico Gran Selezione San Marcellino 2019 – Uma mistura de 87% Sangiovese e 13% Pugnitello, esse vinho possui aromas de cereja morello, figo e um toque de uva passa.
É meio encorpado, com taninos agradáveis e frutas doces, com boa acidez. As notas de madeira são contidas e há uma persistência significativa. Rico e complexo, este vinho precisa de algum tempo para se acalmar e atinge seu pico entre 12 e 18 anos.
Vin Santo del Chianti Classico 2014 – Se tivesse que selecionar um exemplo de Vin Santo de Chianti Classico que consistentemente mostra a mais alta qualidade, o Rocca di Montegrossi seria ele.
O vinho possui âmbar médio-profundo, aromas encantadores de caramelo, mel, damasco e chá de laranja pekoe com uma delicada nota balsâmica. Meio encorpado, com boa acidez, essa bebida apresenta uma tipicidade excepcional, harmonia notável e um final longo. Este 2014 é um pouco mais leve que algumas safras, mas é muito bem estilizado. Atinge o pico entre 12 e 18.
Ricasoli 1141
Na Ricasoli 1141, Francesco Ricasoli é o dono da propriedade e dá continuidade ao trabalho de seus ancestrais, incluindo o Barão Bettino Ricasoli, creditado por criar a “receita” para o blend de Chianti Classico no século 19. Vale destacar que o 1141 no nome se refere ao fato de que o vinho é produzido nesta propriedade desde 1141, tornando-a uma das mais antigas produtoras contínuas de vinho do mundo.
Nos últimos 30 anos, Francesco Ricasoli reformulou seu portfólio de vinhos, e embora ainda haja ótimos exemplos de Chianti Classico annata e riserva (sob o rótulo Brolio), as estrelas de sua linha são as versões de Gran Selezione. São quatro, todas 100% Sangiovese, provenientes dos vinhedos da propriedade (esta é uma das maiores propriedades de Chianti Classico): três delas são vinhos de vinhedo único, e uma, rotulada como Castello di Brolio, é uma mistura dos melhores lotes de Sangiovese da propriedade.
Com esses vinhos, a propriedade Ricasoli 1141 se tornou uma das mais celebradas do Chianti Classico hoje. Esses quatro vinhos são exemplos excepcionais de como o Chianti Classico pode ser complexo e de longa duração. Confira as notas sobre alguns dos lançamentos mais recentes da Ricasoli 1141:
Chianti Classico Gran Selezione Castello di Brolio 2021 – 100% Sangiovese, misturado com os melhores lotes da propriedade e amadurecido por 22 meses em tonneaux de 500 litros; 30% novos, 70% de passagem.
Bonito granada brilhante; aromas de morango, cereja morello, crisântemo, groselha e papoula vermelha. O vinho é meio encorpado, com taninos doces, boa complexidade, excelente persistência e possui boa acidez. Harmonia encantadora e tipicidade notável. Um vinho clássico deste clássico produtor toscano que tem o pico em 10 e 15 anos.
Chianti Classico Gran Selezione Colledilà 2021 – 100% Sangiovese do vinhedo homônimo; amadurecido por 22 meses em barris de 500 litros; 30% novos, 70% de passagem. Esse vinho possui aromas de cereja morello, geleia de morango, frutas silvestres, ameixa e papoula vermelha. É meio encorpado e possui excelente concentração.
Frutas brilhantes e de tom alto; boa acidez, excelente complexidade e tipicidade. As notas de carvalho são bem integradas, enquanto os taninos meio encorpados são equilibrados. Vinho deslumbrante com uma maravilhosa sensação de lugar que fica ainda melhor entre 12 e 15 anos.
Chianti Classico Gran Selezione Roncicone 2021 – 100% Sangiovese do vinhedo homônimo; amadurecido por 22 meses em barris de 500 litros; 30% novos, 70% de passagem. Aromas de cereja morello, ameixa e orquídea preta. Meio encorpado, com excelente concentração. Taninos meio encorpados, boa acidez, excelente complexidade, harmonia encantadora. As notas de carvalho são um pouco evidentes, mas não esmagadoras. Tipicidade excelente. Pico em 12-15 anos.
Chianti Classico Gran Selezione Ceni Primo 2021 – Com pico entre doze e dezesseis anos, esse vinho é 100% Sangiovese do vinhedo homônimo; amadurecido por 22 meses em tonneaux de 500 litros; 30% novos, 70% de passagem.
Aromas de cereja morello, figo e toques de açúcar mascavo e caramelo. Meio encorpado, com boa acidez, persistência notável e taninos bem equilibrados, firmes, mas arredondados. Grande sensação de terroir nesse vinho, que ainda leva uma nota salgada no final, e uma excelente complexidade.
Vin Santo del Chianti Classico 2014 – O Vin Santo tem sido uma constante na Ricasoli em Brolio por décadas. Os melhores exemplos estão em excelente condição após 25-35 anos. Uma mistura de 90% Malvasia, 5% Sangiovese e 5% Merlot, o vinho foi envelhecido por nove anos em pequenos barris de carvalho conhecidos como caratelli. Laranja dourado profundo; aromas de caramelo, torrado e toques de marzipã e uísque escocês. Corpo cheio, com boa acidez, harmonia notável e tipicidade significativa. O final é um pouco curto, mas, fora isso, é muito impressionante. Pico em 12-15 anos.
* Tom Hyland é um escritor e colaborador da Forbes EUA, onde escreve sobre vinhos de todo o mundo.