A Caixa Econômica Federal teve lucro recorde em 2017, ajudado por um evento extraordinário, e executivos do banco estatal prometeram hoje (27) melhora do resultado operacional neste ano, enquanto a instituição tenta organicamente resolver suas necessidades de capital.
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A Caixa Econômica Federal enfraquecida por anos de uso político e denúncias de envolvimento em irregularidades anunciou que seu lucro líquido do ano somou R$ 12,5 bilhões, mais de três vezes o lucro de R$ 4,1 bilhões de 2016.
O resultado foi influenciado por uma reversão de provisão atuarial, após o banco ter imposto um teto para gasto com plano de saúde dos funcionários, o que teve impacto positivo líquido de R$ 4 bilhões.
No quarto trimestre, afetado positivamente pelo mesmo item, o lucro líquido somou R$ 6,27 bilhões, quase nove vezes o resultado de R$ 713 milhões em igual período de um ano antes.
O presidente-executivo da Caixa, Gilberto Occhi, afirmou que, a despeito do efeito positivo não recorrente, o banco teve melhora operacional em vários de seus indicadores, tendência que deve prosseguir em 2018, melhorando o resultado orgânico e evitando ter que recorrer ao governo federal. “Esperamos ter nesse ano um lucro recorrente próximo do mesmo nível do lucro cheio que tivemos em 2017”, disse Occhi a jornalistas.
De fato, o lucro recorrente do ano, de R$ 8,6 bilhões, foi 107% maior do que o de 2016 e também foi o maior já registrado. A rentabilidade recorrente sobre o patrimônio líquido, que mede como um banco remunera o capital do acionista, foi de 12,86% no fim de dezembro, quase o dobro dos 6,6% de 12 meses antes.
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Apesar disso, o índice ainda está bem abaixo dos níveis exibidos pelos rivais privados, ao redor de 20%, mas em linha com o do Banco do Brasil, também controlado pelo governo federal, de 12,5% no período.
Dentro do esforço para melhorar o resultado orgânico, a Caixa seguiu os principais rivais e desacelerou fortemente sua carteira de crédito, concentrou-se em linhas de menor risco, como a imobiliária, e ampliou as receitas com tarifas.
A carteira de crédito da Caixa fechou 2017 com retração de 0,4%, a R$ 706,3 bilhões, pressionada por segmentos como empréstimos para empresas (-23,1%) e para financiamento ao consumo (-8,6%). Para 2018, a previsão do banco é de estabilidade.
“As exigências de capital limitam nossa capacidade de expandir o crédito”, explicou o vice-presidente de finanças da Caixa, Arno Meyer.
O foco em linhas consideradas mais seguras fez a fatia do imobiliário no estoque total de crédito subir de 57,3% para 61,1% no ano passado. Além disso, o índice de inadimplência acima de 90 dias caiu de 2,88% para 2,25% no período.
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Isso ofuscou, em parte, o aumento de 18,4% na despesa com provisão para perdas com inadimplência no quarto trimestre, na comparação com igual período de 2016.
Como compensação da queda nas receitas com crédito, a Caixa viu seu faturamento com tarifas e serviços subir 9,4%, para R$ 6,5 bilhões.
O crescimento das despesas com pessoal desacelerou para 2,5% no trimestre, refletindo em parte os programas de demissão voluntária, que reduziram a folha de pagamento em quase 11 mil funcionários.
Como consequência do foco em linhas mais seguras, redução de custos e mais receitas com tarifas, copiando a prática recente dos rivais, as necessidades de capital da Caixa para operações de maior risco também diminuíram.
O índice de capital tem sido um dos pontos de atenção dos mercado em relação à Caixa, após vários anos de crescimento em ritmo acima do mercado. Com a vigência integral em 2019 do Basileia III, regras de capital mais exigentes, agências de classificação de risco têm apontado sobre a possibilidade de a Caixa ter que receber recursos do controlador para atender exigências mínimas de capital.
Para Occhi, isso não será necessário, já que o banco tinha índice de capital principal de 10,6% no fim de 2017, acima do piso de 9,5% exigido a partir do ano que vem.