O grupo italiano Enel espera que a recém-anunciada aquisição da distribuidora de energia brasileira Eletropaulo adicione R$ 2,7 bilhões à geração de caixa de sua subsidiária latino-americana Enel Américas em 2021, segundo apresentação divulgada pela companhia.
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O número representaria uma alta de mais de 150% frente ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Eletropaulo em 2017, de cerca de R$ 1,06 bilhão.
As projeções da Enel incluem uma expectativa de entre R$ 540 milhões e R$ 720 milhões em ganhos de eficiência, de R$ 360 milhões a R$ 540 milhões com crescimento da base de ativos e investimentos em qualidade e cerca de R$ 360 milhões com expansão no volume de energia distribuída.
A companhia vê, ainda, cerca de R$ 180 milhões em geração de caixa por meio de negócios ligados a tecnologia relacionados à subsidiária de inovação Enel X.
A Enel também prevê aumentar os investimentos da Eletropaulo para US$ 300 milhões ao ano entre 2019 e 2021, uma alta de 36% frente ao nível de aportes da companhia entre 2015 e 2017, que ficou em US$ 220 milhões, disse o presidente da companhia para o Brasil, Carlo Zorzoli, em coletiva de imprensa.
As projeções vêm após a Enel fechar, nesta semana, a compra do controle da Eletropaulo por R$ 5,55 bilhões, tornando-se com isso a maior empresa do setor elétrico do Brasil em faturamento.
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A Enel Américas controla os negócios da empresa na região.
OLHO NO FUTURO
A Enel está de olho nas oportunidades futuras de ganhos que surgirão conforme a tecnologia de carros elétricos avançar no Brasil e com um esperado crescimento do mercado livre de eletricidade, no qual grandes clientes podem negociar a compra de energia diretamente com fornecedores.
O governo brasileiro tem prometido realizar uma reforma no setor elétrico que abriria gradualmente o mercado livre para novos clientes, inclusive os residenciais, o que é previsto para o final da próxima década.
Nesse sentido, a Eletropaulo é vista como estratégica devido ao elevado poder de compra dos clientes e à concentração de indústrias e empresas em sua região de atuação.
“Em São Paulo, vemos essa área além da concessão de distribuição. É uma oportunidade para o desenvolvimento comercial fora do mercado regulado… É uma plataforma para desenvolver nosso negócio”, disse Zorzoli. “Queremos depois oferecer aos clientes livres ou que serão livres nos próximos anos a chance de comprar energia no mercado junto à Enel”, adicionou.
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A Enel opera distribuidoras no Rio de Janeiro, no Ceará e em Goiás, além de possuir ativos de transmissão e geração, com destaque para fontes renováveis.
PRÓXIMOS PASSOS
A Enel já ficou com cerca de 73% da Eletropaulo após um leilão na segunda-feira (4) no qual a companhia apresentou sua proposta aos acionistas da distribuidora.
Agora, os acionistas da Eletropaulo que ainda não venderam seus papéis terão até 4 de julho para decidir se querem negociá-los com a Enel pelo mesmo preço do leilão.
A oferta dos italianos prevê, ainda, o compromisso de realizar um aumento de capital de pelo menos R$ 1,5 bilhão na distribuidora de energia paulista.
Os recursos para a aquisição foram obtidos pela unidade brasileira da Enel por meio de um financiamento bancário de curto prazo organizado e garantido por sua controladora, a Enel Américas, no Chile.
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Segundo Zorzoli, a companhia está pronta para comprar até a totalidade da Eletropaulo se necessário, e o financiamento será feito em reais, para que a empresa não assuma risco cambial.
Analistas da Brasil Plural disseram em nota que a proposta da Enel representa uma relação de 2,7 vezes entre o valor da Eletropaulo e sua base de ativos, a mais elevada já paga por uma empresa de distribuição de energia no Brasil desde 2016, quando a corretora começou a cobrir o setor.
Apesar do elevado valor, Zorzoli disse que avalia que a transação envolveu um “preço justo” e dentro dos níveis previstos pela Enel.
“A companhia tem capacidade financeira para fazer essa aquisição sem problema nenhum, mas também tem a capacidade de seguir investindo, e não só no Brasil… Pode parecer um preço elevado, mas não compramos a companhia para ela ser como está hoje”, apontou.