Líderes europeus chegaram a um acordo sobre imigração nas primeiras horas de hoje (29), mas os compromissos feitos para fortalecer fronteiras foram vagos e a chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu que ainda há divergências.
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Após nove horas de debate, muitas vezes tenso, líderes da União Europeia concordaram em compartilhar de maneira voluntária os refugiados que chegarem ao bloco e em criar “centros controlados” dentro da UE para processar solicitações de asilo.
Eles também concordaram em dividir a responsabilidade por imigrantes resgatados no mar, uma demanda do novo primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte. “A Itália não está mais sozinha”, disse o premiê.
Conte, cujo governo inclui o anti-establishment Movimento 5 Estrelas e o partido de extrema-direita Liga, vinha se recusando a endossar um texto da cúpula tratando de segurança e comércio até outros líderes prometerem ajudar a Itália a lidar com os imigrantes recém-chegados pelo Mediterrâneo.
O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, cuja Liga defendeu a rejeição de imigrantes da África e a expulsão daqueles que já estão na Itália, saudou o acordo, dizendo que o país obteve 70% do que buscava. “Vamos ver os compromissos concretos”, disse Salvini em entrevista a uma rádio.
A cúpula destacou como o pico de imigração para a Europa em 2015 continua a abalar o bloco, apesar da queda na chegada de pessoas fugindo de conflitos e de crises econômicas no Oriente Médio e na África.
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A reunião ocorreu em um clima de crise política, já que Merkel está intensamente pressionada na Alemanha a adotar uma postura mais firme em relação à imigração.
A chanceler alemã, que conversou com repórteres às 5h da manhã (horário local), procurou dar um tom positivo ao resultado da cúpula, dizendo que é um bom sinal os líderes terem conseguido acertar um texto comum.
Mas Merkel reconheceu que o bloco ainda tem “muito trabalho a fazer para equilibrar as visões diferentes”.
O presidente da França, Emmanuel Macron, que criticou a Itália duramente por se recusar a permitir que um navio de resgate de imigrantes aportasse em seu território, disse que a cooperação europeia “saiu vencedora”.
Em um comunicado final de linguagem rebuscada, concebido para satisfazer as opiniões divergentes, os líderes concordaram em restringir a movimentação de imigrantes dentro do bloco, mas deixaram claro que praticamente todas as suas promessas serão cumpridas “de forma voluntária” pelos países-membros.
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Eles também concordaram em fortalecer sua fronteira externa e aumentar o financiamento para Turquia, Marrocos e outros países do norte da África evitarem a migração para a Europa.
Diplomatas descreveram uma cúpula tensa, durante a qual pequenos grupos de líderes se reuniram na tentativa desesperada de romper o impasse e evitar a humilhação de voltar para casa sem um acordo.
A União Social-Cristã da Baviera (CSU), parceira de coalizão de Merkel que ameaçou fechar a fronteira da Baviera aos imigrantes –algo que poderia desencadear o colapso de seu governo de três meses e da zona de livre circulação da UE– recebeu o acordo da cúpula com reservas.
Hans Michelbach, parlamentar da CSU, disse à emissora de televisão ARD que o pacto será “difícil de implantar” e que Merkel terá que discuti-lo com o líder de seu partido, Horst Seehofer, nos próximos dias.